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Com PL, PT, vice, ex-prefeito e deputado, eleição em Montes Claros tem 5 pré-candidatos

Disputa deve ser acirrada na maior cidade do Norte de Minas

Eleição em Montes Claros, maior cidade do Norte de Minas pode ser definida em segundo turno

Aos 89 anos de idade, sendo os oito últimos à frente da Prefeitura de Montes Claros, Humberto Souto (Cidadania) deixa a vida pública na maior cidade do Norte de Minas com o desafio de fazer o sucessor. Até o momento, as eleições no município contam com cinco pré-candidaturas lançadas, entre elas o do atual vice-prefeito, Guilherme Guimarães (União Brasil), que tentará transformar o prestígio político do atual chefe do Executivo em votos no dia 6 de outubro.

Também podem estar nas urnas (os nomes só serão oficializados após convenções partidárias que terminam em agosto), o deputado federal Paulo Guedes (PT), o superintendente da Santa Casa de Montes Claros, Maurício Sérgio Sousa e Silva (PL), o deputado federal Délio Pinheiro (PDT) e o ex-prefeito Ruy Muniz (PSB).

Com mais de 400 mil habitantes, Montes Claros é a quinta maior cidade de Minas Gerais — e uma das nove em que há possibilidade de definição em segundo turno. Nos últimos anos, à exceção do pleito de 2020, que sagrou à reeleição de Humberto Souto, todas as disputas foram decididas em segundo turno, o que deve acontecer, novamente, em 2024.

Vice busca transferência de votos

Nas eleições de 2020, Humberto Souto foi reeleito com 85,24% dos votos dos eleitores montes-clarenses, uma das maiores votações em todo o país. Com o atual prefeito fora da disputa, seu vice, Guilherme Guimarães (União Brasil) tenta vincular sua imagem à do chefe do Executivo municipal.

Nas redes sociais, o político tem se demonstrado assíduo, com registros de agenda cheia de inaugurações e participação em eventos públicos. O pré-candidato tem participado de agendas ao lado do prefeito, mas também tem representando o Executivo em diversos compromissos. Dentre os registros estão operações tapa-buraco nas ruas da cidade do Norte de Minas e lançamento de pacotes de obras, como a construção de escolas municipais. A reportagem tentou localizar Guimarães nos últimos dias, por meio de assessores e da própria prefeitura, mas ele não retornou aos contatos.

Vice-prefeito de Montes Claros, Guilherme Guimarães aposta em transferência de popularidade do atual prefeito

PT define por lançar pré-candidatura de Paulo Guedes

Após ter optado pelo nome da deputada estadual Leninha nas duas últimas disputas pela Prefeitura de Montes Claros, o Partido dos Trabalhadores (PT) decidiu lançar como pré-candidato pela legenda o deputado federal Paulo Guedes. Ele foi o quinto mais votado na cidade nas eleições de 2022, com 15.091 votos. O petista já disputou o Executivo municipal em 2012. Em uma eleição acirrada, em que 8 mil votos separaram Guedes do quarto colocado, o parlamentar foi derrotado por Ruy Muniz no segundo turno.

Para esta disputa, Paulo Guedes diz contar com apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que apesar de ter recebido 111 mil votos, foi derrotado por Bolsonaro por uma diferença de cinco mil votos.

Paulo Guedes (PT) foi definido como pré-candidato do Partido dos Trabalhadores em Montes Claros

“Lula tem um carinho especial com Montes Claros, com o Norte de Minas, com o Vale do Jequitinhonha. Essa região garantiu a vitória dele em Minas, foram mais de 400 mil votos a mais do que o Bolsonaro. Então, o Lula vai, com certeza, estar na nossa campanha, vai visitar nossa região e tenho certeza que ele vai lá fazer o lançamento da nossa pré-candidatura”, afirma.

