No meio de um vale, uma construção que pode ser vista de longe se destaca na natureza. Em junho de 2024, comemoram-se os 250 anos do Santuário do Caraça, um local que carrega história, preservação de patrimônio, e paisagens para visitantes que querem se encantar com a natureza local.
Conheça mais sobre os marcos arquitetônicos e naturais desse local.
História do Santuário do Caraça
Seu fundador foi Irmão Lourenço de Nossa Senhora, responsável por comprar a sesmaria do Caraça em 1774 e iniciar um projeto dedicado a transformar o Santuário em um local de devoção.
Os registros históricos indicam que a intenção do Irmão Lourenço foi criar um espaço que fosse um suspiro à “loucura do século” – a
Com o tempo, a partir do atendimento aos peregrinos e a companhia de outros ermitães penitentes, o Santuário foi crescendo e tomando forma. Hoje, ocupa mais de 11.233 hectares; desse total, 10.187,89 são destinados à área de preservação. Juntamente com a comemoração dos 250 anos do Santuário, também se celebram os 30 anos da reserva.
Preservação de patrimônio
A Reserva Particular do Patrimônio Natural – Santuário do Caraça é bem guardada: não apenas por estar demarcada como uma
A RPPN Santuário do Caraça é um bem tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A RPPN também integra a área destinada às Reservas da Biosfera da Serra do Espinhaço e da Mata Atlântica, reconhecidas pela UNESCO.
Um dos grandes marcos históricos do Santuário é o fato de ser a primeira igreja neogótica construída no Brasil.
Diz-se que a construção foi toda feita sem o uso de mão de obra escrava, e os materiais eram todo regionais: pedra sabão (retirada de perto da Cascatona), mármore (nas proximidades de Mariana e Itabirito) e quartzito (da região do Caraça e vizinhanças), unidas com um produto a base de cal, pó de pedra e óleo.
RPPN do Santuário do Caraça, com lago em primeiro plano e igreja ao fundo
Atrativos naturais do Santuário do Caraça
Além do Santuário dedicado à devoção e a beleza natural do seu entorno, existem várias
Saiba por quais caminhos o Santuário do Caraça se estende.
- Bocaina: um grande desfiladeiro que inspirou o nome Caraça – que significa desfiladeiro em tupi-guarani.
- Além das trilhas pelas montanhas, que passam pela garganta do Gigante, a visita à bocaina leva à quedas d’água, piscinas naturais e córregos.
- Na trilha de Pinheiros, pode-se enxergar com clareza o perfil do Gigante que está “deitado” na lateral. O acesso para os Pinheiros é fácil e, a trilha, muito convidativa.
- Outra atração natural que não demanda esforço dos visitantes é a Prainha: trata-se de um local apropriado para crianças, com águas rasas e tranquilas, e próximo ao centro histórico do Caraça.
- Trilhas, mirantes e piscinas naturais recebem visitantes com todos os preparos físicos.
- Atrações com acesso mais difícil ou que exigem preparação física: a gruta de Lourdes, com uma trilha bastante íngreme, e os sete picos espalhados pela Serra do Caraça: Pico do Sol (o mais alto da Cadeia do Espinhaço, 2072 m), o Pico do Inficionado (2068 m), o Pico da Carapuça (1955 m), o Pico da Canjerana (1890 m), Pico da Conceição (1800m), Pico Três Irmãos (1675 m) e o Pico da Verruguinha (1650 m).
Curiosidades sobre o Santuário do Caraça
Naturalmente, os mais de dois séculos de existência garantem muitas histórias para contar.
Saiba quais foram alguns dos episódios mais marcantes, e hábitos pitorescos construídos em volta do Santuário.
Origem do nome “Caraça”
Existem duas teorias divulgadas para explicar o nome do local. Uma delas é a visão de um rosto grande (uma cara grande, ou caraça) em posição horizontal na Serra do Caraça.
Essa versão é muito mais pitoresca do que oficial porque o nome Caraça sempre é usado no masculino, e não no feminino; fosse esse o caso, o nome usado seria Serra da Caraça.
A outra explicação, que é bem mais oficial e menos lúdica, é que o nome Caraça significa desfiladeiro em tupi-guarani. Como o Santuário está localizado em um vale, o nome Caraça atendeu à necessidade de identificar o local.
A visita (e o encanto) de Dom Pedro II
O imperador Dom Pedro II fez uma expedição a Minas Gerais entre 26 de março e 30 de abril de 1881.
A viagem contemplou as regiões Quadrilátero Ferrífero, Campo das Vertentes e Zona da Mata, mas a impressão do imperador pelo Caraça diz muito sobre a magnitude do local: o registro do monarca no seu diário dizia que “só o Caraça paga toda a viagem a Minas”. Especificamente no Santuário, Dom Pedro II se hospedou entre os dias 11, 12 e 13 de abril de 1881.
