O estado do Paraná lidera a produção nacional de
Segundo o presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette, a aquicultura é uma cadeia estruturada e consolidada no Paraná, cuja relevância também é sustentada pela diversificação propiciada pelo produto. “Hoje, há diversas utilizações do peixe, com todas suas partes aproveitadas em diferentes processos. Tudo isso valoriza ainda mais a cadeia produtiva”, compartilhou.
Uma das iniciativas vem do Ceará, onde pesquisadores desenvolveram produtos com a pele de tilápia utilizados no tratamento de queimaduras. A pele do peixe funciona como um curativo que, quando acondicionado sobre as feridas, evita a perda de líquidos, impede a contaminação e reduz o tempo de tratamento em até dois dias. Além disso, o curativo não precisa ser trocado diariamente, evitando dor e desconforto aos pacientes.
“O Brasil nunca teve nenhuma pele animal registrada na Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] para tratamento de queimaduras. Temos quatro bancos de pele humana. Porém, a quantidade produzida por eles é insuficiente para os tratamentos. Tenho 44 anos de labuta na área de queimaduras e só utilizei pele humana duas vezes”, revelou o médico Edmar Maciel Lima Jr., coordenador geral da pesquisa com a pele de tilápia.
Segundo Lima, a opção pela pele da tilápia se deu em função da disponibilidade do peixe e pelos bons resultados encontrados em testes. “No estudo histológico vimos que a pele da tilápia tem a proteína colágeno tipo 1 em maior quantidade do que a pele humana, além de ser resistente à tração e ter um bom grau de umidade”, explicou.
Produção de Sorvetes
As possibilidades do uso da tilápia vão além. Em 2019, a doutoranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Rural Sustentável da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) Ana Maria da Silva desenvolveu um produto inusitado para auxiliar a alimentação da filha, que na época estava grávida e enfrentava um câncer.
O tratamento quimioterápico causava feridas na boca da jovem, dificultando a alimentação. Um dos poucos alimentos que ela conseguia ingerir era o sorvete, que, por ser gelado, aliviava as dores. Porém, seu valor nutricional era insuficiente. Diante disso, Ana Maria decidiu inserir a proteína de peixe no sorvete. Por meio de um processo que transforma a carne da tilápia em líquido, foi possível criar um sorvete rico em proteína, que mantém as características e o sabor da sobremesa.
Em outubro, o sorvete de tilápia conquistou o terceiro lugar na Maratona de Inovação do Pescado no AgriFutura, principal encontro da cadeia produtiva do pescado da América Latina.
Usos diversos
Outro projeto que chama a atenção vem do litoral do Paraná. Por lá, iniciativas transformam a pele, não apenas da tilápia, mas também de outras espécies de peixes, em couro, utilizado para fazer bolsas, sapatos e diversos itens de artesanato.
O potencial da pele de tilápia também já foi identificado pelas cooperativas, responsáveis pela maior parte da produção estadual. A C.Vale, por exemplo, exporta 75 toneladas de pele de tilápia todos os meses para Taiwan para a produção de cosméticos.