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Em entrevista à Itatiaia, a irmã da mulher, Lorena Oliveira, de 37 anos, contou que a audiência foi nesta quarta-feira (12).
“Estamos muito tristes e abalados”, disse a irmã de Daniela. De acordo com ela, as informações sobre a condenação chegaram até a família por meio da rede “Um Grito Pela Vida”. “Não temos ainda nem o comunicado oficial dessas informações”, contou à reportagem.
O advogado de Daniela que a acompanhava no Camboja abandonou o caso. Com isso, a família conta com o apoio da Clínica de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde se formou em arquitetura em 2013.
Segundo a irmã, Daniela consegue ligar para a família a cada 10 dias. “Nós estamos com a expectativa de que ela ligue hoje à noite para nos contar o que aconteceu. Lá na penitenciária tudo tem que pagar, a água que ela toma, a comida, shampoo e tudo mais”, contou Lorena.
A família está arrecadando dinheiro para custear os gastos na penitenciária, além dos advogados.
Motivo da ida a Camboja
Em outubro, a Itatiaia conversou com a mãe de Daniela, Myriam Oliveira. Segundo ela, a arquiteta tinha dificuldades de encontrar bons empregos no Brasil, encontrou uma vaga no país asiático e decidiu apostar na oportunidade.
“Ela queria a independência dela. Pesquisando [na internet] surgiu essa vaga para ir para o Camboja. Ela ainda me perguntou: ‘Mãe, você iria?’. Eu falei: ‘De jeito nenhum’”, contou.
A proposta recebida por Daniela incluía trabalhar em Phnom Penh, capital do Camboja, na área de telemarketing, recebendo cerca de 2.000 dólares (R$ 10 mil, na cotação atual). O combinado era de que a empresa pagaria as passagens, hospedagem e alimentação.
No fim de janeiro de 2025, a Daniela decidiu aceitar a proposta e se mudar para o Camboja.
Chegada ao país e prisão
Desde a chegada da mineira a família já desconfiava que tratava-se de um golpe. Daniela compartilhava a localização em tempo real com a mãe, que desconfiou do local. Segundo ela, não havia nada nas proximidades e a estrutura do alojamento era precária.
Em pouco tempo, o contato com a família ficou menos frequente. Até que no dia 29 de março, a mãe relatou que recebeu uma mensagem da filha dizendo que estava triste.
Depois, Myriam chegou a pedir que a filha ligasse para ela para conversarem, mas Daniela desviava da conversa. A mãe desconfiou porque a filha escrevia de uma forma diferente, com muitos erros de digitação.
Pouco depois, a outra filha de Myriam, Lorena Oliveira, entrou em contato com ela dizendo que a irmã havia saído da empresa e que precisava pagar a rescisão do contrato, já que tinha assinado um contrato de um ano com a empresa.
A rescisão custava 4.000 dólares (R$ 21 mil, na cotação atual). No final, com as cobranças, a família pagou um total de R$ 27 mil.
Cerca de três dias depois do contato, Daniela ligou para a família dizendo que havia sido detida. Policiais teriam encontrado três cápsulas de alguma droga no banheiro da brasileira, e ela foi levada apenas com a roupa do corpo para a delegacia. Dias depois, ela foi transferida para a penitenciária de Sisophon, quase na fronteira com a Tailândia.
Itamaraty se pronuncia
Nesta quarta-feira (12), o Itamaraty voltou a se pronunciar. Em nota, o órgão afirma que “vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando a assistência consular cabível à nacional brasileira, em conformidade com o Protocolo Operativo Padrão de Atendimento às Vítimas Brasileiras do Tráfico Internacional de Pessoas”.
Veja a nota na íntegra:
“O Ministério das Relações Exteriores, por intermédio da Embaixada do Brasil em Phnom Penh, tem conhecimento do caso citado. A Embaixada vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando a assistência consular cabível à nacional brasileira, em conformidade com o Protocolo Operativo Padrão de Atendimento às Vítimas Brasileiras do Tráfico Internacional de Pessoas.
A atuação consular do Brasil pauta-se pela legislação internacional e nacional. Para conhecer as atribuições das repartições consulares do Brasil, recomenda-se consulta à seguinte seção do Portal Consular do Itamaraty.
Em atendimento ao direito à privacidade e em observância ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, o Ministério das Relações Exteriores não divulga informações pessoais de cidadãos que requisitam serviços consulares e tampouco fornece detalhes sobre a assistência prestada a brasileiros.
O Ministério participa ativamente do IV Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, no âmbito do qual foram elaborados materiais informativos, como a cartilha “Orientações para o Trabalho no Exterior”. Além disso, emitiu alertas consulares e notas à imprensa sobre o aliciamento de pessoas para o Sudeste Asiático, buscando aumentar a conscientização sobre o tema”.
Tráfico de pessoas
Em nota enviada à reportagem, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) disse ter ciência e prestar toda assistência consular aos brasileiros vítimas do tráfico de pessoas no Sudeste Asiático. A pasta comentou que os primeiros casos de tráfico para região começaram a aparecer em 2022, quando eles publicaram o
Em fevereiro deste ano, um novo aviso sobre o assunto foi publicado pelo órgão. Na ocasião, a pasta alertou para o aumento significativo no número de brasileiros vítimas de tráfico de pessoas para exploração laboral no Sudeste Asiático.
“As vítimas, em sua maioria jovens com conhecimento de informática, são recrutadas por meio de redes sociais com falsas promessas de emprego em “call centers” ou empresas de tecnologia na Tailândia. Tais ofertas são direcionadas a brasileiros e contemplam salários competitivos, comissões por ativos vendidos e passagens aéreas”, detalhou a pasta no comunicado.
Assim que chegam ao país asiático, as vítimas são levadas de forma irregular para Myanmar, Laos e Camboja. O Itamaraty alertou para que as pessoas que receberem ofertas parecidas com essa devem ficar atentas aos sinais.
“Para auxiliar na identificação de possíveis situações de tráfico de pessoas, o Itamaraty produziu em conjunto com o Ministério da Justiça e Segurança Pública cartilha sobre trabalho no exterior e folheto específico para quem se encontre no Sudeste Asiático”, explicam.
Em relação ao caso do mineiro Gabriel Oliveira, o Itamaraty disse que a Embaixada do Brasil em Bangkok vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando a assistência consular cabível, com base na Convenção de Viena sobre Relações Consulares e no “Protocolo Operativo Padrão de Atendimento às Vítimas Brasileiras do Tráfico Internacional de Pessoas”.
De acordo com a pasta, o “traslado de restos mortais de brasileiros falecidos no exterior só está previsto em situações excepcionais”, detalharam. “As ações deste Ministério se fundamentam no disposto no art. 257 do Decreto nº 9.199/2017 e no Decreto nº 12.535/2025, em fase de regulamentação.”