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Tragédia de Mariana: moradores alegam que não foram consultados sobre reconstrução de casas atingidas

Comunidade alega que imóveis construídos não condizem com as moradias que tinham antes do rompimento da barragem, em 2015

Imagens aéreas do Novo Bento Rodrigues em novembro de 2024.

Em 2015, os moradores de Bento Rodrigues, em Mariana, viviam em uma pequena comunidade rural, em meio a pequenas plantações e a criação de animais para subsistência. Nove anos depois, a população sobrevivente do desastre de Mariana vive em casas de médio padrão no Novo Distrito de Bento Rodrigues construído pela Fundação Renova como reparação dos danos causados pela tragédia.

Apesar da estrutura, os moradores do antigo Bento Rodrigues, não se veem reparados ou representados pelas construções, uma vez que o novo distrito não oferece condições de convivência ou moradias semelhantes às do antigo distrito. Diante desse cenário, em um ato realizado nesta terça-feira (5), a comunidade e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) protestaram contra as ações de reparação adotadas até o momento.

À Itatiaia, o professor da Universidade Federal de Ouro Preto, André Carvalho, comentou sobre como a construção de Novo Bento Rodrigues não considerou as necessidades dos atingidos. “O poder público e o Poder Judiciário não trabalharam com as comunidades atingidas entendendo que essas comunidades são detentoras de desejos, de vontades, de conhecimento, de tecnologias e de cultura que foram sendo desenvolvidas ao longo de suas vidas”, aponta.

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Segundo Carvalho, os moradores não tiveram os pedidos ouvidos no momento das construções das casas. “Há uma discrepância de poder muito grande entre as mineradoras e os atingidos. É uma falácia a afirmação de que eles foram ouvidos e participaram na ativamente da construção das casas. Eles não participaram. Só houve uma escuta que culminou na não realização dos desejos deles”, aponta o professor.

Em resposta á Itatiaia, a Fundação Renova afirmou que o novo distrito foi desenhado com a participação ativa de seus futuros moradores, seguindo as melhores práticas. “Desde a escolha do terreno até a aprovação do projeto urbanístico do novo distrito, todas as etapas foram debatidas, alinhadas e decididas pelo conjunto das pessoas envolvidas em Bento Rodrigues. Cada casa tem um projeto arquitetônico e construtivo individual e exclusivo, que considera as expectativas e necessidades de cada família, e a obra só começa após a aprovação final do desenho pelos futuros moradores”, pontuou a empresa em nota.

Além disso, a Fundação diz que os moradores que dispunham de benfeitorias para a criação de animais, pomares e hortas puderam escolher a construção dos espaços nas novas casas, com assessoramento técnico, ou a compensação financeira a título de indenização.

Bento Rodrigues

O antigo Bento Rodrigues fica no distrito de Santa Rita Durão, que pertence a Mariana. De acordo com documento publicado em 2021 no portal da Fundação Cáritas o distrito tinha 612 moradores e cerca de 400 estavam no local no momento do rompimento da barragem.

Perguntada sobre a destinação do local, a Fundação Renova, responsável por realizar ações de reparação, informou que os dados devem ser solicitados à Samarco.

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A Samarco informou que a região de Bento Rodrigues será alvo de tombamento municipal, o que foi definido no Acordo de Repactuação assinado em 25 de outubro, que ainda não foi homologado pelo STF. Haverá pagamento de indenizações pelo uso das propridades e áreas por meio de laudos atualizados e independentes.

Novo Bento Rodrigues

O Ministério Público de Minas Gerais divulgou, em 2020, que 211 famílias seriam reassentadas no novo Bento Rodrigues. Enquanto aguardavam o reassentamento, as famílias viveram em Mariana ou em outros distritos.

Só em 2023, mais de 7 anos depois dos desastres, as famílias receberam chaves das casas no Novo Bento - que ainda estava inacabado.

Em nota, a Fundação Renova informou que até o dia 11 de outubro de 2024 mais de 86% dos imóveis do Novo Bento Rodrigues foram construídos. Até agora, 156 imóveis dos 246 previstos já foram entregues aos novos moradores. Escola, estações de tratamento de água e esgoto, posto de saúde e posto de serviços já tiveram as obras finalizadas. De acordo com a Samarco, até setembro de 2024 já foram investidos R$38 bilhões, aplicados pela Fundação Renova. Veja, abaixo, imagens do local.


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Ana Luisa Sales é jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia desde 2022, já passou por empresas como ArcelorMittal e Record TV Minas. Atualmente, escreve para as editorias de cidades, saúde e entretenimento