Garimpo ilegal e abusos crescem em territórios indígenas, diz relatório ‘Se eu for presidente, não terá garimpo em terras indígenas’, diz Lula à Itatiaia
Tanto a Chimet quanto a Marsam são investigadas pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF). A reportagem destaca que ambas “são certificadas e consideradas ‘aptas’ a vender nos Estados Unidos e na Europa — regiões que exigem maior transparência dos fornecedores de minérios”.
As empresas de tecnologia são obrigadas por lei a revelar seus fornecedores de metal à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (Securities and Exchange Commission – SEC). O ouro é usado em pequenas quantidades mas placas de circuito impresso usadas em eletrônicos de consumo.
Os documentos confirmam que todas elas fizeram transações com Chimet e Marsam em 2020 e 2021. As refinadoras estão entre as mais de 100 fornecedoras do material para as companhias. Esse relacionamento, entretanto, não é direto: as refinadoras vendem o ouro para bancos, que o revendem para diversos usos.
Segundo a acusação, a Chimet comprou US$ 385 milhões em ouro da CHM do Brasil, entre 2015 e 2020. A CHM, por sua vez, teria adquirido o minério ilegalmente de garimpeiros. A Chimet diz que, após tomar conhecimento da investigação, contratou uma auditoria e descobriu que a CHM não tinha autorização do Banco Central do Brasil (Bacen) para comprar e vender ouro.
Mineração ilegal
A CHM diz que adquiriu o metal da cooperativa Cooperouri, que tem permissão para minerar em uma área próxima à reserva indígena Kayapó. A PF encontrou evidências, entretanto, de que tanto a CHM quanto a Cooperouri compravam ouro também de garimpeiros clandestinos.
A mineração ilegal, com a destruição de terras da floresta amazônica e a poluição de rios, bem como a violência contra tribos indígenas aumentaram desde 2019, quando Jair Bolsonaro assumiu o governo federal. Dados do Instituto Escolhas apontam que o país produziu 84 toneladas de ouro ilegal nos primeiros dois anos do mandato — 23% a mais que nos dois anos anteriores.
Rodrigo Oliveira, assessor jurídico do Instituto Socioambiental (ISA), lembra que o Brasil não tem mecanismos confiáveis de rastreabilidade do ouro. “Por isso, há um risco grande de se certificar metal contaminado por violações de direitos humanos em terras indígenas da Amazônia.”
Uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (
O que dizem as empresas
A reportagem da Itatiaia entrou em contato com Apple, Amazon, Google e Microsoft para mais detalhes sobre o envolvimento das companhias com o garimpo ilegal de ouro. A Apple informou que seus padrões de fornecimento responsável são os melhores do setor e proíbem estritamente o uso de minerais extraídos ilegalmente.
Além disso, a empresa destaca que a Marsam foi removida de sua lista de fornecedores, mas não se posiciona sobre a relação comercial com a Chimet. “Se uma fundição ou refinadora não conseguir ou não quiser atender aos nossos padrões rígidos, nós o removeremos de nossa cadeia de fornecimento e, desde 2009, orientamos a remoção de mais de 150 fundições e refinarias.”
O Google informa que seus parceiros devem seguir o
A Amazon e a Microsoft, por sua vez, informaram que não vão comentar o assunto. Além disso, não confirmaram nem negaram o envolvimento com as refinadoras investigadas.