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8 de março | Brasileira transforma Fusca 1972 em carro elétrico

Depois de gostar da tecnologia dos veículos elétricos, engenheira decidiu transformar seu próprio automóvel para incluir o conceito

Para ter um carro elétrico, ela mesma fez a transformação

Foi amor à primeira vista: assim que a engenheira eletricista Aline Gonçalves Santos viu um carro elétrico pela primeira vez, se apaixonou pela tecnologia. Afinal, é um automóvel que tem mais espaço livre no capô e no porta-malas, não emite componentes tóxicos e ainda pode ser carregado na tomada.

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Ela lembra que foi uma sensação incrível. “O problema é que era supercaro”, conta. “Aí surgiu a ideia de transformar.” Então, em 2018, ela comprou um Fusca 1972 com motor a combustão de quatro cilindros. “Eu o adquiri com o único objetivo de transformá-lo em elétrico.”

Curiosa, Aline já quis atuar em diferentes profissões, mas um professor do ensino médio foi quem despertou seu interesse pela engenharia. “Quando eu era criança, queria empreender. Depois, quis fazer medicina, mas tinha muito mais facilidade com exatas”, lembra.

Ela só foi pensar na carreira, entretanto, quando ouviu a opinião do professor. “Eu realmente sempre gostei de resolver problemas e sempre fui muito curiosa. Um professor de química do ensino médio me disse que eu deveria fazer engenharia. Aí refleti e finalmente decidi por essa carreira.”

Já que resolver problemas era uma de suas especialidades, Aline passou a pesquisar sobre como fazer a transformação do Fusca 1972. “O processo foi longo, de muita pesquisa para identificar os componentes do motor do carro elétrico, e teve a participação de profissionais de diferentes áreas. Vários amigos que tinham oficina mecânica me ajudaram desde o início”, conta.

Para começar, todos os componentes relacionados ao motor a combustão do veículo foram retirados. “No lugar deles, instalamos o kit de transformação que desenvolvemos: estudamos e conectamos vários dispositivos elétricos e eletrônicos até conseguir fazer o Fusca sair da inércia.”

O objetivo era usar o máximo possível de recursos nacionais no desenvolvimento e na transformação do veículo, já que ela queria provar que aquela era uma alternativa viável à importação. Até que chegou à bateria: Aline diz que esse foi o maior desafio.

Como queria o carro andando logo, ela optou por importar componente. Para garantir a segurança do projeto, a engenheira escolheu a versão de lítio mais cara (LiFePO4) . “Na época, custou cerca de R$ 33 mil.” Isso tornou o projeto mais caro do que o previsto: o investimento total ficou em cerca de R$ 100 mil. “O preço da bateria foi o maior susto”, diz.

Em relação à bateria, há duas opções. Uma dela é a de 100Ah, que é instalada no capô traseiro do carro, e a outra tem 160Ah e é acomodada tanto no capô dianteiro quanto no traseiro. Enquanto a autonomia chega a 50 quilômetros com a bateria de 100Ah, a de 160Ah permite percorrer até 60 quilômetros. Ambas podem ser carregadas em qualquer tomada comum de 20A — mesmo as que usam fontes renováveis, como a solar — e levam 8 horas para a carga completa.

No Brasil, é possível encontrar modelos elétricos com preços a partir de pouco mais de R$ 140 mil. Nenhum deles, porém, tem o charme e a personalidade do Fusca 1972 de Aline. Um kit elétrico criado pela startup de Aline, a VEB, permite substituir sistemas de combustão. Com preço de R$ 45 mil, é composto por motor elétrico, 15 células de bateria de lítio e um display que informa ao condutor algumas condições do sistema, como a temperatura da bateria.

Outro passo importante é a regularização do veículo. No momento, Aline busca registrar o Fusca 1972 como carro elétrico no Departamento Estadual de Trânsito (Detran), mas tem enfrentado uma lista requisitos e grande burocracia.

Energia solar

Aline é fundadora da SolarMaxxi, que atua no segmento de energia solar fotovoltaica. “Não queria só vender módulos solares. Meu objetivo era fazer a diferença no mercado”, lembra. A empresa busca maior eficiência energética e menor consumo de combustíveis fósseis.

O estudo para a transformação do Fusca 1972 em carro elétrico começou em 2017. O automóvel já pronto foi lançado em 7 de agosto de 2018. “Neste momento, o projeto está sendo aperfeiçoado. O carro ainda não passou por manutenção corretiva ou preventiva.”

Além de ter motor elétrico, o Fusca 1972 de Aline inclui outras inovações. “O carro tem seu próprio app, o VEB. Esse aplicativo se transforma no painel do carro e o motorista pode usá-lo no celular enquanto dirige.” O app vai permitir, ainda, que o automóvel seja compartilhado.

O investimento necessário para a transformação do veículo foi obtido com a Fundação de Amparo à Pesquisa e à Inovação do Espírito Santo (Fapes). “Ainda bem que são recursos não reembolsáveis”, brinca Aline.

E para quem pensa que Aline teve a ideia e passou o projeto para ser executado por outros profissionais está enganado. Ela conta que participou de tudo. “Apertei parafuso, desenhei diagrama elétrico, fiz de tudo”, destaca.

Em ótimo estado de conservação, com todas as características originais, e com motor totalmente silencioso, o carro chama a atenção por onde passa. “O Fusca em si já chama bastante atenção. Como ele não faz barulho, atrai mais curiosidade ainda.”

Atualmente, o carro não está em uso porque passa pela segunda etapa de desenvolvimento — a que vai instalar a bateria de 160Ah. “A previsão é economizar em torno de 60% em relação ao custo da gasolina”, prevê Aline.

Além de atuar no desenvolvimento contínuo do veículo (assim como no aplicativo e no site dedicados a ele), Aline já pensa nas próximas etapas. Ela conta que, em breve, deve ter uma empresa que transforma carros. “Já estou criando o modelo de negócios”, antecipa.

No decorrer desta semana, entre 6 e 10 de março, o Itatiaia Tecnologia contou histórias de mulheres brasileiras que atuam de forma inovadora no segmento de tecnologia. Acompanhe todas elas: a segunda-feira (6) teve a criadora da cadela-guia robô Lysa, a terça-feira (7) apresentou a investigadora de golpistas, a quarta feira (8) trouxe a pesquisadora que ajudou a criar a computação em nuvem e a quinta-feira (9) revelou a pesquisa da psiquiatra que demonstrou que as notificações de apps viciam.