O Brasil ocupa as primeiras posições na produção e
Os números são da plataforma on-line de dados sobre logística
A laranja, por exemplo, está tradicionalmente centralizada em São Paulo. Mesmo dentro do estado, a concentração é grande: as microrregiões de Avaré, Bauru, Botucatu e São João da Boa Vista respondem por um quarto da colheita da fruta.
Nas cadeias de produção animal, a concentração é menor. A de bovinos é a que está menos concentrada: para chegar à metade da produção é preciso somar 56 microrregiões, nas cinco grandes regiões do país. É também a atividade agropecuária com maior participação do Norte: Pará, Rondônia e Tocantins têm áreas de destaque no efetivo de rebanho de bovinos. As granjas de frangos e suínos estão na direção oposta, com ocorrência predominante na região Sul.
O que explica
Segundo o analista André Rodrigo Farias, da Embrapa Territorial (SP), os diferentes níveis de concentração das atividades agropecuárias podem resultar de fatores como as características dos produtos e dos sistemas de produção. “A cultura do algodão, por exemplo, exige maquinário e estruturas de processamento e beneficiamento bastante específicas, o que demanda importantes investimentos a longo prazo. Isso restringe a ampliação da área de produção e favorece a concentração nos locais mais competitivos”, avaliou.
Em alguns casos, aspectos culturais e históricos têm papel relevante na especialização dos territórios. “A produção de frangos e suínos, concentrada principalmente em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, está bastante relacionada à própria história de colonização desses estados e à estrutura fundiária marcada pela agricultura familiar. O conhecimento acumulado nessas cadeias produtivas, associado ao sucesso do modelo de integração das propriedades familiares por meio de cooperativas, impulsiona a atividade na região”, pontuou Farias.
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Café e eucalipto
Culturas perenes como café e eucalipto também formam polos de produção, pois exigem condições específicas de solo e clima, além de investimentos financeiros significativos. As florestas plantadas para produção de celulose e papel estão em polos espalhados em dez estados. Mas apenas três microrregiões somam um quarto da produção: Três Lagoas (MS), Bauru (SP) e Porto Seguro (BA). Algo parecido ocorre com o café: Minas Gerais é o estado com maior destaque. Mas o mapa com as microrregiões onde está 50% das safras exibe também pequenos polos de produção na Bahia, Espírito Santo, São Paulo e Rondônia.
“As duas culturas, café e eucalipto, têm a característica comum de serem perenes e exigentes de condições edafoclimáticas específicas, ou seja, necessitam de tipos de solos favoráveis, disponibilidade hídrica, temperaturas e precipitação adequadas nos ciclos produtivos, entre outros fatores físicos”, analisou Farias.
Por serem culturas perenes, também demandam investimentos financeiros significativos para a formação das áreas de produção, o que geralmente é realizado em locais onde as condições ambientais, sociais e econômicas são mais favoráveis. “Esses fatores contribuem para a formação de polos de produção de café e eucalipto. Nesse sentido, as culturas se diferem, por exemplo, de soja e milho, que são inseridas nos sistemas de produção, permanecem por três a quatro meses no campo e são cultivadas em janelas de tempo específicas ao longo do ano, o que amplia as possibilidades de cultivo em diferentes regiões do Brasil”.
Cana-de-açúcar e grãos
A produção de cana-de-açúcar vem crescendo para além do estado de São Paulo. O mapa com as localidades que respondem por metade da produção do País abrange também outros três estados, mas nas proximidades do território paulista: Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. São 20 microrregiões, de onde se colheu quase 400 milhões de toneladas da matéria-prima para açúcar e etanol em 2023.
Compartilhando áreas e estruturas de transportes e armazenagem, a soja e o milho distribuem-se de forma parecida pelo território nacional. Mesmo presentes em quase todos os estados, o volume de produção desses grãos é bastante concentrado na área central do País. Em 2023, um quarto de todo o milho nacional saiu de apenas quatro microrregiões: Alto Teles Pires (MT), Dourados (MS), Sinop (MT) e Sudoeste de Goiás (GO). No caso da soja, seis microrregiões responderam por um quarto da produção.
A concentração das cadeias produtivas no território influencia fortemente a logística e, por isso, a análise desse fator integra o SITE-MLog. “Em produções bastante concentradas, o foco está em aumentar a eficiência das rotas já estabelecidas para exportação. No caso do café e da laranja, o escoamento se dá majoritariamente por meio do porto de Santos (SP). Em casos de produções menos concentradas, como o caso da bovinocultura e, principalmente, das culturas da soja e milho, há uma disputa constante entre as diferentes opções logísticas para a exportação”, explicou Farias.
Essa disputa inclui as escolhas de modal de transporte (rodoviário, ferroviário ou hidroviário), o porto marítimo para exportação e possíveis infraestruturas para armazenamento e transbordo das cargas. “A análise de concentração também é relevante para estratégias de incremento de produtividade e o incentivo à adoção de novas tecnologias, cujas ações podem ser direcionadas para aquelas regiões que mais concentram os volumes de produção, potencializando a eficácia das medidas”, finalizou.