Estudo mostra que vacina do Butantan reduz carga viral da dengue

Pesquisa indica menor replicação do vírus em pessoas vacinadas e não aponta risco de variantes resistentes

Ampolas da vacina contra dengue desenvolvida pelo Butantan

Um estudo publicado na revista The Lancet Regional Health – Americas aponta que a vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan reduz a replicação do vírus em pessoas vacinadas que ainda assim foram infectadas, os chamados casos de escape vacinal.

Segundo os pesquisadores, a menor carga viral pode resultar em sintomas mais leves e menor risco de complicações para os pacientes. Do ponto de vista da saúde pública, a redução da carga viral também pode diminuir a chance de transmissão do vírus para os mosquitos.

A pesquisa analisou 365 amostras de sangue de participantes do estudo clínico de fase 3 da vacina, incluindo pessoas vacinadas e indivíduos que receberam placebo. As amostras positivas eram dos sorotipos DENV-1 e DENV-2, que circularam no país entre 2016 e 2021.

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De acordo com o professor Maurício Lacerda Nogueira, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, os dados sugerem que a vacinação pode contribuir para reduzir a circulação do vírus. Ele ressalta, no entanto, que novos estudos ainda são necessários para confirmar esse efeito em larga escala.

O trabalho também avaliou se a vacina poderia favorecer o surgimento de variantes resistentes. Para isso, foram sequenciados os genomas completos de 160 amostras e realizada uma análise filogenética do vírus. Os resultados mostram que as linhagens virais encontradas em vacinados e não vacinados eram as mesmas.

Além disso, os pesquisadores analisaram as mutações do vírus dentro de cada indivíduo e não observaram diferença nas taxas de mutação entre os dois grupos. Os dados indicam que a vacina não exerce pressão seletiva que favoreça o surgimento de variantes capazes de escapar da resposta imune.

A vacina Butantan-DV foi aprovada pela Anvisa no fim de novembro. A previsão é que o imunizante passe a ser oferecido na rede pública de saúde em 2026 para pessoas entre 12 e 59 anos.

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Na fase 3 dos testes clínicos, que envolveu mais de 16 mil voluntários de 14 estados brasileiros, a vacina apresentou 74,7% de eficácia geral, 91,6% contra casos graves de dengue e 100% de eficácia na prevenção de hospitalizações.

O estudo também contextualiza o cenário epidemiológico brasileiro, considerado hiperendêmico para dengue, com circulação simultânea de diferentes linhagens do vírus. Em 2024, o país registrou a maior epidemia da história, com mais de 6 milhões de casos e cerca de 6 mil mortes confirmadas.

Durante o período analisado no ensaio clínico, os sorotipos predominantes foram o DENV-1 e o DENV-2. Segundo os autores, a eficácia da vacina contra os sorotipos DENV-3 e DENV-4 seguirá sendo avaliada em estudos futuros, conforme novos dados forem obtidos.

Com agências
(Sob supervisão de Alex Araújo)

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Izabella Gomes é estudante de Jornalismo na PUC Minas e estagiária na Itatiaia. Atua como repórter no jornalismo digital, com foco nas editorias de Cidades, Brasil e Mundo.

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