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Advogado de André de Pinho critica investigação e produção do laudo sobre morte de Lorenza: ‘denúncia é uma farsa’

Advogado do promotor André de Pinho critica investigação do Ministério Público e crava que Lorenza morreu por autointoxicação

Promotor André Luis Garcia de Pinho, 53, é julgado pela morte da mulher Lorenza Maria Silva de Pinho

O advogado do promotor André Luis Garcia de Pinho, 53, criticou a investigação do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a confecção do laudo de óbito pelo Instituto Médico Legal (IML) durante sustentação oral no julgamento no início da tarde desta quarta-feira (29). À frente da equipe de defesa, o advogado Pedro Henrique Pinto Saraiva alega que um laudo particular contratado indica que Lorenza Maria Silva de Pinho, 41, morreu por autointoxicação. O documento do IML determinou intoxicação exógena e ação contundente cervical como a combinação de fatores que a levou à morte.

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“A investigação não é séria, o laudo não é sério e os próprios peritos deixam para nós de forma clara e inequívoca que eles não têm ideia do que aconteceu e não se preocuparam em apurar o que aconteceu”, declarou. “O laudo desde o início foi inconclusivo. A própria discussão contida nele nos mostra desde o início que eles não estão afirmando que a morte foi por asfixia externa”, cita. Ainda de acordo com o advogado de André, a perícia particular contratada indicou que o óbito de Lorenza poderia ser justificado pelo “efeito toxicológico de abuso de álcool e medicação psicotrópica”.

Segundo sustentou Pinto Saraiva, Lorenza lutava contra a dependência química de morfina e estaria abusando de outras substâncias químicas – como medicações antidepressivos e bebida alcoólica. “As agendas de Lorenza demonstram que ela estava lutando contra a dependência química e estava em um processo de desmame. Ela estava parando de injetar morfina, mas, estava abusando de outras drogas. Ela não ia ao Mater Dei receber a morfina na veia, mas bebia e usava outros remédios. Nós acreditamos que esse abuso de drogas e álcool a levou à morte”, crava.

Laudo pericial é alvo de críticas

No decorrer de uma hora e trinta minutos, o advogado Pedro Henrique Pinto Saraiva criticou a produção do laudo do Instituto Médico Legal (IML) e declarou que uma reunião entre os peritos e a acusação aconteceu antes da finalização do documento que indicou a causa da morte de Lorenza.
“Nós conseguimos provar que essa reunião aconteceu na parte da tarde, horas antes do horário final de apresentação do laudo. Que reunião secreta foi esta? A situação é confusa”, declarou.

A defesa também contestou a afirmação do Ministério Público de que Lorenza Maria teria sido morta entre a noite de 1º de abril de 2021 e 4h da madrugada do dia seguinte, e, portanto, a tese de que ela estaria morta quando o promotor ligou para o hospital não seria verdadeira. “Vou considerar o início do exame de perícia, que aconteceu às 21h57 da noite de 2 de abril. No laudo, os peritos dizem que o estado do corpo é compatível com mais de 15 horas de morte. Então, pelo laudo, a morte teria acontecido a partir de 6h57. E o dr. Itamar (médico que atendeu a Lorenza) começou o atendimento às 6h40", cita.

“André foi vítima de uma investigação tendenciosa, arbitrária e que não buscou as provas dos autos. A investigação quis colocar um alvo nas costas do André", disparou o advogado.

Cronologia do Caso Lorenza

  • 2 de abril de 2021. Às 7h, o promotor André Luis Garcia de Pinho liga para a emergência do Hospital Mater Dei, à região Centro-Sul de Belo Horizonte, e solicita uma ambulância para a mulher Lorenza Maria Silva de Pinho, 41 anos. O médico plantonista registra morte por autointoxicação.

  • 3 de abril de 2021. Funeral de Lorenza é marcado. Em contrapartida, a hipótese de crime é aventada pela Polícia Civil; o corpo não chega a ser velado e é transferido para o Instituto Médico Legal (IML), onde é submetido a necropsia.

  • 4 de abril de 2021. André de Pinho é preso no apartamento da família, no bairro Buritis, na região Oeste de Belo Horizonte. Promotor se torna suspeito de assassinar a própria mulher. A investigação começa no dia seguinte, 5 de abril de 2021, em força-tarefa da Polícia Civil com o Ministério Público – em função do cargo ocupado por André.

  • 13 de abril de 2021. Corpo de Lorenza é liberado pela Justiça após conclusão do laudo do Instituto Médico Legal. Promotor André de Pinho solicita autorização para comparecer ao enterro da mulher em Barbacena, na região do Campo das Vertentes; pedido é negado.

  • 29 de abril de 2021. Laudo da perícia particular contratada por André de Pinho indica que a morte de Lorenza aconteceu por intoxicação a partir de uma combinação entre álcool e medicação antidepressiva.

  • 30 de abril de 2021. Ministério Público denuncia o promotor André Luis Garcia de Pinho, à época com 51 anos, pelo feminicídio da própria mulher Lorenza Maria Silva de Pinho, 41. Órgão concluiu em investigação conjunta com a Polícia Civil que ele agiu de forma premeditada para matá-la.

O que aconteceu com Lorenza?

Mãe dos cinco filhos do promotor André Luis Garcia de Pinho, Lorenza Maria Silva de Pinho foi morta aos 41 anos pelo próprio marido, conforme denúncia do Ministério Público. Ele a embebedou com meio litro de aguardente e administrou nela medicação antidepressiva em excesso.

Os esforços para assassiná-la com a combinação de medicação e bebida alcoólica não teriam sido suficientes, e, então, André entrou em luta corporal com a mulher e a asfixiou cobrindo boca e nariz. Esta é a hipótese do Ministério Público.

André de Pinho nega ter matado a mulher.

Repórter de política em Brasília. Na Itatiaia desde 2021, foi chefe de reportagem do portal e produziu série especial sobre alimentação escolar financiada pela Jeduca. Antes, repórter de Cidades em O Tempo. Formada em jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais.