O oxigênio financeiro para a
Na prática, o volume real de recursos disponíveis para a indústria de transformação encolheu 40%, sendo hoje apenas 60% do que era 12 anos atrás. Os dados, baseados no Sistema de Informações de Créditos (SCR) do Banco Central, mostram que essa queda não é uma percepção, mas um fato estrutural.
A grande migração: bancos agora preferem o consumidor
O estudo da CNI aponta uma das principais razões para a indústria perder fôlego: uma mudança profunda no destino do crédito no país. O sistema financeiro redirecionou seu foco das empresas (pessoa jurídica) para os consumidores (pessoa física) ao longo dos últimos 12 anos.
Nesse período, a fatia destinada às pessoas físicas saltou de 45% para 63% do total de operações de crédito no Brasil. Enquanto isso, a participação das empresas (PJ) despencou de 55% para apenas 37%.
Em termos reais (descontada a inflação), o volume de
Crédito para investimento é o que mais some
Para o pequeno e médio industrial, que precisa de fôlego para comprar maquinário ou expandir a planta, a notícia é ainda pior. A “seca” é mais intensa justamente nas linhas de crédito de prazos mais longos, essenciais para o investimento.
A análise da CNI detalha o encolhimento por prazo:
- Crédito de longo prazo (vencimento superior a 5 anos): o volume disponível hoje é apenas 36% do observado em 2012.
- Crédito de médio prazo (entre 3 e 5 anos): recuou para 45% do volume original.
- Crédito de curto prazo (vencimento em até 3 anos): caiu para 67% do saldo real de 2012.
Isso significa que o perfil do crédito industrial está cada vez mais focado no curto prazo, usado para a gestão do dia a dia, e menos no investimento estratégico. A fatia do curto prazo sobre o total de crédito para a indústria avançou de 73% para 82% em 12 anos.
Setor industrial foi o único a perder crédito entre empresas
A análise por atividade econômica revela um dado alarmante: a queda do crédito para pessoa jurídica no Brasil foi puxada exclusivamente pelo setor industrial. Enquanto o volume total para PJ ficou quase estagnado (queda de 4% em termos reais), os principais segmentos industriais registraram tombos expressivos:
- Indústria de transformação: -40%
- Indústria extrativa: -38%
- Construção: -29%
Na contramão, outros setores viram o crédito para pessoa jurídica expandir no mesmo período. O volume para a Agropecuária cresceu 38%, Serviços financeiros 49% e Administração pública 118%.
Financiar o consumo sem financiar a produção
O relatório da CNI conclui que essa dinâmica cria um descompasso perigoso para a economia, que afeta diretamente o industrial. O sistema financeiro estimula fortemente o consumo das famílias (com alta no crédito PF), mas não oferece os meios (crédito PJ) para a indústria nacional atender a essa nova demanda.
O resultado, segundo a entidade, é a dificuldade da indústria em expandir a produção e realizar investimentos. Sem conseguir atender a demanda crescente, o mercado reage com aumento de preços e um crescimento das importações, que chegam para suprir o consumo que a indústria local não pôde financiar.
Para o pequeno e médio empresário, isso significa perder competitividade, lutando por um crédito de curto prazo mais escasso para gerir o caixa, enquanto vê o concorrente estrangeiro tomar o mercado que ele não pôde acessar por falta de financiamento para investir.