O grafiteiro Wagner Eustáquio, conhecido como ‘Wagner O Caras’, homenageou o gari Laudemir de Souza Fernandes — assassinado pelo empresário Renê da Silva Júnior — com uma obra de arte feita no muro do local onde o trabalhador foi morto. A pintura foi baseada em um desenho de Duke, chargista da Itatiaia (veja a charge abaixo).
O artista explica que a arte é uma maneira de lutar por justiça e manter viva a história de Laudemir. “A arte não precisa falar, ela transmite a tristeza, a alegria. A ideia é que todos que passem pelo local clamem por justiça”, inicia.
“A arte tem esse poder de cobrar a Justiça. Então, eu espero que as pessoas que passarem por ali lembrem dele [Laudemir] e cobrem por isso, a partir das redes sociais ou de outros meios, mas que pensem na justiça”, continua.
Inspiração
Já a inspiração em Duke vem de anos. Segundo Wagner, o chargista sempre foi uma referência, desde o início de sua carreira, quando tinha 15 anos: “Eu acompanho o trabalho dele há muito tempo. Cheguei a colecionar charges que ele fazia.”
O artista, que também é professor, afirma que seu trabalho hoje é fruto do que ele viveu na infância. “A minha inspiração veio a partir de vários fatores: a periferia onde eu morava, a carência de cultura, a solidão, o bullying. Então, o que eu tinha ali ao meu favor era um caderno e um lápis, então eu fui desenvolvendo”, relatou.
Duke
Também à Itatiaia, Duke falou mais sobre a obra. “A charge não é apenas uma homenagem ao gari, mas é também um desabafo em função de ser um fato tão trágico. Então, ela tem ao mesmo tempo uma tristeza, uma homenagem e uma indignação”, relatou.
“Fazer essa obra e o reconhecimento dela é muito importante, mas no fundo eu preferiria não ter que fazê-la, preferia que o fato não tivesse tivesse acontecido para eu não ter que ter feito essa charge, mas infelizmente o fato aconteceu”, continuou.
O artista também mencionou a reprodução de sua arte pelas mãos do grafiteiro Wagner. “Eu me senti obviamente reconhecido quando o grafiteiro resolveu reproduzir o trabalho no muro e também pela repercussão na internet”, disse.
“Recebi muitas mensagens, muita gente compartilhando, muita curtida, muitos comentários, mas tem esses dois lados, né? Eu me senti muito honrado e feliz pelo reconhecimento do trabalho, mas ao mesmo tempo triste porque eu precisei retratar um fato de tamanho tristeza e indignação”, concluiu.
Morte de Laudemir
Segundo o dono da empresa terceirizada que presta serviço à Prefeitura de Belo Horizonte, o suspeito ameaçou a motorista do caminhão de coleta, apontando um revólver para o rosto dela antes de disparar contra o gari. Ele afirmou que a rua era larga e que a motorista havia encostado o caminhão para permitir a passagem do carro do atirador, um BYD de grande porte.
Mesmo assim, o homem teria feito a ameaça de matar todos caso o veículo fosse encostado no dele. Os garis tentaram convencer o agressor a não atirar, mas, após o carro passar, ele teria descido, atirado e atingido o abdômen de Laudemir. O trabalhador foi levado para o Hospital Santa Rita, mas morreu pouco depois.
Renê, suspeito de cometer o crime, foi detido