Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) mostrou que os efeitos do estresse podem variar conforme a idade e o sexo biológico. A pesquisa, feita com camundongos, revelou que o estresse social, aquele observado, sem participação direta, afeta o cérebro e o comportamento de forma diferente entre machos e fêmeas, e é mais intenso em animais jovens.
O trabalho foi publicado na revista científica Physiology & Behavior e contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Segundo a professora Daniela Baptista de Souza, do Programa Interinstitucional de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas (UFSCar/Unesp), os resultados indicam que as fêmeas adultas demonstraram maior resiliência ao estresse em comparação aos machos.
“Nosso estudo amplia a compreensão sobre como o estresse atua no cérebro e no comportamento e pode contribuir para tratamentos mais personalizados, que levem em conta idade e sexo biológico”, explicou a pesquisadora. Apesar de as mulheres apresentarem, historicamente, maior prevalência de ansiedade e depressão, Souza lembra que a maioria das pesquisas sobre o tema foi feita com homens ou animais machos, limitando o entendimento sobre as diferenças entre os sexos.
Simulação de estresse social
Para reproduzir em laboratório situações de estresse social comuns entre humanos, como bullying, humilhação ou exposição a traumas, os pesquisadores aplicaram um protocolo chamado WSDS (Witness Social Defeat Stress). Nele, um camundongo “testemunha” observa outro sendo intimidado por um terceiro, o “agressor”.
Durante o experimento, os três animais permanecem na mesma caixa, separados por uma barreira transparente. O intruso é confrontado diretamente pelo agressor, enquanto a testemunha apenas observa. O processo dura cerca de 15 minutos sendo repetido por dez dias. Após um mês, os animais são submetidos a novos testes para avaliar respostas ligadas à depressão. Um grupo-controle observou interações pacíficas, sem agressões.
Diferenças entre jovens e adultos
Os pesquisadores testaram tanto camundongos adultos (com 60 dias de vida) quanto jovens (21 dias). Os resultados mostraram que os mais novos apresentaram respostas mais fortes relacionadas à depressão, afetando machos e fêmeas.
Entre os adultos, os efeitos foram diferentes entre os sexos: as fêmeas tiveram menor ativação em áreas do cérebro ligadas ao controle emocional, como a amígdala e o hipocampo, indicando maior resistência ao estresse.
“Nas análises relacionadas ao medo de objetos novos, as fêmeas demonstraram melhora e apresentaram menor ativação em regiões cerebrais normalmente associadas ao estresse. Esse efeito não foi observado nos machos”, destacou ela, em entrevista à Agência Fapesp.
Adaptação do teste para fêmeas
Como o protocolo WSDS foi originalmente desenvolvido para machos, os pesquisadores precisaram ajustá-lo para o comportamento das fêmeas, que não são tão territorialistas. A adaptação permitiu induzir o estresse apenas pela observação, sem confronto direto.
O professor Ricardo Luiz Nunes de Souza, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp e líder do estudo, ressaltou que a pesquisa ajuda a entender melhor como o estresse afeta a saúde mental.
“Regiões como o hipocampo e a amígdala tendem a ser especialmente impactadas, o que mostra o efeito profundo do estresse sobre o equilíbrio emocional”, afirmou. Além dos dois professores, também participaram do estudo Julian Humberto Avalo-Zuluaga, Stephany Viatela Ramírez, Lucas Canto-de-Souza e Javier Leonardo Rico.