Imagine um estúdio de cinema com paredes de led. Foi nesse cenário, instalado em Berlim, na Alemanha, que a série 1899, da
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A chegada da série trouxe diversas novidades. Uma delas certamente foi na tecnologia de produção cinematográfica. Reed Hastings, CEO da Netflix, diz que esse vai ser o novo paradigma no setor. “A tecnologia mais avançada de produção está aqui [no Studio Babelsberg, em Berlim]. É realmente inovador e incrível.”
Chamado de Dark Bay, o espaço tem 55 metros de largura e sete metros de altura. Espaço conhecido como “volume”, 385 m² têm 1.470 painéis de
Placas gráficas da Epic e da Nvidia aumentaram a taxa de quadros entre 25% e 40%. Em parceria com a Arri, a equipe desenvolveu software e firmware para transferir os dados da câmera para o sistema com o menor atraso possível, de forma a obter o rastreamento da lente em tempo real.
Isso é complementado por uma plataforma giratória, a primeira da indústria: acionada por um motor, ela gira 360 graus e permite filmar de diferentes ângulos. Pode-se, então, montar o cenário físico e fazer que o conteúdo digital na parede de led corresponda a ele. “Isso significa ter vários cenários físicos e digitais no palco em um único dia de filmagem e girar conforme necessário para gravar vários ângulos e coberturas”, diz Philipp Klausing, produtor da série.
É possível, por exemplo, filmar uma conversa por cima do ombro, depois girar o cenário 30 graus e captar uma cena no deck, para em seguida girar o cenário 100 graus e gravar o reverso da conversa. Na sequência, pode alterar a
Como se pode controlar o clima, a hora do dia e tudo o mais, nem é preciso que façam parte da mesma sequência. A solução sem precedentes seria útil para diversas situações que ocorrem em “volumes” de todo o mundo. Só era preciso construí-la, mas ninguém na equipe havia feito isso antes.
Pandemia trouxe tecnologia
Inicialmente,
Baran bo Odar, criador da obra, diz que está acostumado a usar locações e sons reais. “Com a chegada da pandemia, tivemos de discutir como fazer. Rapidamente percebemos que não seria possível em um futuro próximo”, lembra.
A Netflix, então, organizou uma filmagem de teste em um palco virtual no Shepperton Studios, perto de Londres. “É como se você estivesse acostumado a dirigir um carro e, de repente, tivesse de pilotar um avião. É uma grande, grande diferença”, diz Odar sobre a experiência.
O fundo de 1899 foi filmado no local e no oceano para renderização em Unreal e reprodução no set. “Você pega a pós-produção e a transforma em pré-produção”, explica. “Tudo tem de ser decidido antes, você tem de criar, construir, então está tudo pronto para filmar na câmera. Ter [o local] já no set é um grande benefício. E aí na edição você já tem tudo isso.”
Segundo ele, é preciso escanear as paisagens e transformá-las em modelos 3D para poder caminhar por elas. “Se você filma o cenário em 360 graus e o projeta nos painéis de led, quando mover a câmera, ele vai continuar em duas dimensões”, comenta. “Em 3D, a paisagem se move conosco.”
Jantje Friese, produtora da série, diz que a experiência vai ajudar os cineastas a pensarem nas histórias de forma diferente. “Depois que você começa a trabalhar com isso, passa a escrever as cenas de maneira diferente, já que pode explorar coisas que talvez não consiga em um cenário natural”, pontua.
Vale lembrar que The Mandalorian, da Disney, foi o primeiro conteúdo a ser filmado em grande parte de forma digital. Mesmo assim, metade de suas cenas foram filmadas fora do “volume” — e isso era impossível para 1899.
A Dark Bay está aberta para outras produções e pelo menos mais uma obra já usou o espaço. A considerar os benefícios obtidos com essa tecnologia, é possível que, em breve, esse não seja o único “volume” giratório disponível na indústria cinematográfica.