A redução crescente de polinizadores silvestres no mundo já impacta diretamente culturas dependentes da polinização cruzada, como frutas e nozes. A
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Os resultados evidenciaram que, em 17 dos 23 locais avaliados, entre 80% e 100% das nozes eram resultantes de polinização cruzada, mesmo no centro dos blocos de cultivo, onde a tendência seria maior para a autopolinização. Segundo os autores, esses resultados mostram que a polinização cruzada é o sistema de reprodução predominante em uma ampla gama de cultivares internacionais de macadâmia, ou seja, suas flores dependem da polinização cruzada para produzir frutos para a colheita.
Justamente por isso, a produtividade da macadâmia pode ser menor no centro de blocos de cultivares únicas do que nas bordas dos blocos, onde as árvores estão mais próximas das flores de outras cultivares. Portanto, a produtividade dos pomares comerciais de macadâmia pode ser limitada por uma combinação de fatores: alta dependência da polinização cruzada, longas distâncias até uma fonte de pólen cruzado e dispersão limitada do pólen cruzado pelos polinizadores.
Melhoria na qualidade
Outro resultado importante destacado na publicação é que a polinização cruzada também afeta a qualidade. As nozes resultantes desse processo apresentaram amêndoas maiores do que aquelas formadas por autopolinização. Também exibiram rendimento superior (entre 3,3% e 6,4%) e maior concentração de óleo, chegando a 3,5% a mais. Na prática, essa diferença representa um ganho de valor entre US$ 433 e US$ 841 por tonelada, considerando o preço médio internacional de US$ 3 mil por tonelada de noz com casca.
Essa melhora, em atributos de qualidade, está relacionada ao fenômeno conhecido como xenia, em que características da semente e do fruto são influenciadas não apenas pela planta-mãe, mas também pelo doador de pólen. O mesmo efeito já foi observado em outras culturas como amêndoas e avelãs.
Polinização cruzada e manejo
A dependência da macadâmia por polinização cruzada tem implicações diretas no manejo. Por ser cultivada majoritariamente em pomares clonais, ou seja, grandes blocos com fileiras contínuas de uma única cultivar, as oportunidades de troca de pólen entre cultivares são menores no centro dos plantios.
O estudo mostrou que as abelhas conseguem transportar pólen entre as cultivares, confirmando que o posicionamento das cultivares no pomar, a proximidade entre blocos variados e a distribuição estratégica de colmeias são fatores essenciais para alcançar uma produtividade elevada. As cultivares de macadâmia apresentam florada massal durante um período relativamente curto de floração, de algumas semanas, produzindo de 100.000 a 400.000 flores por árvore.
Portanto, o estabelecimento de pomares de macadâmia com blocos que compreendem várias fileiras de uma única cultivar, pode reduzir as chances de as abelhas viajarem entre cultivares e depositarem pólen “cruzado” nas flores. O plantio de várias fileiras de cada cultivar reduz o custo de algumas operações de manejo do pomar, mas também pode levar à redução da produção devido uma polinização cruzada inadequada.
No Brasil, a cultivar IAC 4-12B apresentou 88% de frutos resultantes de polinização cruzada e na África do Sul, a cultivar A4 apresentou comportamento semelhante ao observado na Austrália, com altos índices de cruzamento. Algumas cultivares, entretanto, mostraram maior proporção de frutos autopolinizados, como a ‘814’, com apenas 10% de cruzamentos no local analisado.
Para os pesquisadores, os dados reforçam a necessidade de redesenhar os pomares de macadâmia, uma vez que essa cultura depende fortemente da polinização cruzada para formar frutos maduros com qualidade superior.