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Acusado de jogar namorada do 8º andar nega acusações e diz que tem ‘trabalhado pouco’

Homem alegou que processo tem atrapalhado sua atuação profissional e se disse ‘perseguido’

Raul Rodrigues Costa Lages é acusado de matar a namorada, a advogada Carolina da Cunha Pereira França Magalhães, em 2022

Raul Rodrigues Costa Lages, advogado de 45 anos acusado de matar a namorada, a também advogada Carolina da Cunha Pereira França Magalhães, de 40 anos, atirando-a do 8º andar um prédio no bairro São Bento, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, em outubro de 2022, foi ouvido pela Justiça na tarde desta quarta-feira (20).

O homem negou as acusações, se disse perseguido e alegou que o processo, ao qual responde em liberdade, tem atrapalhado sua atuação profissional.

O homem foi ouvido no Fórum Lafayette, no bairro Barro Preto, região Centro-Sul de Belo Horizonte, e, de acordo com a assessoria do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), respondeu apenas às perguntas da magistrada e da defesa.

Além de dizer estar “trabalhando pouco” pelos impactos do processo, afirmou que a acusação de que matou a namorada é “cruel”.

‘Comportamento bipolar’

Raul disse, ainda, que notou comportamento bipolar de Carolina desde o início do relacionamento, mas não considerava o relacionamento conturbado. Também afirmou que o emocional da mulher estava abalado na semana da morte devido a problemas no escritório em que ela trabalhava com os pais.

Segundo ele, a namorada estava muito triste no dia do ocorrido e que ela se exaltou em um momento em que ambos estavam no quarto, chegando a jogar um vinho que estavam tomando nas costas dele.

De acordo com a versão do acusado, após o ato, foi ao banheiro e se trancou lá. Relatou, também, que viu pelo buraco da fechadura o momento em que ela trocou as roupas de cama.

Ele então teria saído do banheiro, juntado suas coisas dele em uma sacola, dizendo à ela que iria embora, enquanto Carolina ela ficou no quarto.

Lages afirmou que era uma noite barulhenta, com um jogo de futebol em andamento, e, enquanto estava no elevador, não identificou nenhum barulho no interior do prédio.

Por fim, alegou que, ao chegar na portaria, foi avisado pelo porteiro sobre uma pessoa caída na área externa do prédio. Ele então teria ido ao local e ficado sem reação e “sem saber o que fazer” ao ver o corpo de Carolina.

O crime

Na ocasião, Carolina caiu da altura do 8º andar do edifício, e o caso inicialmente foi tratado como autoextermínio. Essa inclusive era a versão de Raul, também advogado, sobre o acontecimento e perdurou por quase dois anos.

Porém, a família da vítima buscou respostas e após investigação da Polícia Civil, surgiram indícios de que, na verdade, tratava-se de um feminicídio.

A investigação apurou que Raul e Carolina discutiram na noite do crime, e que ele a agrediu a ponto de deixá-la desacordada. Com a namorada inconsciente, Raul limpou os cômodos do apartamento, colocou roupas de cama para lavar, cortou a tela de proteção da varanda e jogou o corpo da namorada pela janela.

O inquérito mostrou, ainda, que o relacionamento do casal era conturbado, com o réu cometendo agressões físicas e verbais.

Reviravolta

Conforme o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) o fato crucial que motivou a reviravolta no caso foi o relatório de necropsia, que indicou que ela estava desacordada quando caiu de prédio no bairro São Bento, na região Centro-sul da capital mineira. O estudo mostrou que ela não demonstrou resistência durante a situação e, também, não foram constatados sinais de defesa no corpo dela.

O documento também revelou que Carolina tinha ferimentos causados por agressões que aconteceram antes da queda. Conforme a denúncia do MPMG, Raul Lages, após agredir a vítima, limpou alguns cômodos do apartamento, colocou roupas de cama para lavar, cortou a tela de proteção da janela da varanda da sala e lançou a advogada.

Diante desses fatos, o MPMG denunciou Raul Rodrigues Costa Lages por homicídio por motivo torpe, que dificultou a defesa da vítima. Além disso, qualificou como crime contra mulher e por razões de sexo feminino em situação de violência doméstica.

O homem foi indiciado em agosto de 2024, porém responde ao processo em liberdade.

‘Investigação paralela’ e descoberta de vídeos

Família e amigos de Carolina nunca acreditaram na hipótese de suicídio. Diante disso, o irmão da vítima, o também advogado Demian Magalhães, começou uma investigação paralela, chegando a vídeos do sistema de segurança do prédio gravados no dia da morte.

“Na noite do crime, a polícia não foi até a portaria onde fica a tela com o gravador das câmeras para pedir acesso. No dia seguinte do falecimento dela, eu fui à portaria do prédio e pedi esse acesso. Essa foi a primeira vez que a gente viu a sequência dos fatos e viu que a versão que ele tinha apresentado não batia com a realidade”, conta o irmão da vítima.

Segundo os vídeos revelados com exclusividade pelo Fantástico, da TV Globo, às 23h14, quando Carolina já estava morta, o elevador estava parado na portaria, quando foi acionado para o 8º andar. Na versão de Raul Rodrigues Costa Lages, ele teria ouvido o barulho quando estava no elevador.

O vídeo mostra Raul entrando com as roupas trocadas com uma mochila e duas sacolas cheias. Em seguida, vai em direção à portaria e ao tentar sair do prédio encontra o porteiro desesperado, que o leva até o local onde o corpo está caído.

Cerca de um minuto depois, imagens revelam o homem saindo falando ao celular, coloca as sacolas no porta-malas do carro que estava estacionado na rua e arranca.

Para a família, Raul Lages poderia ter sido preso em flagrante ali mesmo, se a Polícia Militar tivesse solicitado as câmeras de segurança do prédio e vistoriado as sacolas.

Em nota, a PM afirmou que “todas as informações colhidas, preliminarmente, no local do fato, foram registradas em boletim de ocorrência e encaminhadas à Polícia Civil para as devidas apurações e providências cabíveis.”

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Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.