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Dietas reduzem risco e a progressão de demências, como Alzheimer, afirma estudo

Especialistas entrevistados pela reportagem afirmam que a alimentação desempenha um papel fundamental na saúde do nosso sistema nervoso

Peixe, grãos, verduras e frutas são alguns dos alimentos que contribuem para reduzir os riscos de doenças

Uma estudo da Universidade Yonsei, na Coreia do Sul, revelou que algumas dietas podem reduzir em até 28% o risco de desenvolver demência. O estudo foi publicado na revista científica Journal of Nutrition, Health and Aging.

Segundo os pesquisadores, mais de 55 milhões de pessoas em todo o mundo têm demência, caracterizada por declínios na memória e no pensamento, com a doença de Alzheimer sendo responsável por 60 a 70% dos casos. Quase 10 milhões de novos casos surgem anualmente, tornando a demência a sétima principal causa de morte globalmente e um grande contribuinte para a incapacidade entre adultos mais velhos.

“A alimentação desempenha um papel fundamental na saúde do nosso sistema nervoso, especialmente na prevenção de doenças como o Alzheimer”, explica o médico neurologista Ricardo Dornas, especialista em Neurologia Cognitiva pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) à Itatiaia.

“Embora a demência, especialmente a doença de Alzheimer, tenha origem multifatorial, incluindo genética, envelhecimento, e outros fatores de risco, um padrão alimentar saudável está associado a menor risco de declínio cognitivo”, ressalta a médica geriatra mineira da Saúde no Lar, Simone de Paula Pessoa Lima.

A médica ressalta que a dieta sozinha não substitui outras medidas preventivas, como a prática de exercícios, controle de doenças crônicas e estímulos cognitivos.

Dietas e alimentos

Os médicos entrevistados pela Itatiaia afirmam que as dietas Mediterrânea e MIND são as mais estudadas nesse contexto.

A Dieta Mediterrânea é rica em frutas, vegetais, grãos integrais, legumes, peixes e azeite de oliva. “Esses alimentos fornecem antioxidantes e compostos anti-inflamatórios que protegem os neurônios do estresse oxidativo e da inflamação, processos que contribuem para o envelhecimento cerebral. O azeite de oliva, por exemplo, é uma fonte de gorduras saudáveis essenciais para a estrutura das células cerebrais”, explica Dornas, mestre em Neurociências pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Já a Dieta MIND — que significa “Intervenção de Dieta Mediterrânea-DASH para Atraso Neurodegenerativo” — é uma abordagem alimentar que combina aspectos da Dieta Mediterrânea com a dieta DASH. Segundo Dornas, a dieta DASH (traduzido do inglês: Abordagens Dietéticas para Parar a Hipertensão), por sua vez, é focada na redução da pressão arterial, um fator crucial para a saúde cardiovascular e, consequentemente, cerebral.

A Dieta MIND prioriza vegetais de folhas verdes, frutas vermelhas (como as amoras e morangos), grãos integrais, feijões, oleaginosas e peixes. “Essa dieta atua não só combatendo a inflamação, mas também melhorando a saúde cardiovascular – um fator de risco importante para a demência. Além disso, há uma crescente área de pesquisa sobre como essas dietas influenciam a microbiota intestinal, que tem uma conexão direta com a saúde cerebral”, afirma o neurologista.

Alimentos que destacam por seus benefícios diretos ao cérebro:

  • Vegetais de folhas verdes escuras: espinafre, couve, ora-pro-nóbis;
  • Frutas vermelhas: amoras, morangos e mirtilo;
  • Peixe: especialmente os ricos em ômega-3 como o salmão;
  • Oleaginosas: nozes e amêndoas;
  • Grãos integrais: aveia, arroz integral;
  • Azeite de oliva extra virgem

“Esses padrões alimentares são ricos em frutas, verduras, legumes, peixes, oleaginosas e azeite de oliva, além de pobre em alimentos ultraprocessados, açúcar e gorduras saturadas. Eles funcionam promovendo saúde cardiovascular, diminuindo inflamações e o estresse oxidativo, fatores que também estão relacionados ao desenvolvimento de demências”, afirma a geriatra Simone.

Contraindicações

Segundo neurologista alguns alimentos que são mais do que alimentos “contraindicados”, quando consumidos em excesso, podem ser prejudiciais à saúde cerebral e devem ser limitados. “O padrão alimentar ocidental, caracterizado por um alto consumo de certos itens, é o que mais nos preocupa”, afirma Dornas.

Alimentos ricos em gorduras saturadas e trans, como carnes vermelhas em excesso,
manteiga, queijos gordurosos, frituras e alimentos ultraprocessados, contribuem para a
inflamação e o estresse oxidativo no corpo, incluindo o cérebro. “O consumo elevado de
açúcares adicionados e carboidratos refinados(presentes em doces, refrigerantes, pães
brancos) também está associado a um risco aumentado de problemas cognitivos, pois
podem levar à resistência à insulina, que afeta a saúde cerebral. Além disso, estudos
sugerem que o excesso de sal pode ter um impacto negativo”, explica.

"É fundamental ressaltar que, embora estudos mais recentes venham mostrandoevidências cada vez mais robustas sobre os benefícios dos alimentos como mecanismoneuroprotetor na prevenção do Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas, não háum “alimento milagroso” ou com superpoderes que tenha efeitos espetacularescomprovados na redução do risco de demências. A prevenção reside na adoção de umpadrão alimentar saudável e equilibrado a longo prazo, combinado com outros hábitosde vida saudáveis”
Ricardo Dornas, médico neurologista especialista em Neurologia Cognitiva pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG)

Para quem é recomendado?

Simone explica que as dietas são recomendadas para todos os grupos: quem ainda não tem sintoma, quem tem sintoma ou quem tem predisposição genética. No entanto, tem finalidades e abordagens diferentes.

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  • Pessoas sem sintomas: Para indivíduos sem sintomas ou sinais de comprometimento cognitivo, a adoção de uma dieta saudável funciona como medida preventiva. A intervenção alimentar nesta fase tem maior impacto, pois ajuda a reduzir fatores de risco cardiovasculares (como hipertensão, diabetes e obesidade), que estão ligados ao aumento da probabilidade de desenvolver demências. O ideal é que o hábito alimentar saudável seja implementado o quanto mais cedo possível.
  • Pessoas com sintomas iniciais: Para aqueles que apresentam sintomas leves de declínio cognitivo, como no caso de um diagnóstico de Comprometimento Cognitivo Leve (CCL), as recomendações dietéticas também são úteis. Ainda que os benefícios nessa fase sejam mais modestos, a dieta pode melhorar a qualidade geral de vida, controlar comorbidades e preservar a cognição por mais tempo.
  • Pessoas com predisposição genética: Indivíduos com histórico familiar de Alzheimer ou com presença de genes como o APOE-e4 se beneficiam de uma intervenção nutricional precoce. Como esses pacientes já possuem maior risco genético de desenvolver a doença, mudanças no estilo de vida, incluindo dieta, podem retardar o processo neurodegenerativo associado à predisposição genética.
Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde