Provavelmente você já se deparou com cordões de identificação estampados com peças de quebra-cabeça, girassóis ou até mesmo símbolos do infinito pendurados no pescoço de alguém. Mas o que talvez você não saiba é que esses acessórios vão muito além de um simples item complementar à vestimenta.
Cada vez mais presentes no cotidiano, esses ícones ainda são frequentemente confundidos entre si, embora cada um carregue um significado único. Apesar disso, todos compartilham a missão de sensibilizar a sociedade sobre a importância de oferecer diferentes níveis de suporte para facilitar a inclusão e a interação de pessoas com deficiência, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), em espaços públicos e privados.
“O cordão de identificação é uma porta de entrada. Ele garante a segurança, o bem-estar e a integridade da pessoa com TEA”, explica Glaucia Silva, psicóloga clínica com especialização em neuropsicologia e desenvolvimento infantil.
Segundo Glaucia, além da identificação, o cordão é um recurso que oferece autonomia. “É um símbolo silencioso de comunicação. Muitas vezes, a pessoa com TEA ou com deficiência oculta não consegue ou não quer verbalizar suas necessidades. O cordão ajuda a informar isso sem precisar falar.”
Ela também alerta que o uso do cordão por si só não é suficiente: “É fundamental que a sociedade, especialmente os profissionais que atuam no atendimento ao público, estejam capacitados para reconhecer esses símbolos e saber como agir com empatia e acolhimento. Senão, vira só um enfeite.”
Cordão com símbolo de quebra-cabeça
O cordão com estampa de quebra-cabeça é, possivelmente, o mais conhecido entre os símbolos de identificação. Criado em 1963 por Gerald Gasson, membro do National Autistic Society em Londres, ele representa as dificuldades de compreensão enfrentadas pelas pessoas com o TEA. O desenho da peça remete à complexidade do espectro autista e à ideia de que cada pessoa com autismo é única – como peças diferentes que, juntas, formam um todo.
No Brasil, a fita com a peça de quebra-cabeça foi oficializada como símbolo do autismo por meio da Lei nº 16.756, de 08 de junho de 2018. Essa legislação prevê punição para estabelecimentos públicos (como hospitais e postos de saúde) e privados (como empresas e bancos) que não garantirem atendimento preferencial a pessoas identificadas com o símbolo.
As cores mais comuns no cordão são azul, verde e amarelo, mas não há uma regra rígida – o importante é o reconhecimento do símbolo.
Cordão de girassol
Outro símbolo importante que vem ganhando destaque é o cordão de girassol. Ele foi criado em 2016, no Reino Unido, como uma forma de identificação de deficiências ocultas – condições que não são visíveis, mas exigem atenção e acolhimento. No Brasil, a Lei nº 14.624, sancionada em 17 de julho de 2023, incluiu o símbolo no Estatuto da Pessoa com Deficiência, tornando o uso do girassol oficial em todo o território nacional.
Entre as condições que podem justificar o uso do cordão de girassol estão:
- Autismo
- Câncer
- Asma
- Deficiências cognitivas
- Diabetes
- Intolerância à lactose
- Transtornos ou alergias alimentares
- HIV
- Doença cardíaca
- Lúpus
- Transtornos mentais, como depressão
- Doença de Parkinson
- Reumatismo
- Incontinência urinária
- Entre outras
De acordo com a Hidden Disabilities Sunflower (HDS), organização internacional que lidera a iniciativa, mais de 900 condições já são reconhecidas como deficiências ocultas – e esse número cresce diariamente.
“A pessoa pode ter uma condição séria e não apresentar nenhuma característica física evidente. Por isso, a função do cordão de girassol é justamente oferecer esse aviso não verbal. A empatia começa quando a gente entende que nem tudo é visível”, destaca Glaucia.
Onde conseguir os cordões?
O uso dos cordões de identificação é facultativo, ou seja, cabe à própria pessoa decidir utilizá-lo ou não. Apesar disso, ele pode ser uma ferramenta importante para garantir acessibilidade, compreensão e respeito em espaços públicos e privados.
Os cordões com símbolos de quebra-cabeça e girassol são facilmente encontrados em lojas físicas, farmácias especializadas ou por meio de sites na internet. Algumas instituições também oferecem o item gratuitamente para pessoas diagnosticadas.