Ciro Dias Reis | COP 30 tenta retomar entusiasmo gerado pelo Acordo de Paris em 2015

Exatos dez anos atrás, o sentimento predominante no ecossistema que orbitava a COP 21, em Paris, era de grande otimismo

COP 30 tenta retomar entusiasmo gerado pelo Acordo de Paris em 2015

Exatos dez anos atrás, o sentimento predominante no ecossistema que orbitava a COP 21, em Paris, era de grande otimismo. A cidade recebia 195 delegações de todo o mundo, além de um inédito contingente de pesos-pesados do ambiente corporativo global que, pela primeira vez, demonstrava preocupações mais efetivas em relação às questões climáticas -- engrossando assim o coro até pouco antes restrito a cientistas, especialistas e grupos específicos da sociedade.

Um evento organizado pelo jornal americano The New York Times durante a COP 21 atraiu, além do então secretário de estado americano John Kerry e outras autoridades, número tão expressivo de empresários e altos executivos para discutir o clima que a piada era imperdível: se acontecesse algum imprevisto naquele recinto, o PIB global sofreria um forte impacto.

Eventos paralelos pela cidade, em especial os que habitaram por dez dias o majestoso edifício do Grand Palais, completavam o ambiente de quase celebração.

Não era à toa

Naquele mundo com menos conflitos e disputas comerciais ou geopolíticas do que neste 2025, havia uma vontade política no ar que podia ser sentida por qualquer visitante. Além disso, um caminho consistente havia sido percorrido desde a COP 20, realizada um ano antes em Lima. Na capital do Peru, o principal objetivo do encontro havia sido o de abrir caminho para que os países pudessem avançar na construção de um novo acordo climático global a ser concluído exatamente na COP 21 em Paris.

As conversas em Lima aconteceram cerca de um mês depois do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança do Clima (IPCC) finalizar o seu detalhado 5º relatório de avaliação, segundo o qual o aquecimento do planeta naquele longínquo 2014 já era uma realidade preocupante e exigia ações concretas e urgentes para ser enfrentado. A COP20 também aconteceu pouco tempo depois de uma das maiores mobilizações populares da história pelo meio ambiente, ocorrida durante a Cúpula do Clima de Nova York, em setembro daquele ano. Na ocasião, centenas de milhares de pessoas marcharam sobre a cidade e manifestações similares ocorreram em vários países, da Austrália ao Brasil.

Tudo isso explica por que a COP 21 surgia como oportunidade ideal para gerar uma inédita convergência capaz de criar um grande acordo global de compromissos

compartilhados. A busca por um consenso foi tão vigorosa em Paris que os delegados se dispuseram a estender o encontro em 30 horas além dos onze dias originais previstos para o encontro. O objetivo era costurar um documento que pudesse canalizar aquele alinhamento favorável de fatores e vontade política.

Voilà

E assim surgiu o Acordo de Paris.

Mundialmente comemorado como um passo à frente, concreto e mensurável para limitar o aquecimento do planeta o Acordo foi visto como um turning point. O combinado: a partir de então as 195 nações presentes trabalhariam para evitar que o aquecimento do planeta atingisse 2 graus centígrados acima dos níveis pré-industriais (temperaturas registradas entre 1850 e 1900) e dedicar esforços para se atingir uma meta ainda ousada: limitar aquele avanço a no máximo 1,5 grau.

André Corrêa do Lago, presidente da atual COP 30, tem destacado ao longo deste 2025 que a diferença dos eventos anteriores é que esta destina-se a ser “uma COP de implementação”. E que mais do que consenso ela deve buscar “um exercício muito mais de cooperação, de apoio de uns a outros”.

A efeméride dos dez anos do Acordo de Paris acaba levando a um compreensível exercício de análises, reflexões e balanços acerca da distância entre os termos do documento assinado na capital francesa e os resultados práticos desde então. Corrêa do Lago dá a direção do que se pretende alcançar ao final do encontro de 2025: não apenas avançar nos compromissos de um documento formal mas também dar novo impulso a medidas já discutidas e assimiladas visando acelerar mudanças e conquistas concretas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ao final Cúpula de Líderes, evento que na semana passada antecedeu a conferência do clima propriamente dita, que o mundo está distante de atingir os objetivos traçados dez anos atrás. “Fazer da COP 30 a COP da verdade implica reconhecer a ciência e os inegáveis progressos. Significa, entretanto, admitir também uma verdade desagradável: o mundo ainda está distante de atingir o objetivo do Acordo de Paris”, disse ele. Na abertura oficial da COP 30 quatro dias depois, Lula definiu: “Estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada”.

As intenções se renovam, e não há por que criticá-las. Transferir o vigor das palavras para a ação é uma tarefa meritória, porém árdua. Em 2015, ao final da COP 21 em Paris o então presidente francês François Hollande também expressava a sensação de que ali se virava uma página da história. “O acordo definitivo para o planeta está aqui e agora”.

Os anos passaram e uma outra realidade, menos animadora, acabou se impondo. Os Estados Unidos, segundo maior emissor de gases de efeito estufa, estão fora do Acordo de Paris e a Índia, terceiro naquela mesma lista, tem posições dúbias em relação ao enfrentamento das mudanças climáticas. Até o início do encontro em Belém apenas 109 países haviam entregue suas Nationally Determined Contribution (NDCs), que são as revisões periódicas dos compromissos de cada signatário do documento de 2015. Mais: 2024 foi o primeiro ano completo em que a temperatura média global já superou aquele 1,5°C que deveria servir de fronteira para o aquecimento do planeta.

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Ciro é atualmente board member da International Communications Consultancy Organization (ICCO) sediada em Londres; membro do Copenhaguen Institute for Futures Studies, na Dinamarca; membro do Crisis Communications Think Tank da Universidade da Georgia (EUA). Atua ainda como coordenador do PROI Latam Squad, grupo de agências de comunicação presente em sete países da América Latina.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.

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