Você faz ideia de quantas empresas mineiras foram fundadas há mais de 70 anos? Poderia, sem ter que pesquisar, responder quantos imóveis construídos na metade do século passado, continuam de pé em Belo Horizonte? E quantos bares seus pais e após frequentaram 70 anos atrás estão abertos com o mesmo nome? E cinemas? Você saberia qual era a principal TV de Minas no ano de 1952? E se ela ainda existe? E os bancos? Os jornais? No salto do analógico para o digital, você consegue compreender o poder inabalável do radinho a pilha?
Meus caros, nesse 20 de janeiro não poderia deixar de dividir com as senhoras e os senhores um orgulho que não cabe no peito. Quando cheguei, a emissora já era uma fortaleza, havia superado gigantes e logo obtive a resposta para a grande pergunta que passeava por meu cérebro nos oito anos que cumprira antes em outra emissora:
qual o segredo de tanto sucesso, especialmente em momentos de grande repercussão. Simples. Todos os profissionais tinham liberdade para se expressar, “quem estivesse ocupando o microfone era o presidente da rádio”, e qualquer boa ideia era sempre ouvida, considerada e, se viável financeiramente, aprovada.
A Itatiaia ousa como nenhum outro veículo de porte regional, seja numa megacobertura de um desastre na Gameleira ou um clássico no Mineirão, seja conferência em Belém ou no Azerbaijão. E não é de hoje. Em 1986, com menos de um ano de casa, sugeri uma viagem a Cuba para sondar como estava a situação do país antes da reaproximação diplomática com o Brasil e Emanuel Carneiro topou.
Quando regressei, final de julho, ia começar a campanha política, a cidade era só sujeira, com cara de político em poste, viaduto, ponte, pra todo lado... Que tal a gente fazer uma campanha “Não vote em quem suja a sua cidade” e dar o nome dos candidatos que mais abusam todo dia? Chefe aprovou. Duas semanas depois um locutor da casa, me cercou na porta da rádio e, como percebia o presidente vindo, perguntou: “O senhor já falou para esse menino que sou da casa e ele não pode ficar falando mal de mim no ar?” Emanuel continuou caminhando não antes de dar a solução: “Para de sujar”. A cidade nunca mais foi a mesma.
Ainda havia outra do Emanuel naquele ano: ”Meu filho, vamos ter dia 6 de outubro a instalação da Assembleia Nacional Constituinte em Brasília. Quero que você vá, leve a Aparecida Ferreira, ajude no que puder porque quero deixá-la durante os dois anos de trabalho”. Ela foi, brilho, fez história e a Itatiaia ficou ainda mais impossível.
São apenas algumas, de mil recordações... Hoje, que os colegas do digital fazem o portal atingir números espetaculares, hoje já transmitimos direto da Flórida ao vivo com áudio e imagem, nem faço ideia de onde isso vai chegar. Mas, me dá um orgulho danado de fazer parte e saúdo os dois aniversariantes do dia: São Sebastião, guerreiro e santo, e Januário, que nunca teve dúvidas: “A gente trabalha, o dedo de Deus empurra”. Há 73 anos.