Uma grande operação resultou na interdição da Casa Azul — clínica de tratamento de usuários de crack e outras drogas que funcionava irregularmente no bairro Bonfim, na Região Noroeste de Belo Horizonte, nesta quarta-feira (29). Cerca de 40 pessoas foram encontradas no local, vivendo em condições insalubres e degradantes.
A ação envolveu o Ministério Público (MPMG), o Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Civil (PCMG), a Polícia Militar (PMMG) e a Vigilância Sanitária.
Ela ocorreu um dia depois de um idoso de 60 anos ter falecido nas dependências da clínica, de acordo com o promotor de Justiça André Sperling Prado.
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“No total, três pessoas já teriam falecido dentro do local”, disse, complementando que a estrutura não possuía condições para receber qualquer pessoa.
“O prédio, originalmente comercial, foi adaptado com salas grandes, onde a maior parte dos internos dormia em colchões dispostos diretamente no chão”, afirmou. O local não tinha alvará.
Comidas para porcos
As condições de alimentação eram alarmantes: os internos eram alimentados com “restos de comida, de sacolão”. “A equipe separava as comidas de sacolão que eram rejeitadas, e o restante, aparentemente, seria dado a porcos no sítio do responsável pelo local”, explicou.
Segundo o promotor, o local misturava diferentes grupos de vulneráveis: pessoas com problemas de saúde mental, idosos que a família não queria mais cuidar e pessoas com transtornos relacionados ao uso de drogas.
“Há suspeitas de que os responsáveis recebiam o BPC (Benefício de Prestação Continuada), um benefício social devido aos internos, sob a promessa de tratamento — o que, segundo o MP, não ocorria”, afirmou.
Gatos de água e luz
A interdição da clínica pela Vigilância Sanitária foi acompanhada por técnicos da Cemig e da Copasa. No local, foi constatada a existência de ligações ilegais. “Ele não pagava água, não pagava luz e submetia essas pessoas a essa situação, infelizmente degradante”, afirmou o promotor.
O responsável irá responder pelos furtos de água e de energia elétrica, de acordo com o promotor. Além disso, será instaurado um inquérito policial para investigar a fundo o caso. O MP também está apurando a retenção de documentos e a apropriação dos benefícios (BPC) a que os internos teriam direito.
Com a interdição do espaço, as autoridades iniciaram a triagem dos cerca de 40 internos. De acordo com o promotor, o objetivo é que cada caso seja tratado especificamente, pois há diferentes necessidades: alguns serão encaminhados para locais de tratamento mental; outros receberão acolhimento por questões sociais.
“A prioridade principal é que essas pessoas possam retornar para suas famílias, que é de onde elas nunca deveriam ter saído”, disse.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura e com o advogado responsável pela clínica, que afirmou não querer conceder entrevista até o fim da operação.