Uma pesquisa realizada por cientistas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revelou que frutos típicos do Cerrado brasileiro podem oferecer benefícios nutricionais comparáveis aos de frutas amplamente consumidas.
O estudo, publicado no Brazilian Journal of Food Technology, analisou sete espécies nativas: abacaxi-do-cerrado, angelim-rasteiro, araçá-do-campo, araticum, caraguatá, lobeira e pequi.
Segundo o biólogo Renato D’Elia Feliciano, da UFSCar, a escolha das espécies foi inspirada por um estudo anterior, que analisava a dieta de animais do Cerrado como o lobo-guará e o cachorro-do-mato.
“Os hábitos alimentares desses animais sugeriram o potencial nutricional de algumas frutas silvestres para o consumo humano”, explica.
Entre os destaques, a pesquisa identificou que a lobeira, o angelim-rasteiro e o abacaxi-do-cerrado são ricos em proteínas, nutriente essencial para a construção dos tecidos e manutenção da massa muscular. Já o araçá-do-campo, o araticum e o caraguatá se são ricos em carboidratos, que fornecem energia ao organismo.
“O teor de alguns desses nutrientes se aproxima ao das frutas comercializadas em larga escala”, destaca Feliciano.
Potencial nutricional e cultural
Além do valor nutricional, os pesquisadores enfatizam também a importância de valorizar as espécies nativas para diversificar a alimentação e preservar práticas alimentares tradicionais.
“Precisamos combater a monotonia alimentar e ampliar o acesso a diferentes fontes de nutrientes”, afirma o nutricionista Leandro Baptista, do Hospital de Urgências de Goiás (HUGO), instituição pública gerida pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
Baptista também alerta sobre a desinformação envolvendo frutas, especialmente em relação à frutose. “O problema está no consumo excessivo de frutose industrializada presente em alimentos ultraprocessados, não nas frutas em si”, esclarece.
Conheça os frutos:
Abacaxi-do-cerrado (Ananas ananassoides)
Chamado de abacaxizinho-do-cerrado, ele pode apresentar um sabor ácido, e é mais usado em sucos e doces. Ele apresenta também um bom teor de fibras e proteínas, além de conter bromelina, enzima que auxilia na digestão.
Angelim-rasteiro (Andira humilis)
Pouco conhecido e com uso medicinal entre povos tradicionais, a espécie ostenta uma flor bonita, mas requer estudos mais profundos para avaliar toxicidade e aplicações seguras.
Araçá-do-campo (Psidium grandifolium)
Da mesma família da goiaba, tem coloração amarelo-clara e sabor suave. Ela é rica em carboidratos, e é uma das espécies menos conhecidas da população.
Araticum (Annona crassiflora)
Também chamado de marolo, tem polpa perfumada, rica em fibras, potássio e compostos antioxidantes. É utilizado em compotas, sucos e sorvetes. O araticunzeiro atinge de três a oito metros de altura e cada fruto pode chegar a 2 quilos e 10 centímetros de diâmetro
Caraguatá (Bromelia balansae)
Fruto perfumado e ácido, apresenta propriedades digestivas e alto teor de fibras. É aproveitado na produção de refrescos e farinhas nutritivas.
Lobeira (Solanum lycocarpum)
Conhecida como “fruta-do-lobo”, tem sabor azedo e é usada em geleias e compotas. Deve ser consumida madura, pois os frutos verdes contêm alcaloides potencialmente tóxicos.
Pequi (Caryocar brasiliense)
O famoso “ouro do Cerrado” é rico em carotenoides e gorduras boas. Sua polpa é base para pratos típicos como a galinhada e diversos produtos derivados.