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Gasolina pura é ‘sonho’ inviável para os carros atuais

Combustível brasileiro é criticado por muitos motoristas pela mistura com etanol, mas solução é essencial para funcionamento do motor

Desde agosto, gasolina brasileira tem 30% de etanol em sua mistura

Muitos motoristas brasileiros reclamam que, ao abastecer com gasolina, estão pagando por um produto “adulterado pelo governo”, já que determinação legal obriga que 30% de etanol seja adicionado ao combustível derivado do petróleo. Essa “mistura” é chamada de gasolina E30.

Mas é justa a reclamação? Apenas em parte.

A gasolina pura é um combustível com baixa octanagem - cerca de 86,5 RON -, ou seja, ela tem baixa capacidade resistir a compressão do motor. Se fosse usada, resultaria em menor desempenho. Para aumentar esta resistência, a partir da década de 1920, o chumbo tetraetila passou a ser adicionado ao combustível.

O chumbo tetraetila é extremamente tóxico e causa danos ao sistema nervoso central, com estudos que a associam, por exemplo, a diminuição do QI de criança nos Estados Unidos. Por questões de saúde pública, iniciou-se uma campanha global pelo banimento desta substância, mas o último país a erradicá-lo foi a Nigéria, em 2021.

“Acabar com o uso de gasolina com chumbo evitará mais de um milhão de mortes prematuras por ano devido a doenças cardíacas, derrames e câncer, e protegerá crianças cujo QI é prejudicado pela exposição ao chumbo”, declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres, na ocasião.

Gasolina sem chumbo no Brasil

No Brasil, o chumbo tetraetila começou a ser retirado da gasolina desde 1989 e, em 1992, ele foi completamente substituido pelo etanol. Além da saúde pública, o etanol é adicionado a gasolina no Brasil por uma questão econômica, já que diminui a dependência do país em relação ao petróleo. Esse movimento começou na década de 1930, mas só virou política pública com o estabelecimento do Proálcool na década de 1970.

Etanol adicionado na gasolina é o anidro, enquanto o vendido nos postos é o hidratado

Etanol na gasolina e na bomba

Um dos grandes temores do motorista brasileiro é de que o etanol adicionado a gasolina é prejudicial ao motor e pode, por exemplo, oxidar seus componentes. O etanol adicionado em 30% a gasolina é o anidro, com pelo menos 99,6% de graduação alcoólica.

Já o álcool encontrado nas bombas dos postos é o hidratado, que possui em sua composição entre 95,1% e 96% de etanol e o restante de água.

Gasolina precisa de 30% de etanol?

Hoje, o número de países que utilizam o etanol adicionada a gasolina é divergente, dependendo da fonte, mas varia de 40 a 70. O problema é que o Brasil é o único país que tem o E30, enquanto especialistas garantem que 10% (E10) de etanol já seriam suficientes para aumentar a octanagem da gasolina.

Além dos motivos de saúde pública e de menor dependência do petróleo, o governo brasileiro alega que a porcentagem atual de etanol anidro na gasolina diminui a emissão de carbono na atmosfera.

A desvantagem do E30 é provocada pelo menor poder calorífico do etanol: o carro irá consumir mais, ou seja, terá um peso maior no bolso do motorista.

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Felipe Boutros sempre foi fã de carros: cresceu lendo as revistas do gênero e fez jornalismo para atuar no setor - no qual está há 20 anos. Cobriu os principais salões do automóvel do mundo. Trabalhou nos jornais O Tempo, Hoje em Dia e, hoje, é editor-chefe no AutoPapo. Na Itatiaia, colabora com a seção Auto!