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Setor do suco de laranja pode ter prejuízo de R$ 1,5 bilhão mesmo fora da tarifa

Somado a retratação dos preços internacionais, as perdas totais do setor podem ultrapassar R$ 2,9 bilhões

Subprodutos da cadeia citrícola também são usados pela indústria de cosméticos

O suco de laranja é um dos produtos incluídos na lista de isenção da tarifa de 50% dos Estados Unidos imposta pelo presidente Donald Trump. No entanto, o setor ainda pode apresentar prejuízo bilionário, segundo o setor.

Segundo a Associação Nacional dos exportadores de sucos cítricos (Citrus BR) o setor exportador de suco de laranja do Brasil pode registrar perdas imediatas de R$ 1,54 bilhão.

O prejuízo decorre da inviabilidade econômica das exportações de subprodutos, taxadas em 50%, que renderam US$ 177,8 milhões na safra anterior (equivalentes a R$ 973,6 milhões). Soma-se a esse valor o impacto estimado da tarifa de 10% sobre o suco de laranja, calculado em US$ 103,6 milhões (R$ 566,7 milhões). Os valores consideram o volume registrado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic) na safra 2024/25.

Segundo a Citrus BR, os subprodutos da cadeia citrícola são amplamente utilizados tanto pela indústria de bebidas quanto pela de cosméticos. Nos Estados Unidos, cerca de 58% do consumo de suco é composto por suco reconstituído — produto concentrado a 66% de partes sólidas, com consistência semelhante à do leite condensado. Após a importação, esse suco recebe água até atingir sua diluição natural, com cerca de 12% de partes sólidas.

“Muitos desses produtos dependem de ingredientes como células cítricas — os gominhos da laranja — e óleos essenciais responsáveis pelo aroma, e esses insumos estão sobretaxados em 50%, o que inviabiliza a operação”, afirma o diretor-executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto. “Isso pode ter efeito negativo na experiência do consumidor, prejudicar as empresas americanas e, por consequência, impactar toda a cadeia brasileira.”

Os óleos essenciais também são fundamentais para a indústria de cosméticos, pois conferem as notas cítricas aos perfumes. Os Estados Unidos importam cerca de 36% no caso do óleo essencial prensado, 39% para o óleo comum e quase 60% para o d-limoneno, utilizado em fragrâncias e solventes naturais. “Pode ser um impacto muito grande para esses setores”, reforça Netto.

Preços internacionais

Além do impacto tarifário, o setor também enfrenta retração nos preços internacionais, consequência do aumento de 36% na oferta de frutas em relação à safra anterior, segundo dados do Fundecitrus.

De acordo com a Secex, o preço médio da tonelada exportada para os Estados Unidos na safra passada foi de US$ 4.243. Na cotação de 7 de agosto, o valor caiu para US$ 3.387 — uma redução de 20,17%. Mantido o volume exportado, a perda estimada de receita com a desvalorização é de US$ 261,8 milhões, o equivalente a R$ 1,43 bilhão.

Somando os efeitos das tarifas à queda nas cotações, as perdas totais do setor podem ultrapassar R$ 2,9 bilhões. “Embora o setor esteja aliviado por ter sido incluído na lista de exceções, os impactos são significativos, principalmente em um contexto de mercado desafiador como o deste ano”, avalia Netto.

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde