Dois estudos inéditos realizados por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) apontam que a quantidade de gordura e de massa muscular pode influenciar diretamente no aumento da vida de
As pesquisas foram desenvolvidas no Centro de Inovação Teranóstica em Câncer (CancerThera), com apoio da Fapesp, e indicam que o acompanhamento nutricional precoce tem impacto positivo nos resultados do tratamento.
O papel da nutrição no câncer
De acordo com os pesquisadores, pacientes com câncer de cabeça e pescoço são os que mais sofrem com desnutrição e perda de peso, devido às dificuldades para mastigar e engolir causadas pela própria doença e pelos tratamentos. Esse quadro agrava o risco clínico e reduz a resposta ao tratamento.
Resultados do primeiro estudo
O primeiro trabalho, publicado na revista Frontiers in Nutrition, analisou 132 pacientes com câncer de cabeça e pescoço localmente avançado. Por meio de tomografias da região cervical (C3), os pesquisadores avaliaram o índice de gordura e massa muscular.
Os resultados mostraram que pacientes com mais gordura corporal viveram, em média, 27,9 meses, enquanto os com baixos índices sobreviveram 13,9 meses, o dobro de tempo de vida. A preservação da massa muscular também foi associada a maior sobrevida: 22,9 meses contra 8,6 meses em pacientes com baixa musculatura.
“Esses dados reforçam a importância da terapia nutricional precoce. Identificar e corrigir a perda de gordura e de massa muscular logo no início pode melhorar significativamente o prognóstico”, destaca Mendes.
Impacto em casos metastáticos
O segundo estudo, publicado na Clinical Nutrition ESPEN, acompanhou 101 pacientes com câncer de cabeça e pescoço metastático ou recorrente atendidos no Hospital de Clínicas da Unicamp. A análise confirmou que a baixa massa muscular está associada a piores desfechos clínicos.
Segundo os resultados, todos os pacientes com baixa musculatura morreram em até 24 meses, enquanto alguns com maior volume muscular ainda estavam vivos após 40 meses.
Novas perspectivas para o tratamento
Os dois estudos reforçam a necessidade de incorporar a avaliação da composição corporal no cuidado clínico dos pacientes com câncer. Como as tomografias fazem parte da rotina oncológica, essa análise pode ser feita com facilidade e oferecer dados valiosos para o acompanhamento médico.
“O diferencial do nosso trabalho foi considerar tanto a gordura quanto o músculo. Mostramos que não é apenas a quantidade de gordura que importa, mas também como ela se comporta no organismo”, explica Mendes.
Para a pesquisadora, o principal recado é que o acompanhamento nutricional não deve ser negligenciado. “A avaliação da composição corporal precisa fazer parte do tratamento, porque pode aumentar o tempo e a qualidade de vida dos pacientes”, conclui.
Com agências
(Sob supervisão de Lucas Borges)