Esqueça o clichê de que a nova geração busca apenas propósito e flexibilidade. Para o jovem brasileiro, o que define uma boa
A constatação é da pesquisa “Jovens e o futuro da indústria brasileira”, divulgada pelo Sistema Indústria (CNI, SESI, SENAI e IEL). O estudo ouviu 3.505 pessoas, sendo 1.958 jovens de 14 a 29 anos e 1.547 adultos de 30 a 59 anos, em todas as 27 Unidades da Federação.
Depois do salário, os fatores mais valorizados pelos jovens são a perspectiva de crescimento na carreira (21%) e os benefícios complementares (20%). A estabilidade no emprego aparece logo em seguida, com 19%.
O que faz o jovem pedir demissão?
Se o salário alto atrai, o salário baixo é o principal fator de repulsão. A pesquisa revela que 50% dos jovens mudariam de emprego por causa de um “salário baixo”.
O segundo motivo mais citado, porém, acende um alerta sobre as condições de trabalho: 28% pediriam demissão devido à “pressão/estresse no ambiente de trabalho”. Esse número é idêntico ao registrado entre os adultos (30-59 anos), que também citam o estresse como o segundo principal motivo para sair (28%).
Completam a lista de motivos para mudança entre os jovens a falta de perspectiva de crescimento (18%) e a oferta de benefícios ruins ou insuficientes (16%).
Flexibilidade
Embora a remuneração seja a prioridade, os jovens demonstram forte interesse em modelos de trabalho alternativos. A maioria concorda que o trabalho híbrido (66%) e o trabalho remoto (62%) são melhores que o modelo puramente presencial.
No entanto, a pesquisa revela um pragmatismo claro: a flexibilidade não pode custar dinheiro.
- 66% dos jovens aceitariam trabalhar mais horas para receber um salário maior
- 55% discordam de receber um salário menor para ter horários mais flexíveis
- 57% discordam de receber um salário menor para ter mais flexibilidade no local de trabalho (híbrido/remoto)
O ‘apagão’ de competências e o fantasma da IA
Questionados sobre o principal obstáculo para conseguir um bom emprego, a resposta é categórica para ambos os grupos: a “falta de formação suficiente, acadêmica ou técnica/profissional”. Este é o maior entrave para 43% dos jovens e 50% dos adultos. A falta de experiência prática aparece em segundo lugar, com 14% para ambos.
Esse “apagão” de habilidades é percebido em um momento de profunda transformação tecnológica. Os jovens reconhecem a importância das competências digitais: 68% as consideram “imprescindíveis” (20%) ou “importantes” (48%) para sua área de trabalho ideal.
A Inteligência Artificial (IA) também gera sentimentos dúbios:
- 75% concordam que a IA contribui para a produtividade
- 75% também concordam que a IA pode “roubar” vagas de emprego no futuro próximo
Interesse em estudar existe, mas falta acesso
Apesar da percepção de falta de formação, o desejo de se qualificar é alto. A pesquisa mostra que 88% dos jovens se interessariam por realizar um curso técnico, graduação profissionalizante ou microcertificação se a oportunidade fosse gratuita.
O problema, no entanto, é o acesso à informação. A maioria dos jovens (57%) afirma que não conhece ou não sabe onde teria acesso gratuito a esses cursos de qualificação. Entre os adultos, o desconhecimento é de 50%.