Sobrecarga mental feminina: sintomas e como resolver o problema

Ansiedade, depressão e esgotamento emocional estão ligados ao acúmulo invisível de responsabilidades dentro de casa

Uma pesquisa da ONG Think Olga revelou que 45% das brasileiras já receberam diagnóstico de ansiedade ou depressão. O dado chama atenção para um problema silencioso que faz parte da rotina de milhões de mulheres no país: a sobrecarga mental feminina, um tipo de trabalho invisível que vai muito além de lavar, cozinhar ou limpar.

Esse peso está relacionado ao esforço constante de planejar, organizar e antecipar tudo o que envolve a casa e a família. É lembrar do uniforme das crianças, do cardápio da semana, das consultas médicas, das contas a pagar e até do momento certo de comprar mantimentos. Mesmo quando outras pessoas ajudam na execução das tarefas, o controle mental costuma continuar nas mãos das mulheres.

Dados do IBGE reforçam essa desigualdade. Mais de 92% das mulheres com 14 anos ou mais realizam afazeres domésticos e cuidados com pessoas, enquanto entre os homens esse número é de 80,8%. Além disso, elas dedicam quase 10 horas semanais a mais do que eles a esse tipo de trabalho.

O que é a sobrecarga mental feminina

O conceito ganhou popularidade a partir do termo “emotional labor”, criado nos anos 1980, e foi amplamente divulgado por meio de ilustrações que mostraram como a gestão da casa costuma ser atribuída automaticamente às mulheres. Especialistas explicam que não se trata apenas de fazer, mas de pensar, coordenar e acompanhar cada detalhe da rotina doméstica.

Esse acúmulo constante pode gerar a sensação de estar sempre em alerta, sem descanso real, o que afeta diretamente a saúde emocional.

Sinais de alerta

Estudos indicam que mulheres têm mais chances de desenvolver burnout do que os homens. Os sintomas aparecem tanto no corpo quanto no comportamento. Cansaço persistente, dores de cabeça, tensão muscular, alterações no sono e no apetite são alguns dos sinais físicos mais comuns.

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No campo emocional, surgem irritabilidade, dificuldade de concentração, lapsos de memória, esgotamento constante, culpa excessiva e sensação de incapacidade. Segundo órgãos de saúde, quando essa carga não é dividida de forma justa, o risco de problemas mais graves aumenta.

Pesquisas internacionais também associam o estresse crônico e a fadiga prolongada ao surgimento de doenças sérias, o que reforça a importância de atenção e prevenção.

Tripla jornada

Mesmo quando trabalham fora, as mulheres continuam sendo as principais responsáveis pela casa. O IBGE mostra que, entre pessoas ocupadas no mercado de trabalho, elas dedicam em média quase sete horas semanais a mais que os homens aos afazeres domésticos e ao cuidado de outras pessoas.

Outro dado chama atenção: viver com mais familiares aumenta ainda mais a carga feminina. Entre os homens, o maior envolvimento com tarefas domésticas acontece principalmente quando moram sozinhos.

Como dividir as tarefas de forma mais justa

Especialistas apontam que a mudança começa com diálogo e organização. Conversar de forma clara sobre o que é a carga mental ajuda a tornar o problema visível. Criar listas completas de tarefas, usar aplicativos ou quadros visuais e dividir responsabilidades de forma equilibrada são passos importantes.

Também é fundamental evitar que apenas uma pessoa fique responsável pelo planejamento. A divisão deve incluir o pensar e o organizar, não só o fazer. Rodízio de tarefas menos agradáveis e revisões periódicas da rotina ajudam a manter o equilíbrio.

A importância da proatividade masculina

Um dos principais desafios relatados por mulheres é a falta de iniciativa dos parceiros. Frases como “é só avisar” reforçam a ideia de que a responsabilidade principal não é compartilhada. Especialistas destacam que corresponsabilidade significa perceber o que precisa ser feito e agir, sem esperar pedidos.

Dados do IBGE indicam que homens com maior escolaridade tendem a participar mais das tarefas domésticas, o que mostra que informação e conscientização fazem diferença.

Toda a família pode participar

Crianças e adolescentes também podem e devem colaborar, respeitando idade e segurança. Guardar brinquedos, arrumar a mesa, lavar louça ou ajudar na limpeza são atividades que ensinam responsabilidade e autonomia desde cedo.

Autocuidado e busca por apoio

Além da divisão justa das tarefas, cuidar da saúde mental passa por hábitos como boa alimentação, sono regular, atividade física e manutenção de vínculos sociais. Quando o cansaço e o estresse persistem, procurar ajuda profissional é essencial.

A sobrecarga mental feminina não é um problema individual, mas resultado de uma estrutura social desigual. Reconhecer essa realidade e promover mudanças dentro de casa é um passo importante para relações mais saudáveis e para a proteção da saúde das mulheres.

Jornalista graduado com ênfase em multimídia pelo Centro Universitário Una. Com mais de 10 anos de experiência em jornalismo digital, é repórter do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Antes, foi responsável pelo site da Revista Encontro, e redator nas agências de comunicação Duo, FBK, Gira e Viver.

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