Guedes diz contar com apoio de PV e PCdoB, partidos que compõem a Federação com o PT, além de Rede, Psol e Democracia Cristã (DC). O partido também aguarda retorno de outros possíveis aliados, como o MDB, legenda do atual presidente da Assembleia Legislativa, Tadeu Martins Leite, e o PSD, do presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco.

“Portanto vai ser uma frente bem ampla e ainda tem a possibilidade de outros partidos. Estamos conversando inclusive com outras pré-candidaturas e há possibilidade de ter novos apoios e boa surpresa daqui até no mês de julho”, acredita.

À Itatiaia, a deputada estadual Leninha, vice-presidente da Assembleia de Minas e que teve o nome cotado para disputar o cargo pela terceira vez seguida, diz que o apoio a Guedes está consolidado dentro do partido. “Fico muito feliz por ser lembrada de forma espontânea e ser muito querida na cidade de Montes Claros, onde eu nasci. Mas eu vou tentar levar todo esse carinho que os moradores têm por mim para o deputado Paulo Guedes por meio dos votos”, disse a petista.

PL quer surfar em popularidade de Bolsonaro e Nikolas

Cidade mais importante da região Norte de Minas, Montes Claros viveu uma situação inusitada nas eleições presidenciais de 2022. Se, historicamente, a cidade sempre conferiu votações expressivas ao PT, sobretudo nas eleições gerais, no último pleito, houve uma virada. No primeiro turno, Lula venceu Bolsonaro por 46,4% contra 44,9% — uma diferença de menos de quatro mil votos. No segundo turno, no entanto, o ex-presidente conseguiu angariar 51,25% do eleitorado de Montes Claros, deixando o petista com 48,75%. Outro dado que comprova a maior influência da direta e da extrema-direita no município é que o deputado federal Nikolas Ferreira, natural de Belo Horizonte, foi o segundo mais votado na cidade para deputado federal, com 22.645 votos, deixando para trás ex-prefeitos e outras lideranças ligadas à política local.

Maurício Sérgio, superintendente da Santa Casa de Montes Claros, conta com apoio de Nikolas Ferreira

É nesse cenário que o Partido Liberal chegou à decisão de lançar um candidato próprio e será representado pelo superintendente da Santa Casa de Misericórdia de Montes Claros, Maurício Sérgio. Sua candidatura foi referendada pelo presidente do PL mineiro, deputado Domingos Sávio — que disse à reportagem que a legenda está unida em torno dele — e o próprio Nikolas.

À Itatiaia, Maurício da Santa Casa, como é conhecido, disse ter sido sondado para disputar as eleições para deputado, mas que se vê em cargo Executivo.

“Vendo a situação da nossa cidade, vendo a situação do nosso país, vendo que era possível nós darmos uma contribuição para termos um país livre de fato, para termos melhores condições na nossa cidade, em especial na parte da saúde, na parte da cultura, do esporte, na parte do serviço social, entre outros, eu resolvi então conversar com o PL”, afirmou.

Maurício destaca sua gestão de mais de 10 anos à frente da instituição de saúde como ponto forte de sua pré-campanha.

“Nós temos aqui uma Santa Casa que tem a sua folha de pagamento rigorosamente em dia. O hospital, de quase 450 leitos, se encontra organizado e tem mais de 2.000 funcionários, além de 500 médicos no seu corpo clínico. É uma Santa Casa que atende 86 municípios e que atende 2 milhões de pessoas por ano. Quando eu cheguei aqui, nós atendíamos algo em torno de 1 milhão”, destaca.

O pré-candidato diz, por fim, que o PL não fez alianças no município e que sua candidatura deve ser voo solo.

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Deputado federal do PDT se coloca como terceira via

Com um deputado do PT apoiado por Lula de um lado e um empresário apoiado por Bolsonaro do outro, o deputado federal Délio Pinheiro (PDT) diz que quer fugir o ambiente de polarização e se define como uma “terceira via” na disputa pela Prefeitura de Montes Claros. O jornalista foi o candidato a deputado federal mais votado no município, com mais de 39 mil votos, mas ficou como suplente a uma vaga na Câmara dos Deputados. Ele tomou posse apenas no início deste mês, com a saída de Mário Heringer (PDT), que se licenciou do cargo.

