A família da advogada Carolina da Cunha Pereira França Magalhães, de 40 anos, morta em novembro de 2022, ao ser jogada do 8º andar um prédio no bairro São Bento, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, em outubro de 2022, trava luta pela condenação de Raul Rodrigues Costa Lages, também advogado, de 45 anos,
O homem,
Familiares e amigos de Carolina estiveram no Fórum Lafayette, no Barro Preto, região Centro-Sul de BH, onde o acusado foi ouvido. Com cartazes e camisas pedindo Justiça, demonstraram indignação com o fato de Raul estar em liberdade e mostraram temor em relação a outras possíveis vítimas.
“Ele certamente deveria estar preso. Achamos que a perda do flagrante foi um erro muito grave por parte da Polícia Militar. Nos causa incômodo e medo uma pessoa capaz de fazer o que ele fez com minha irmã estar à solta. Ele é visto pelas ruas de Belo Horizonte, um frequentador assíduo da vida noturna de BH.
Por meio da conta que nós criamos no Instagram para o caso, recebemos relatos quase que semanalmente de pessoas que o veem em casas noturnas. Tá aí vivendo a vida dele, às vezes visto com outras mulheres, talvez não sabedoras de qual é a companhia delas, correndo um risco também”, alertou Demian Magalhães, advogado e irmão de Carolina.
A mãe da vítima, Maria Ignez França, demonstrou esperança de que justiça seja feita por Carolina.
“Nós temos muita esperança e certeza de que essa justiça será feita. Ela está sendo feita. O processo está repleto de provas da autoria do crime e o que nós desejamos não é vingança, de forma alguma. Nós desejamos a verdade e que haja punição para que a violência, o feminicídio, em razão da mulher ser mulher, que haja um basta. São muitas mulheres sofrendo. (...) As provas dizem mais do que o que ele disse. As provas demonstram que efetivamente ele cometeu feminicídio contra a Carolina”, afirmou França.
Irmão questionada atuação da Polícia Militar
Demian Magalhães reforçou que a Polícia Militar deveria ter levado Raul preso em flagrante no dia do crime, mas que os agentes não consultaram as câmeras de segurança do prédio, que provariam que o homem estava no local do crime.
Uma investigação particular, feita pela família, foi quem conseguiu reativar o caso a partir destas imagens. Segundo Demian, houve ordem expressa de superiores para que os policiais que atenderam a ocorrência não conduzirem Raul.
“O que mexeu muito conosco foi o fato das câmeras não terem sido verificadas na noite do crime. O Raul não deveria ter saído caminhando dali. E nos causou muito incômodo, também, o depoimento do policial militar que esteve presente na cena do crime e foi prestado nesse ano, em maio, de que ele teria recebido ordens superiores para não conduzir o Raul para a delegacia”, apontou o advogado.
“Ficamos perplexos com esse depoimento. A gente espera que o governo do estado investigue de quem partiu essa ordem. Porque o policial disse não se lembrar. Imagino eu que ele esteja com receio de retaliação dentro da cooperação”, continuou.
Apesar de não fazer uma afirmação, Demian levantou a possibilidade da influência da família do acusado junto à corporação explicar os erros cometidos no caso.
“Não temos como afirmar com certeza (se houve interferência por influência). O pai do Raul era um médico pediatra muito respeitado e era o médico pediatra da Polícia Militar de Minas Gerais. Atendeu os filhos de vários policiais. E o que conseguimos levantar é que eles tem, sim, muitos contatos na Polícia Militar e que o Raul sempre usou bastante esses contatos para os 16 Boletins de Ocorrência em nome dele que encontramos. Acho que um cidadão comum não tem 16 BOs no próprio nome”, completou Magalhães.
O crime
Na ocasião, Carolina caiu da altura do 8º andar de um edifício, e o caso inicialmente foi tratado como autoextermínio. Essa inclusive era a versão de Raul, também advogado, sobre o acontecimento e perdurou por quase dois anos.
Porém, a família da vítima buscou respostas e após investigação da Polícia Civil,
A investigação apurou que Raul e Carolina discutiram na noite do crime, e que ele a agrediu a ponto de deixá-la desacordada. Com a namorada inconsciente, Raul limpou os cômodos do apartamento, colocou roupas de cama para lavar, cortou a tela de proteção da varanda e jogou o corpo da namorada pela janela.
O inquérito mostrou, ainda, que o relacionamento do casal era conturbado, com o réu cometendo agressões físicas e verbais.
Reviravolta
Conforme o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) o fato crucial que motivou a reviravolta no caso foi o relatório de necropsia, que indicou que ela estava desacordada quando caiu de prédio no bairro São Bento, na região Centro-sul da capital mineira. O estudo mostrou que ela não demonstrou resistência durante a situação e, também, não foram constatados sinais de defesa no corpo dela.
O documento também revelou que Carolina tinha ferimentos causados por agressões que aconteceram antes da queda. Conforme a denúncia do MPMG, Raul Lages, após agredir a vítima, limpou alguns cômodos do apartamento, colocou roupas de cama para lavar, cortou a tela de proteção da janela da varanda da sala e lançou a advogada.
Diante desses fatos, o MPMG denunciou Raul Rodrigues Costa Lages por homicídio por motivo torpe, que dificultou a defesa da vítima. Além disso, qualificou como crime contra mulher e por razões de sexo feminino em situação de violência doméstica.
O homem foi indiciado em agosto de 2024, porém responde ao processo em liberdade.
‘Investigação paralela’ e descoberta de vídeos
Família e amigos de Carolina nunca acreditaram na hipótese de suicídio. Diante disso, o irmão da vítima, o também advogado Demian Magalhães, começou uma investigação paralela,
“Na noite do crime, a polícia não foi até a portaria onde fica a tela com o gravador das câmeras para pedir acesso. No dia seguinte do falecimento dela, eu fui à portaria do prédio e pedi esse acesso. Essa foi a primeira vez que a gente viu a sequência dos fatos e viu que a versão que ele tinha apresentado não batia com a realidade”, conta o irmão da vítima.
Segundo os vídeos revelados com exclusividade pelo Fantástico, da TV Globo, às 23h14, quando Carolina já estava morta, o elevador estava parado na portaria, quando foi acionado para o 8º andar. Na versão de Raul Rodrigues Costa Lages, ele teria ouvido o barulho quando estava no elevador.
O vídeo mostra Raul entrando com as roupas trocadas com uma mochila e duas sacolas cheias. Em seguida, vai em direção à portaria e ao tentar sair do prédio encontra o porteiro desesperado, que o leva até o local onde o corpo está caído.
Cerca de um minuto depois, imagens revelam o homem saindo falando ao celular, coloca as sacolas no porta-malas do carro que estava estacionado na rua e arranca.
Para a família, Raul Lages poderia ter sido preso em flagrante ali mesmo, se a Polícia Militar tivesse solicitado as câmeras de segurança do prédio e vistoriado as sacolas.
Em nota, a PM afirmou que “todas as informações colhidas, preliminarmente, no local do fato, foram registradas em boletim de ocorrência e encaminhadas à Polícia Civil para as devidas apurações e providências cabíveis.”