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Promotor André de Pinho agiu com frieza ao ligar para pedir socorro para Lorenza: ‘tranquilidade de quem pede uma pizza’

Julgamento do promotor André de Pinho começou na manhã de quarta-feira (29); procurador designado pelo Ministério Público ressaltou frieza do acusado ao pedir socorro para Lorenza

Promotor André Luis Garcia de Pinho, 53, é julgado pela morte da mulher Lorenza nesta quarta-feira

O promotor André Luis Garcia de Pinho, 53, agiu com frieza ao ligar para o Hospital Mater Dei para pedir uma ambulância que socorreria a esposa Lorenza Maria Silva de Pinho, morta aos 41 anos na madrugada de 2 de abril de 2021. A acusação foi feita pelo procurador André Ubaldino durante o julgamento do promotor na manhã desta quarta-feira (29). Designado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para sustentar a denúncia do órgão contra Pinho, o procurador Ubaldino afirmou que o promotor pediu socorro com “a tranquilidade de quem liga para um delivery pedindo uma pizza”.

“Ele liga para o hospital Mater Dei, diz que sua mulher não oxigena mais e pede o envio de uma ambulância. Feito esse contato com a frieza de quem pede algo que necessita e não com a reação e o sentimento de quem pede socorro para a mulher que diz amar”, cita o procurador André Ubaldino. Ainda de acordo com ele, na ligação para o hospital, André de Pinho chega a pedir que equipamentos para intubação sejam enviados ao apartamento da família, no bairro Buritis, na região Oeste de Belo Horizonte, para o socorro da mulher. “Fato que causou curiosidade naqueles que o atenderam”, conclui Ubaldino.

O procurador ressalta também que André de Pinho planejou meticulosamente o assassinato da própria mulher. Ele cita que o pedido de socorro feito ao hospital era parte da logística preparada por André de Pinho para disfarçar a morte violenta de Lorenza. O velório aconteceria poucas horas depois de ser atestado o óbito, e o corpo da mulher seria cremado ainda àquele dia.

“O réu dirige-se ao hospital pedindo socorro para aquela quem diz amar como quem pede um sanduíche em um lugar qualquer, com a tranquilidade, com a calma, com a frieza de quem sabe o que fez e que sabe a inutilidade do socorro que tem apenas um propósito, dar vazão a um plano preparado para que a vítima fosse convertida em cinzas. E convertida em cinzas, hoje não estaríamos aqui”, pontua.

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Lorenza estava morta quando socorro chegou

Lorenza Maria Silva de Pinho, 41, estava morta quando a equipe médica do Hospital Mater Dei chegou ao apartamento da família no início da manhã de 2 de abril de 2021, segundo ponderou o procurador André Ubaldino. Conforme consta nos autos da investigação do Ministério Público, o motorista da ambulância e a técnica de enfermagem que acompanharam o socorro constataram sinais de que a morte acontecera muito antes da ligação feita pelo promotor André de Pinho para a unidade de saúde. O corpo de Lorenza, segundo os dois, apresentava rigidez cadavérica, cianose (coloração azulada da pele) e midríase fixa (indício de morte encefálica).

Ainda de acordo com a investigação, o médico que atendeu Lorenza naquela manhã, Itamar Tadeu Gonçalves Cardoso, conversou com colegas de profissão após atestar o óbito e garantiu que a mulher estava morta quando ele chegou ao apartamento. “Fui lá, na verdade, já estava morta, ontem deve ter tomado remédio para mais”, dizia uma das mensagens escritas por Itamar que, àquela hora, registrou morte por autointoxicação. Apesar do atestado de óbito, o médico do pronto-socorro do Mater Dei detalhou em conversas particulares ter achado as circunstâncias da morte “estranhas”.

Repórter de política em Brasília. Na Itatiaia desde 2021, foi chefe de reportagem do portal e produziu série especial sobre alimentação escolar financiada pela Jeduca. Antes, repórter de Cidades em O Tempo. Formada em jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais.