Tratamento e reaproveitamento de rejeitos apontam nova fase da mineração

Transformação do gerenciamento de resíduos gera oportunidades de negócio e reduz passivos ambientais; avanços em desaguamento e economia circular se destacam

Futuro da mineração passa por entender os rejeitos como parte do ciclo produtivo

O tratamento e o reaproveitamento de rejeitos vêm ganhando espaço como parte integrante das operações minerais e não mais apenas como um passivo ambiental. Segundo André Luis Pimenta de Faria, coordenador do CIT Senai ITR, essa mudança está associada a uma visão técnica e econômica mais madura, alinhada à economia circular e ao rigor no gerenciamento de riscos.

Viabilidade técnica e segurança geotécnica

A viabilidade de reprocessar rejeitos de barragens antigas depende principalmente da mineralogia, do teor residual e da segurança estrutural do reservatório. Faria explica que muitos rejeitos históricos apresentam granulometria fina e teores intermediários, que antes não justificavam recuperação, mas hoje se tornam aproveitáveis com tecnologias mais eficientes. Ele ressalta, contudo, que qualquer intervenção exige extremo cuidado geotécnico, já que a retirada de material pode alterar tensões internas e comprometer a estabilidade da barragem.

O especialista destaca que o reaproveitamento não se limita à recuperação de metais. Rejeitos estáveis e bem caracterizados podem ser aplicados na produção de cimento, cerâmica, blocos, argamassas, pavimentação e concretos não estruturais.

No entanto, há barreiras a vencer, como o enquadramento normativo, a comprovação de desempenho mecânico e a necessidade de assegurar que não ocorra lixiviação ou mobilização de contaminantes. “O reaproveitamento complementa a responsabilidade ambiental, não a substitui”, afirma o coordenador.

Desaguamento e empilhamento a seco

Na área de desaguamento, tecnologias como espessamento de alta densidade, filtração e empilhamento a seco já são consideradas maduras e vêm sendo adotadas em diversas operações brasileiras. A filtração é apontada como uma das alternativas mais consistentes para reduzir a dependência de barragens convencionais, embora envolva maior investimento, maior consumo energético e demanda por áreas adequadas de disposição. Faria defende o uso de soluções híbridas, combinando desaguamento parcial, backfill e filtragem, para adequar cada rota às condições específicas da mina.

Essas estratégias também impactam diretamente o plano de fechamento de mina. Ao tratar e reprocessar parte dos rejeitos, as empresas conseguem reduzir o volume em barragens, acelerar a reabilitação ambiental e diminuir os passivos de longo prazo. Em alguns casos, o reaproveitamento melhora o desempenho geotécnico das áreas, favorecendo coberturas e drenagens mais seguras.

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Desafios técnicos e integração com novas operações

Entre os desafios técnicos, Faria cita a variabilidade dos rejeitos, a presença de contaminantes e a necessidade de compatibilizar qualquer intervenção com a estabilidade das estruturas existentes. Ele observa que novas minas têm vantagem por permitir, desde o planejamento inicial, a integração entre desaguamento, empilhamento, reaproveitamento e economia circular, o que reduz custos e amplia as possibilidades de uso industrial.

Para o coordenador do CIT Senai ITR, o futuro da mineração passa por entender os rejeitos como parte do ciclo produtivo. “Quando tratamos o rejeito com rigor técnico, caracterizando e avaliando riscos, conseguimos transformar parte desse material em oportunidade, avançando em segurança e sustentabilidade”, conclui.

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Amanda Alves é graduada, especialista e mestre em artes visuais pela UEMG e atua como consultora na área. Atualmente, cursa Jornalismo e escreve sobre Cultura e Indústria no portal da Itatiaia. Apaixonada por cultura pop, fotografia e cinema, Amanda é mãe do Joaquim.

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