Além disso, locais por onde o imperador passou acabaram sendo nomeados em sua homenagem – é o caso do Banho do Imperador, área mais afastada que era usada especificamente para banhos.
Durante a viagem por Minas Gerais, o monarca lia os relatos do naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), que já tinha viajado por Minas seis décadas antes e, inclusive, conhecia o Caraça. O botânico foi responsável por catalogar e nomear várias
Heranças da visita do imperador ao Santuário do Caraça
À época da visita do imperador, o Santuário já era centenário. A honra em receber o casal composto pelo imperador e a imperatriz Teresa Cristina foi marcada pela história em si, e também em partes do Santuário.
As camas usadas pelo casal para dormir, com o brasão imperial, estão preservadas no museu do Santuário até hoje.
Além disso, parte dos vitrais franceses do presbitério do Santuário foram um presente de Dom Pedro II, concedido durante o período da sua visita.
Visita do lobo guará
Trata-se de uma tradição amigável entre a fauna local e a administração do Santuário do Caraça: um casal de
A iniciativa de alimentar o lobo guará surgiu por volta de 1982, depois que descobriu-se que as lixeiras do Santuário estavam reviradas porque o animal buscava alimento.
O lobo guará continua com seus hábitos de caça e não foi domesticado pelo entorno do Santuário. Sendo assim, a tradição criada entre o lobo e o Santuário dita que todos os dias, por volta das 18h30, o lobo guará aparece para buscar seu complemento de refeição do dia. O horário ficou conhecido como “a hora do lobo”.
Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens, no Caraça
Como se hospedar no Santuário do Caraça
Dos 70.000 visitantes anuais, cerca de 25% optam por se hospedar nas pousadas do Santuário. Atualmente, existem duas opções.
A Pousada do Caraça, que originalmente abrigava visitantes e peregrinos, foi transformada oficialmente em pousada em 1970.
As acomodações são simples, mas confortáveis, e comportam várias pessoas dentro do mesmo quarto. São 41 apartamentos que comportam cerca de 200 pessoas.
Os banheiros são externos e a hospedagem já inclui pensão completa – que dá direito a café da manhã, almoço e jantar, e também a entrada na Reserva Natural.
Já a Pousada Fazenda do Engenho está localizada na portaria de acesso à Reserva Natural.
Faz parte do Complexo Santuário do Caraça, mas tem administração autônoma. Nessa hospedagem, os apartamentos têm banheiros individuais e aceitam acomodações solo, de casais, ou grupos.
Os quartos da Pousada Fazenda do Engenho propositalmente não têm televisão. A ideia, segundo o próprio estabelecimento, é ajudar os visitantes a se conectarem mais profundamente com a natureza local.
Como chegar ao Santuário do Caraça
Saindo da capital mineira, além de serviços de ônibus, os passageiros contam com as seguintes opções.
- De carro: a distância é de 120 km entre BH e o Santuário do Caraça. A viagem acontece pela BR 381( sentido Vitória-ES) até o trevo para Barão de Cocais – Santa Bárbara – Caraça. De lá, basta seguir pela MG 436 (via Barão de Cocais). Antes da cidade de Santa Bárbara, vire à direita para o Caraça.
- De
trem : basta pegar o trem na Estação Ferroviária e, depois de cerca de 1h30 de viagem, descer na estação Dois Irmãos (Barão de Cocais). De lá, é só combinar uma rápida viagem de 40 minutos usando táxi para chegar ao Caraça.
Cultura nas cidades do entorno do Santuário do Caraça
Como não faltam belezas no interior de Minas, é de se esperar que uma visita ao Caraça renda uma passadinha nas cidades próximas ao Santuário.
Confira algumas atrações para além das tradicionais delícias da
Barão de Cocais
Cachoeiras e trilhas ideais para a prática de highline e escalada.- Santuário de São João Batista: fundado em 1763. É tombado pelo IPHAN e tem sua obra atribuída a
Aleijadinho .
Catas Altas
- Trilhas e cachoeiras;
- Bicame por onde minério e cascalho eram lavados;
- Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição: construída em 1729, representando um marco do rococó mineiro;
- Capela de Santa Quitéria: construída em 1728, tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA-MG).
Santa Bárbara
- Museu Antoniano: além de celebrar e contar a vida de Santo Antônio, guarda relíquias que ajudam a contar a história da cidade;
- Igreja Matriz de Santo Antônio, com obras do Mestre Ataíde, um dos artistas mais importantes do
barroco mineiro ; - Igreja de Nossa Senhora do Rosário: igreja construída no século XVIII em homenagem aos santos negros (São Benedito, Santa Efigênia e Santo Antônio Catagerona).