Quando foi convidado pela namorada para conhecer uma cachoeira em Alvarenga, no Vale do Rio Doce, o guia Júlio César Ribeiro nunca poderia imaginar que faria uma descoberta tão importante. Aos 22 anos, o jovem mineiro já vinha se interessando cada vez mais pelo universo das flores e plantas de tanto receber pesquisadores e botânicos na região.
Durante a caminhada, uma planta com folhas aveludadas, cheias de pelos e uma flor “meio cor de rosa, puxando para o lilás” chamou sua atenção. Ele ainda não sabia, mas havia descoberto uma nova espécie de bromélia, nunca antes vista em nenhuma parte do mundo.
A descrição da planta foi publicada recentemente na revista “Phytotaxa” por pesquisadores do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Do primeiro registro na natureza a posteriores estudos macro e micromorfológicos, descrição minuciosa da espécie, redação e publicação na revista científica, foram 11 meses de trabalho. A publicação internacional representa a oficialização da descoberta após os pesquisadores constatarem que se trata mesmo de uma espécie inédita.
Pelos incomuns para a espécie
A ‘nova’ planta foi batizada de Krenakanthus ribeiranus em homenagem aos povos krenaks, originários do Vale do Rio Doce, e seu descobridor Júlio Ribeiro.
Também chamada de bromélia-peluda, a planta tem as folhas cobertas por uma espécie de pelos, característica incomum para essas espécies consideradas ‘primas’ do abacaxi. Os pelos, segundo os cientistas, têm a função de absorver água ou proteger a espécie contra a perda de água no ambiente.
Empenho do jovem foi fundamental
“Foi muito gratificante isso, receber uma homenagem de pessoas do mundo da botânica que eu gosto muito. Fiquei maravilhado”, disse Júlio que planeja estudar botânica.
Há mais tempo, ele também colaborou com a descoberta da bromélia-enigmática (Stigmantodon enigmaticus) na região de Conselheiro Pena, também em Minas.
No caso da bromélia-peluda, não foi apenas o olhar apurado do jovem que contribuiu para a publicação do novo achado. Ribeiro fez imagens, coletou amostras, explorou a região para ver se identificava mais espécies como aquela no entorno e auxiliou os pesquisadores a medir a área e a mapear os riscos oferecidos à planta, como incêndios e queimadas.
Reconhecimento não é tarefa fácil
O botânico do INMA Dayvid Rodrigues Couto comenta que o fato de Ribeiro ter vivenciado o trabalho de campo com pesquisadores naquela região fez com que o jovem desenvolvesse um olhar diferente sobre a flora local.
Segundo ele. o reconhecimento de espécies não é uma tarefa fácil, mesmo para especialistas. Ainda assim, ao encontrar uma planta fértil na natureza, ou seja, com flores e frutos, a orientação é fotografar a espécie em detalhes, de diferentes ângulos, ainda em seu habitat.
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Essas imagens, feitas na melhor resolução possível, podem ser enviadas à plataforma INaturalist, acessada por cientistas do mundo inteiro. “Importantíssimo destacar que não se deve extrair as plantas de seus habitats naturais, pois isso configura crime ambiental, e requer licença dos órgãos competentes, como o ICMBio e órgãos estaduais de Meio Ambiente”, pontua Couto…