É comum que atletas acumulem milhares ou até milhões de seguidores nas redes sociais. Se, por um lado, a aproximação com os fãs é positiva, por outro a presença nessas plataformas pode ter efeitos negativos sobre esses profissionais.
Em entrevista ao Olhar Digital, o psicólogo esportivo Matheus Vasconcelos diz que as redes sociais podem afetar o desempenho dos atletas, mesmo indiretamente. “Elas podem ser fatores de distração e tirar o foco do atleta daquilo que está sob seu controle”, indica.
Segundo ele, a exposição pode, ainda, torná-los mais vulneráveis a manifestações violentas sobre sua pessoa ou atuação. “Isso pode aumentar o nível de pressão e estresse sobre o atleta. Assim, sua capacidade de avaliar o próprio desempenho e regular suas emoções é afetada.”
Leandro Calixto Zago, que já treinou equipes do Atlético (MG), do Joinville (SC) e do Botafogo (SP), diz que vê influência negativa das redes sociais em jogadores de futebol. “Em momentos de sucesso, ele é alimentado com mensagens que podem afetar seu ego e levá-lo a perder o foco do essencial”, destaca. “Já nos negativos, as plataformas aumentam a pressão e a carga emocional sobre os atletas.”
Para Zago, em momentos de concentração, o ideal seria os atletas se manterem afastados das redes sociais para evitar que a pressão online influencie seu desempenho. Isso inclui, por exemplo, as próximas semanas em que os jogadores da Seleção Brasileira de Futebol terão de se concentrar para as partidas da Copa do Mundo do Catar.
Falta de acompanhamento
Profissionais de psicologia esportiva apontam que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) carece de um departamento voltado ao suporte mental. Vasconcelos lembra que o futebol masculino brasileiro não recebe apoio de especialistas. “A falta desse departamento está na contramão do que tem sido apontado pelas ciências do esporte em todo o mundo.”
Segundo ele, jogadores de futebol têm mais riscos de desenvolver transtornos psicológicos ao longo da vida do que a população em geral. “A ausência de cuidados básicos de saúde mental ao longo de um ciclo de Copa do Mundo impossibilita o melhor acompanhamento para aperfeiçoamento de habilidades psicológicas como confiança, concentração, regulação emocional, autoconhecimento, comunicação e tomada de decisão.”
Zago concorda. “A preparação mental de um jogador de futebol precisa fazer parte de sua formação como atleta, pois o prepara para situações adversas, como a pressão em situações estressantes de jogo”, explica.
Ele diz que os clubes formadores precisam ter um departamento ou um profissional da área de psicologia para receber certificação da CBF. No futebol profissional, entretanto, ainda há resistência. “Enxergo dois grandes motivos para isso: a barreira cultural e a falta de profissionais especializados nessa área.”