Exatos dez anos atrás, o sentimento predominante no ecossistema que orbitava a COP 21, em Paris, era de grande otimismo. A cidade recebia 195 delegações de todo o mundo, além de um inédito contingente de pesos-pesados do ambiente corporativo global que, pela primeira vez, demonstrava preocupações mais efetivas em relação às questões climáticas -- engrossando assim o coro até pouco antes restrito a cientistas, especialistas e grupos específicos da sociedade.
Um evento organizado pelo jornal americano The New York Times durante a COP 21 atraiu, além do então secretário de estado americano John Kerry e outras autoridades, número tão expressivo de empresários e altos executivos para discutir o clima que a piada era imperdível: se acontecesse algum imprevisto naquele recinto, o PIB global sofreria um forte impacto.
Eventos paralelos pela cidade, em especial os que habitaram por dez dias o majestoso edifício do Grand Palais, completavam o ambiente de quase celebração.
Não era à toa
Naquele mundo com menos conflitos e disputas comerciais ou geopolíticas do que neste 2025, havia uma vontade política no ar que podia ser sentida por qualquer visitante. Além disso, um caminho consistente havia sido percorrido desde a COP 20, realizada um ano antes em Lima. Na capital do Peru, o principal objetivo do encontro havia sido o de abrir caminho para que os países pudessem avançar na construção de um novo acordo climático global a ser concluído exatamente na COP 21 em Paris.
As conversas em Lima aconteceram cerca de um mês depois do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança do Clima (IPCC) finalizar o seu detalhado 5º relatório de avaliação, segundo o qual o aquecimento do planeta naquele longínquo 2014 já era uma realidade preocupante e exigia ações concretas e urgentes para ser enfrentado. A COP20 também aconteceu pouco tempo depois de uma das maiores mobilizações populares da história pelo meio ambiente, ocorrida durante a Cúpula do Clima de Nova York, em setembro daquele ano. Na ocasião, centenas de milhares de pessoas marcharam sobre a cidade e manifestações similares ocorreram em vários países, da Austrália ao Brasil.
Tudo isso explica por que a COP 21 surgia como oportunidade ideal para gerar uma inédita convergência capaz de criar um grande acordo global de compromissos
compartilhados. A busca por um consenso foi tão vigorosa em Paris que os delegados se dispuseram a estender o encontro em 30 horas além dos onze dias originais previstos para o encontro. O objetivo era costurar um documento que pudesse canalizar aquele alinhamento favorável de fatores e vontade política.
Voilà
E assim surgiu o Acordo de Paris.
Mundialmente comemorado como um passo à frente, concreto e mensurável para limitar o aquecimento do planeta o Acordo foi visto como um turning point. O combinado: a partir de então as 195 nações presentes trabalhariam para evitar que o aquecimento do planeta atingisse 2 graus centígrados acima dos níveis pré-industriais (temperaturas registradas entre 1850 e 1900) e dedicar esforços para se atingir uma meta ainda ousada: limitar aquele avanço a no máximo 1,5 grau.
André Corrêa do Lago, presidente da atual COP 30, tem destacado ao longo deste 2025 que a diferença dos eventos anteriores é que esta destina-se a ser “uma COP de implementação”. E que mais do que consenso ela deve buscar “um exercício muito mais de cooperação, de apoio de uns a outros”.
A efeméride dos dez anos do Acordo de Paris acaba levando a um compreensível exercício de análises, reflexões e balanços acerca da distância entre os termos do documento assinado na capital francesa e os resultados práticos desde então. Corrêa do Lago dá a direção do que se pretende alcançar ao final do encontro de 2025: não apenas avançar nos compromissos de um documento formal mas também dar novo impulso a medidas já discutidas e assimiladas visando acelerar mudanças e conquistas concretas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ao final Cúpula de Líderes, evento que na semana passada antecedeu a conferência do clima propriamente dita, que o mundo está distante de atingir os objetivos traçados dez anos atrás. “Fazer da COP 30 a COP da verdade implica reconhecer a ciência e os inegáveis progressos. Significa, entretanto, admitir também uma verdade desagradável: o mundo ainda está distante de atingir o objetivo do Acordo de Paris”, disse ele. Na abertura oficial da COP 30 quatro dias depois, Lula definiu: “Estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada”.
As intenções se renovam, e não há por que criticá-las. Transferir o vigor das palavras para a ação é uma tarefa meritória, porém árdua. Em 2015, ao final da COP 21 em Paris o então presidente francês François Hollande também expressava a sensação de que ali se virava uma página da história. “O acordo definitivo para o planeta está aqui e agora”.
Os anos passaram e uma outra realidade, menos animadora, acabou se impondo. Os Estados Unidos, segundo maior emissor de gases de efeito estufa, estão fora do Acordo de Paris e a Índia, terceiro naquela mesma lista, tem posições dúbias em relação ao enfrentamento das mudanças climáticas. Até o início do encontro em Belém apenas 109 países haviam entregue suas Nationally Determined Contribution (NDCs), que são as revisões periódicas dos compromissos de cada signatário do documento de 2015. Mais: 2024 foi o primeiro ano completo em que a temperatura média global já superou aquele 1,5°C que deveria servir de fronteira para o aquecimento do planeta.