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Salário é prioridade, e estresse derruba: o que querem os jovens no trabalho

Levantamento do Sistema Indústria, realizado pela Nexus, ouviu 1.958 pessoas de 14 a 29 anos e mostrou que 41% veem remuneração como fator principal. Pressão no ambiente (28%) e falta de crescimento (18%) também pesam na decisão de ficar ou sair

Para o jovem brasileiro, o que define uma boa vaga de emprego é, antes de tudo, o salário

Esqueça o clichê de que a nova geração busca apenas propósito e flexibilidade. Para o jovem brasileiro, o que define uma boa vaga de emprego é, antes de tudo, o salário. A remuneração é o principal motivador na hora de escolher uma carreira, apontada como prioridade máxima por 41% dos entrevistados.

A constatação é da pesquisa “Jovens e o futuro da indústria brasileira”, divulgada pelo Sistema Indústria (CNI, SESI, SENAI e IEL). O estudo ouviu 3.505 pessoas, sendo 1.958 jovens de 14 a 29 anos e 1.547 adultos de 30 a 59 anos, em todas as 27 Unidades da Federação.

Depois do salário, os fatores mais valorizados pelos jovens são a perspectiva de crescimento na carreira (21%) e os benefícios complementares (20%). A estabilidade no emprego aparece logo em seguida, com 19%.

O que faz o jovem pedir demissão?

Se o salário alto atrai, o salário baixo é o principal fator de repulsão. A pesquisa revela que 50% dos jovens mudariam de emprego por causa de um “salário baixo”.

O segundo motivo mais citado, porém, acende um alerta sobre as condições de trabalho: 28% pediriam demissão devido à “pressão/estresse no ambiente de trabalho”. Esse número é idêntico ao registrado entre os adultos (30-59 anos), que também citam o estresse como o segundo principal motivo para sair (28%).

Completam a lista de motivos para mudança entre os jovens a falta de perspectiva de crescimento (18%) e a oferta de benefícios ruins ou insuficientes (16%).

Flexibilidade

Embora a remuneração seja a prioridade, os jovens demonstram forte interesse em modelos de trabalho alternativos. A maioria concorda que o trabalho híbrido (66%) e o trabalho remoto (62%) são melhores que o modelo puramente presencial.

No entanto, a pesquisa revela um pragmatismo claro: a flexibilidade não pode custar dinheiro.

  • 66% dos jovens aceitariam trabalhar mais horas para receber um salário maior
  • 55% discordam de receber um salário menor para ter horários mais flexíveis
  • 57% discordam de receber um salário menor para ter mais flexibilidade no local de trabalho (híbrido/remoto)
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O ‘apagão’ de competências e o fantasma da IA

Questionados sobre o principal obstáculo para conseguir um bom emprego, a resposta é categórica para ambos os grupos: a “falta de formação suficiente, acadêmica ou técnica/profissional”. Este é o maior entrave para 43% dos jovens e 50% dos adultos. A falta de experiência prática aparece em segundo lugar, com 14% para ambos.

Esse “apagão” de habilidades é percebido em um momento de profunda transformação tecnológica. Os jovens reconhecem a importância das competências digitais: 68% as consideram “imprescindíveis” (20%) ou “importantes” (48%) para sua área de trabalho ideal.

A Inteligência Artificial (IA) também gera sentimentos dúbios:

  • 75% concordam que a IA contribui para a produtividade
  • 75% também concordam que a IA pode “roubar” vagas de emprego no futuro próximo

Interesse em estudar existe, mas falta acesso

Apesar da percepção de falta de formação, o desejo de se qualificar é alto. A pesquisa mostra que 88% dos jovens se interessariam por realizar um curso técnico, graduação profissionalizante ou microcertificação se a oportunidade fosse gratuita.

O problema, no entanto, é o acesso à informação. A maioria dos jovens (57%) afirma que não conhece ou não sabe onde teria acesso gratuito a esses cursos de qualificação. Entre os adultos, o desconhecimento é de 50%.

Amanda Alves é graduada, especialista e mestre em artes visuais pela UEMG e atua como consultora na área. Atualmente, cursa Jornalismo e escreve sobre Cultura e Indústria no portal da Itatiaia. Apaixonada por cultura pop, fotografia e cinema, Amanda é mãe do Joaquim.