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Justiça decreta prisão preventiva de policial penal suspeito de matar mulher em BH

Homem encontra-se internado sob escolta policial após ter tentado tirar a própria vida

Priscilla Mundim e Rodrigo Caldas

A Justiça decretou a prisão preventiva de Rodrigo Caldas Fonseca, policial penal de 45 anos que confessou ter matado sua companheira, Priscila Azevedo Mundim, na madrugada desse sábado (16), no bairro Padre Eustáquio, região Noroeste de Belo Horizonte. Após cometer o crime, o homem tentou tirar a própria vida.

De acordo com a juíza Juliana Beretta Kirche Ferreira Pinto, a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva do agressor se dá por “envolver o fato a prática de atos extremos de violência em decorrência do sexo feminino da vítima, fatal”.

Ela apontou, ainda, que os relatos do Auto de Prisão em Flagrante Delito “evidenciam com clareza a brutalidade das lesões corporais que foram, em tese, as causas da morte da vítima, por estrangulamento e golpes contundentes no tórax, rosto, pernas e braços, além da presença de fortes indícios do agressor ter agido com animus necandi (intenção de matar), especificamente em virtude da condição da vítima ser do sexo feminino, revelando-se a violência decorrente do gênero”.

Rodrigo Caldas não participou da audiência de custódia, por sua situação de saúde, já que se encontra internado no Hospital João XXIII após tentar tirar a própria vida. Ele foi representado por um defensor público. Porém, a juíza entendeu que sua ausência não gerou prejuízo. Ela apontou, ainda, que o autor será ouvido assim que tiver condições de saúde para tal.

Polícia precisou ‘parar’ agressor

De acordo com a Polícia Militar (PM), a ocorrência começou quando o tio do policial contou que recebeu uma ligação do sobrinho confessando o crime e dizendo que também iria se matar. Assustado, ele acionou imediatamente a corporação.

A decisão judicial apontou, ainda, alguns detalhes da prisão do autor. Consta que ao chegarem no apartamento onde ocorreu o crime, os policiais precisaram arrombar a porta, que estava trancada.

Lá dentro, encontraram Rodrigo armado de uma faca e a mulher caída no chão de um quarto. Os agentes informaram que ao ver os policiais, o homem correu para o mesmo cômodo onde a vítima estava e passou a desferir facadas contra si próprio. Em seguida, avançou contra a equipe da PM com duas facas em punho.

Neste momento, os policiais utilizaram a pistola AIN (arma de incapacitação neuromuscular, semelhante a uma “arma de choque”) para pararem o agressor mantendo sua integridade física.

Prisão em flagrante e prisão preventiva

Enquanto a prisão em flagrante é voltada a impedir a fuga do criminoso, a continuidade da prática criminosa ou a garantia da ordem pública, e não necessita de ordem judicial, durando 24h, até a audiência de custódia, a prisão preventiva visa evitar que o réu cometa novos crimes, atrapalhe a investigação ou fuja e tem tempo de duração maior. Neste caso, possui prazo prescricional de 20 anos.

Rodrigo Caldas confessou o crime

De acordo com a Polícia Militar (PM), um tio do policial contou que recebeu uma ligação do sobrinho confessando o crime e dizendo que também iria se matar. Assustado, ele acionou imediatamente a corporação, que se dirigiu ao local.

Casal teria consumido álcool antes do ocorrido

Leonardo Alves de Sousa, de 48 anos, cunhado da vítima, contou à Itatiaia que o casal consumiu bebida alcoólica horas antes do ocorrido. “Como eles estavam tomando cerveja, eu mandei mensagem perguntando se eles haviam chegado em casa, mas ninguém respondeu”, disse.

O familiar lamentou a morte. “Infelizmente não tenho nem muito o que falar, não acho as palavras, mas eu quero que a justiça seja feita nesse caso”, disse.

Priscilla foi morta por asfixia mecânica e traumatismo craniano

Familiares revelaram à Itatiaia que o laudo apontou que Priscilla foi morta por asfixia mecânica por constrição e traumatismo craniano contuso, ou seja, ele a enforcava e batia a cabeça dela ao mesmo tempo.

Priscila se queixava de ‘possessividade’ de Rodrigo

A irmã de Priscilla Mundim, Fabíola Mundim, relatou que sentiu um ‘ciúme extremo’ por parte de Rodrigo Caldas.

Priscilla e Rodrigo foram à casa de Fabíola e do marido, Leonardo, na sexta-feira (15), um dia antes do crime. Lá ambos relataram que o policial penal demonstrou muito ciúmes da namorada. Em um certo momento, Fabíola contou que conversou com a irmã sobre a possessividade do policial.

“Na sexta-feira eles estavam lá em casa e eu senti um ciúme extremo da parte dele. E ela virou para mim e falou assim: ‘Fa, vem aqui comigo’. Fui no quarto da minha filha com ela e ela falou: ‘Eu não tô aguentando. Ele tá me sufocando, ele tá muito possessivo’. Eu falei: ‘Sai fora, você não precisa disso’.”, relatou.

Foi nessa hora que as duas se despediram e o casal foi embora. O marido de Fabíola, Leonardo Alves de Sousa, contou à imprensa que a esposa havia dito para que Priscilla dormisse na casa da mãe naquela noite em vez de ir à casa do namorado.

Fabíola relatou que estava muito preocupada e que no sábado pela manhã começou a ligar para a irmã, que não atendia. Ela e o marido, então, decidiram ir ao local. Rodrigo não atendia ao casal na porta e, quando atendeu a uma ligação de Leonardo, disse que havia ‘feito m****'.

Afastado, de férias ou trabalhando normalmente?

A Secretaria de Estado de Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp) informou, em nota, que o policial penal Rodrigo Caldas, de 45 anos, estava afastado da corporação por motivos psiquiátricos desde 2024. Porém, não era isso que ele dizia para a família de Priscilla.

Segundo Leonardo, cunhado de Priscilla, Rodrigo dizia que estava trabalhando normalmente e que estaria envolvido, inclusive, no caso do gari morto em Belo Horizonte, que teve grande repercussão.

Fontes da polícia penal também disseram à Itatiaia que Rodrigo Caldas trabalhava normalmente nos dias que antecederam o crime, contrariando a versão da Sejusp.

Além disso, Rodrigo dava outra versão para os familiares de Priscilla: que estava de férias-prêmio, um benefício dado a servidores públicos.

A Itatiaia entrou em contato com a Sejusp sobre as versões e aguarda retorno.

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Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.