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Cidade mineira é a 2ª no ranking de número de cachaçarias registradas no país

Alto do Rio Doce soma 22 estabelecimentos, atrás apenas de Viçosa do Ceará

No distrito de Abreus, em Alto Rio Doce, a produção começou na década de 50

A cidade de Alto do Rio Doce, no Campo das Vertentes, é a segunda do Brasil com maior número de cachaçarias registradas. O levantamento do Ministério da Agricultura e Pecuária mostrou 22 estabelecimentos, três a menos do que a cidade de Viçosa do Ceará (CE), que é a primeira da lista. Entre os dez municípios no topo do ranking, cinco são de Minas Gerais.

No distrito de Abreus, em Alto Rio Doce, a produção começou na década de 50 com a Cachaça Rainha da Cana. “O Juventino Cardoso foi o primeiro a produzir cachaça aqui, em 1953. Ele tinha uns terrenos em Chacrinhas, no Alto Rio Doce, mas lá era muito morro. Ele achou que aqui tinha o terreno propício para a produção de cachaça”, contou Epitácio de Oliveira Cardoso, neto de seu Juventino. Atualmente o filho do fundador, Pedro Henrique Vieira de Oliveira, faz a gestão do engenho.

Hoje, a produção gira em torno de 700 litros de cachaça por dia. Parte é vendida pura, conhecida como “prata”, e parte vai para os barris de carvalho e amburana para o envelhecimento, que varia de 18 meses a 6 anos e meio, é a chamada cachaça “ouro”. Ambas são bebidas premiadas. A cachaça envelhecida em tonel de amburana, por exemplo, ganhou medalha de ouro no 1º Festival Mundial da Cachaça, realizado este ano, em Salinas.

Um produto que tem feito muito sucesso também são as bebidas mistas, uma mistura de cachaça com frutas e outros ingredientes que dão um sabor adocicado e textura licorosa. Hoje, são 20 sabores diferentes. “Nós ganhamos muito espaço com essas bebidas mistas. Vendemos para outros estados do país, já fizemos uma exportação para a Carolina do Norte (EUA) e, com essa visibilidade, o produto ficou bastante conhecido”, comemorou Pedro Henrique.

Busca por conhecimento

Apesar de toda a tradição e conhecimento passados de pai para filho, a empresa sentiu que podia melhorar os processos e aumentar o faturamento. Foi então que Pedro buscou o apoio do Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) oferecido pelo Sistema Faemg Senar, por meio do Sindicato dos Produtores Rurais de Barbacena.

“O acompanhamento deles é muito importante porque é um olhar sobre o processo como um todo: a parte estrutural, de produção, financeira, além dos cursos que disponibilizam, não só para nós, proprietários, mas também para os funcionários aprenderem mais da parte de produção”, afirmou Pedro.

Dentro da produção de cachaça, o Sistema Faemg Senar oferece os cursos de Boas Práticas, de Produção de Cachaça e de Corte e Colheita Manual de Cana-Açúcar. Segundo o técnico de campo Luiz Augusto da Silva Monteiro, a melhora na qualidade dos produtos é muito perceptível à medida em que há a qualificação. “O responsável pelo setor na Rainha da Cana fez o curso de Produção de Cachaça e a gente já consegue notar a diferença no sabor”, explicou.

Bem pertinho dali, outra propriedade vem se destacando na produção, ainda pequena, mas com muita qualidade. Adélio Pires Araújo, da Cachaçaria Abreuense, também faz parte da turma de ATeG de Luiz Augusto, mas praticamente recomeçou do zero a produção de cachaça que aprendeu com o pai há mais de 40 anos. Hoje, ele tem um alambique, um barril de carvalho para envelhecer parte da produção, mas conta que em torno de 90% comercializada é a cachaça prata.

“É tudo artesanal e orgânico. A cana é plantada aqui mesmo, sem nenhum agrotóxico, tirada na enxada, do jeitinho que meus pais faziam”, contou Adélio. Cada alambicada, como chama a produção diária, rende de 30 a 40 litros. O produtor já pensa, com o apoio do Sistema Faemg Senar, ir em busca do selo de produto orgânico.

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Agora, se você não tem o costume de apreciar a bebida, mas quer saber o que define a tal da “cachaça boa”, Adélio explicou. “Ela tem que descer suave, não pode queimar a garganta, tem que ter um teor alcoólico moderado e faz você se sentir bem. É como quando você come uma fruta gostosa, você se sente bem”, comparou o produtor.

*Giulia Di Napoli colabora com reportagens para o portal da Itatiaia. Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.