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A verdade por trás do filme perdido do ‘Quarteto Fantástico’ e por que ele virou uma ‘maldição’

Produzido às pressas para manter direitos autorais, longa de 1994 jamais chegou aos cinemas, mas ganhou reconhecimento da Marvel três décadas depois

Na Hollywood dos anos 1980, o produtor alemão Bernd Eichinger comprou, por cerca de US$ 250 mil, os direitos para adaptar ‘ Quarteto Fantástico’ ao cinema - mais com o intuito de manter a posse da propriedade intelectual do que de realizar um filme. O acordo com Stan Lee previa que, caso nenhum longa fosse feito até o fim do contrato, os direitos voltariam para a Marvel.

Com o prazo prestes a expirar em 1992, Eichinger acionou o produtor Roger Corman e produziu, com apenas US$ 1 milhão, uma versão de baixo orçamento do grupo de super-heróis. Dirigido por Oley Sassone, até então especialista em videoclipes, o filme foi rodado em apenas três semanas.

Corman encarou o desafio com curiosidade: “Pensei: ‘Poderia ser interessante ver se consigo fazer algo assim funcionar’”, disse ao site Business Insider em 2017. Apesar das limitações, o elenco e a equipe técnica trabalharam com empenho, acreditando que participavam de uma adaptação legítima. “Nos movemos com nosso coração e nossa habilidade artística para fazer o melhor filme possível com o que tínhamos”, afirmou Sassone no documentário ‘Doomed!’.

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O elenco principal incluía Alex Hyde-White (Senhor Fantástico), Rebecca Staab (Mulher Invisível), Jay Underwood (Tocha Humana) e Michael Bailey Smith (Ben Grimm humano), além de Carl Ciarfalio (Coisa), Joseph Culp (Doutor Destino) e Kat Green (Alicia Masters). Todos atuaram por salários mínimos e até investiram do próprio bolso em divulgação. “Terminei pagando uns 15 mil dólares a um publicitário”, revelou Smith à Vanity Fair. “Fomos a hospitais, fizemos programas de rádio”.

Mas o lançamento, previsto para maio de 1994, jamais aconteceu. Mesmo com trailer nos cinemas e presença do elenco em eventos promocionais, o filme foi engavetado. Segundo Stan Lee, Eichinger nunca teve intenção de lançá-lo. O executivo da Marvel, Avi Arad, teria pago milhões para impedir a estreia: “Sem nem ver o filme inteiro, ele pagou e ordenou que todas as cópias fossem destruídas”.

Apesar disso, versões piratas circularam em convenções e pela internet, transformando a obra em item cult entre fãs de quadrinhos e cinema B. "É como ter um filho que virou milionário e outro que é um idiota. Mas você ama os dois”, disse Corman à Business Insider.

A redenção viria 30 anos depois com o lançamento de ‘Quarteto Fantástico: Primeiros Passos’, da Marvel Studios. Os quatro protagonistas do filme de 1994 ganharam participações especiais e homenagens.

Na nova produção, os veteranos aparecem como jornalistas e trabalhadores salvos pelos heróis. Também participam de uma montagem com agradecimentos de cidadãos ao Quarteto. A recepção calorosa do público durante a estreia em Los Angeles foi simbólica. “Acho que a maldição foi quebrada”, afirmou Jay Underwood.

O reconhecimento da Marvel serviu como reparação. Três décadas depois, o ‘filme perdido’ foi enfim acolhido como parte essencial da história dos super-heróis no cinema. “Para nós, a Marvel Studios nos reconhecer, significou fechar uma ferida que durou 30 anos”.

Jornalista graduado com ênfase em multimídia pelo Centro Universitário Una. Com mais de 10 anos de experiência em jornalismo digital, é repórter do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Antes, foi responsável pelo site da Revista Encontro, e redator nas agências de comunicação FBK e Viver.