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O caso aconteceu na segunda-feira (8), na Estação Pampulha. A moto impediu o embarque de Liliane Arouca do Carmo, de 53 anos, que utiliza cadeira de rodas. A passageira, indignada com a situação, fotografou a cena.
Em entrevista à Itatiaia, o coordenador de Operação de Transportes, Giangiulio Cocco, esclareceu o caso. Segundo ele, o condutor transportava a motocicleta ao fim do expediente.
“Ele fazia um deslocamento da casa até o ponto de rendição do motorista anterior, no bairro Jaqueline. Na última viagem do dia, quando levava o ônibus para a garagem, aproveitava para dar carona para a moto”, explicou.
A irregularidade foi descoberta após um “trabalho de detetive”, como descreveu Cocco, com a análise de imagens das câmeras de monitoramento. “Identificamos o ônibus, vimos a moto no box do cadeirante e aplicamos todas as infrações cabíveis. Além disso, flagramos outras irregularidades no mesmo veículo, como circular à noite sem o letreiro de ‘garagem’, o que confundiu a passageira que tentou embarcar”, detalhou.
Segundo o coordenador, o operador do transporte coletivo disse que é a “beiça”, ou seja, a última viagem dele do dia. “Logo solicitamos a Transfácil e ao SetraBH, que tomem as devidas medidas”, finalizou.
A Itatiaia entrou em contato com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) que informou que o funcionário foi chamado para prestar esclarecimentos e, posteriormente, foi penalizado e suspenso. Atualmente está passando por processo de reciclagem. O motorista também está sendo orientado a respeito das normas do transporte coletivo.
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Riscos e normas
Segundo o coordenador da Sumob, transportar motocicletas dentro de ônibus é uma prática extremamente perigosa. Além do risco de queda e de acidentes, uma moto tem combustível, que pode gerar explosão.
“E é preciso frisar: aquele espaço é exclusivo para cadeirantes e também para pessoas com deficiência visual acompanhadas de cão-guia, conforme normas da ABNT”, reforçou.
O regulamento do transporte coletivo proíbe objetos volumosos ou perigosos. Estão liberados apenas itens de uso pessoal, desde que transportados com bom senso, sem causar riscos ou desconforto aos demais passageiros.
O que pode e o que não pode
Segundo a Sumob, transportar motocicletas ou objetos volumosos é proibido por representar riscos e ocupar áreas destinadas a pessoas com deficiência.
Produtos perigosos, como inflamáveis ou cortantes, também são vetados nos coletivos. Já itens de uso pessoal podem ser transportados, desde que com bom senso.
- Compras de supermercado: são permitidas, mas devem ser levadas no colo ou aos pés do passageiro. “Evitar ocupar assentos, especialmente em horários de pico, quando outras pessoas podem precisar se sentar”, explicou Cocco.
- Malas: também são aceitas, mesmo as grandes. “Não há cobrança de passagem extra por objetos. A regra é evitar desconforto ou risco aos demais usuários”, disse.
- Patinetes e skates: podem ser transportados, principalmente se forem dobráveis, desde que não atrapalhem os demais passageiros.
- Bicicletas: só são permitidas em veículos do Move, em horários fora de pico e nos ônibus com bicicletário. As dobráveis podem ser levadas normalmente, respeitando os horários.
“O fundamental é o bom senso. O ônibus é um espaço coletivo e deve ser usado de forma que todos possam conviver com segurança e conforto”, destacou Cocco.
O que disse a passageira?
“Fiquei tão assustada que não consegui pegar o número da linha e do ônibus. Essa da moto foi o fim da picada”, contou Liliane, que mora no bairro Nova Suíça, na Região Oeste da capital.
A aposentada foi diagnosticada com esclerose múltipla há 20 anos e disse nunca ter presenciado situação semelhante. “Se fosse carrinho de picolé, mas uma moto? Fiquei em choque”, desabafou.
O que é esclerose múltipla
A esclerose múltipla é uma doença autoimune, crônica e neurodegenerativa que afeta cerca de 40 mil brasileiros, segundo a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (Abem). Os sintomas incluem fadiga, problemas de visão, dificuldade de equilíbrio, alterações de fala e fraqueza geral.
Lotação nos coletivos
Cocco também esclareceu dúvidas comuns dos usuários. Sobre a superlotação, ele destacou que cabe ao passageiro decidir se embarca ou não, ainda que o ônibus esteja cheio. “O motorista deve sempre parar no ponto. A capacidade máxima é definida por norma da ABNT: cinco passageiros em pé por metro quadrado. Só em casos específicos, como ônibus executivos, o embarque é limitado”, disse.
Ele reconheceu, no entanto, que a superlotação é um dos principais problemas do sistema e reforçou que as empresas devem disponibilizar mais veículos para atender à demanda.
Como denunciar
A Sumob reforça que denúncias de irregularidades são fundamentais para a fiscalização. “A denúncia é nossa ferramenta de trabalho. Sem ela, não conseguiríamos chegar a situações como essa”, afirmou o coordenador.
Os registros podem ser feitos pelo telefone 156, pelo WhatsApp da Sumob (31) 98472-5715, pelo aplicativo PBH APP ou pelo Portal de Serviços da prefeitura.