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Deportados dos EUA: morador de Divinópolis relata arrependimento após passar dificuldades no país

Hamilton Cândido de Andrade relatou que não recebeu apoio das autoridades norte-americanas e foi detido por portar uma arma de brinquedo durante as celebrações do Halloween

Hamilton Cândido de Andrade, de 43 anos, um dos deportados dos Estados Unidos, que chegou no avião da Força Aérea Brasileira (FAB) ao Aeroporto Internacional de Confins, em Belo Horizonte (MG), neste sábado (25), fez um forte relato sobre o cenário que encontrou ao se mudar de país.

De acordo com Hamilton, que é natural de Divinópolis, após lidar com perdas de familiares, resolveu tentar o ‘sonho’ e mudar de vida nos Estados Unidos, mas se arrependeu da decisão. “Eu teria uma condição boa aqui, só que, como mataram meu irmão e a gente tinha... Eu perdi meu pai também. Aí, eu tinha uma família, o sonho de ter uma família. A gente foi para tentar conhecer e buscar uma coisa melhor, mais rápido. E o que aconteceu? Caí nessa merda. Nunca mais, nunca mais, nunca mais. A melhor coisa do mundo é pisar, estar no meu território. Aqui é, nossa, eu [estou] feliz demais.”

“Eu não precisava. Eu perdi minha saúde, eu perdi meu cabelo, por tudo, por estar num país que, ao mesmo tempo, é quente demais e ao mesmo tempo é frio demais, não é insuportável. O tratamento não tem. As autoridades são péssimas. Não te dão a situação de nada, não são classificados para trabalhar lá como aqui no Brasil. No Brasil, se tem autoridade, qualquer pessoa de outro país que chega, eles procuram o máximo para ajudar a pessoa, falam outro idioma e tudo. Lá, a única coisa que você vai ouvir é ‘I’m sorry, don’t speak Portuguese’.”

Ele chegou aos EUA em 2019 e afirma que, além de não receber auxílio das autoridades norte-americanas, chegou a ser detido no país por portar uma arma de brinquedo. “Eu fui detido. A gente sempre participa das festas de Halloween. E, quando é festa de Halloween lá, eles levam a sério. Aí, a pessoa pode vestir, maquiar, pode usar uma arma de brinquedo e tal. E, como eu tinha feito cirurgia no meu braço, estava com a arma de brinquedo. Eles me abordaram e me prenderam por isso”, contou.

“O juiz, no dia seguinte, me liberou. E, eles não me liberaram por eu não ter um documento. Alegaram que eu poderia ter pedido asilo ou qualquer outra coisa, mas eles não deram a oportunidade por causa do Covid. Não tinha nada funcionando. E, quando você ia procurar ajuda, qualquer forma de legalizar qualquer coisa, eles falavam: ‘Sorry, don’t speak Portuguese’”, continuou ele.

Em solo brasileiro, Hamilton não escondeu o alívio de voltar para casa: “Agora, vida nova. E é alegria respirar e recuperar a minha dignidade.”

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Algemados

A Itatiaia obteve imagens que mostram os deportados dos Estados Unidos chegando a Manaus (AM) na noite de sexta-feira (24) algemados e com os pés acorrentados. O vídeo foi fornecido pela Agência Cenarium.

Ao tomar conhecimento da situação, o Presidente Lula determinou que uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) fosse mobilizada para transportar os brasileiros até o destino final, de modo a garantir que possam completar a viagem com dignidade e segurança.

Foram disponibilizados profissionais de saúde para acompanhamento dos deportados. Segundo a Polícia Federal, eles foram acolhidos e acomodados em área restrita do aeroporto, onde receberam bebida, comida e colchões e tiveram acesso a banheiros com chuveiros.

A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo (PT), também esteve presente no aeroporto de Confins para recepcionar os deportados.

Deportados dos EUA

Apesar de ser o primeiro voo com deportados para o Brasil desde a posse de Donald Trump, a medida ainda não reflete a nova política migratória do governo americano, mas faz parte de um acordo de extradição assinado entre o então presidente Temer e Trump em 2017.

Desde esse acordo, os dois países mantêm uma parceria que possibilita a deportação de cidadãos brasileiros que não podem mais recorrer de sua situação migratória.

De acordo com os dados mais recentes do Pew Center, de 2022, aproximadamente 230 mil brasileiros sem documentação vivem nos Estados Unidos. Desses, cerca de 30 mil já tiveram o pedido de permanência negado e, como não podem mais recorrer, estão sujeitos à deportação a qualquer momento.

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Rúbia Coelho escreve em colaboração com a Itatiaia
Jornalista pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia desde 2022, trabalhou na produção de matérias para a rádio, na Central Itatiaia de Apuração e foi produtora do programa Itatiaia Patrulha. Atualmente, cobre factual e é repórter da Central de Trânsito Itatiaia Emive.
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