Délio Pinheiro (PDT) tomou posse como deputado federal em abril de 2024

Pinheiro diz não acreditar que a eleição em Montes Claros será marcada por polarização entre as candidaturas de PT e PL, mas acredita em uma disputa acirrada.

“Eu tenho plena consciência que eu tive votos da direita e votos da esquerda. Tive votos, também, é claro, do PDT. Mas eu acredito muito que o que vai decidir essa eleição são as propostas, porque padrinho [político] não vai cuidar de Montes Claros”, afirma.

Por fim, o pedetista diz que não terá uma candidatura isolada, mas que conta com apoio de partidos como o Solidariedade — com o qual o PDT pretende lançar uma chapa de vereadores —, e que tenta buscar o apoio da Federação PSDB-Cidadania.

Após prisão, ex-prefeito volta à cena e se coloca como pré-candidato

O ex-prefeito de Montes Claros e ex-deputado estadual, Ruy Muniz (PSB), confirmou sua pré-candidatura na disputa pelo Executivo municipal. Hoje no Partido Socialista Brasileiro, ele foi eleito em 2012, em uma das disputas mais acirradas da história da cidade. Neste ano, ele enfrentará novamente o adversário daquele ano, o deputado federal Paulo Guedes.

Ex-prefeito Ruy Muniz ficou conhecido nacionalmente em 2016, ao ser preso pela PF um dia após sua esposa, ex-deputada Raquel Muniz, votar pelo impeachment de Dilma

Na ocasião, o petista venceu o primeiro turno com 50.902 votos, 758 a mais que Muniz, à época filiado ao PRB (hoje Republicanos). No segundo turno, no entanto, ele venceu a disputa com 56,15% dos votos válidos. Quatro anos mais tarde, em 2016, o ex-prefeito tentou a reeleição mas foi derrotado, no segundo turno, pelo atual prefeito Humberto Souto.

Muniz ganhou destaque nacional seis meses antes daquele eleição, quando foi preso pela Polícia Federal durante a “Operação Máscara da Sanidade II - Sabotadores da Saúde”. O caso aconteceu em 18 de abril de 2016, um dia após a sua esposa, a deputada federal Raquel Muniz (PSD-MG), ter elogiado a sua gestão como prefeito de Montes Claros, durante voto favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em sessão na Câmara dos Deputados.

“Meu voto é em homenagem às vítimas da BR-251. É para dizer que o Brasil tem jeito e o prefeito de Montes Claros mostra isso para todos nós com sua gestão”, disse a então parlamentar à época.

Segundo as investigações, Muniz e outros acusados tentaram inviabilizar de maneira fraudulenta o funcionamento de hospitais, inclusive alguns que atendem pessoas pelo SUS. Conforme a PF, o objetivo era favorecer o Hospital das Clínicas Mário Ribeiro da Silveira, que segundo a Polícia Federal, pertencia ao prefeito e seus familiares. O esquema teria movimentado R$ 2,27 bilhões entre 2012 e 2016. Apesar deste imbróglio, o PSB garante que Muniz está elegível e apto a concorrer a cadeira no Eecutivo municipal.


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Repórter de política na Rádio Itatiaia. Começou no rádio comunitário aos 14 anos. Graduou-se em jornalismo pela PUC Minas. No rádio, teve passagens pela Alvorada FM, BandNews FM e CBN, no Grupo Globo. No Grupo Bandeirantes, ocupou vários cargos até chegar às funções de âncora e coordenador de redação na BandNews FM BH. Na televisão, participava diariamente da TV Band Minas e do BandNews TV. Vencedor de 8 prêmios de jornalismo. Já foi eleito pelo Portal dos Jornalistas um dos 50 profissionais mais premiados do Brasil.