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Apneia do sono pode dobrar risco de demência em mulheres

Pesquisadores alertam: distúrbio do sono pode acelerar a perda de memória

Entre as mulheres, o impacto da apneia na saúde mental é ainda mais evidente

A apneia obstrutiva do sono pode estar ligada a um risco maior de desenvolver demência, especialmente entre mulheres mais velhas. Essa é a conclusão de um estudo recente conduzido pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e publicado no periódico SLEEP Advances.

Os pesquisadores analisaram dados de 18.500 adultos acima dos 50 anos, acompanhados entre 2010 e 2020 no The Health and Retirement Study (HRS). Nenhum dos participantes tinha diagnóstico de demência no início do estudo. Para identificar a presença ou a suspeita de apneia, foram utilizados relatos dos próprios participantes e um questionário específico.

Ao longo do acompanhamento, os pesquisadores notaram que pessoas com apneia apresentaram um risco aumentado de declínio cognitivo. Embora o distúrbio seja mais comum entre os homens, as mulheres diagnosticadas com apneia do sono mostraram-se duas vezes mais propensas a desenvolver perda de memória e outras dificuldades cognitivas.

A neurologista e especialista em sono Maíra Honorato, do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que a pesquisa reforça a ligação entre a apneia do sono e o desenvolvimento da demência. “Esse impacto já foi comprovado tanto por testes objetivos de desempenho cognitivo quanto por biomarcadores relacionados à doença de Alzheimer”, afirma.

Como a apneia do sono afeta o cérebro

A privação do sono, um dos principais efeitos da apneia, está associada ao declínio cognitivo e ao aumento do risco de Alzheimer. Além disso, pode contribuir para o acúmulo das proteínas TAU e beta-amiloide, substâncias ligadas à progressão da doença, mesmo em pessoas que ainda não apresentam sintomas de perda de memória.

A apneia do sono provoca um estado de inflamação crônica no organismo, afetando a função das células responsáveis por proteger o cérebro. Também pode prejudicar a eliminação da beta-amiloide e estimular a produção de substâncias inflamatórias que reduzem o volume cerebral.

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Entre as mulheres, o impacto da apneia na saúde mental é ainda mais evidente, pois a condição está associada a pior qualidade de vida, fadiga, ansiedade e depressão. “O estudo destaca um fator de risco para demência que pode ser prevenido, mas que ainda recebe pouca atenção”, pontua Honorato. Por isso, diagnosticar e tratar a apneia precocemente é essencial para evitar consequências futuras.

Diagnóstico e tratamento

Os sintomas da apneia do sono podem se manifestar tanto à noite quanto durante o dia. O mais comum é o ronco acompanhado de despertares frequentes. Durante o dia, a sonolência excessiva, o cansaço e a fadiga podem indicar a presença do distúrbio.

O diagnóstico é feito por meio da polissonografia, um exame que monitora diferentes parâmetros do sono. O tratamento depende da gravidade do caso e pode incluir o uso do CPAP, aparelho que mantém a passagem de ar desobstruída durante o sono, dispositivos intraorais para reposicionar a mandíbula ou, em alguns casos, cirurgias corretivas.

Diante dos riscos associados à apneia, buscar diagnóstico e tratamento é essencial para preservar a saúde cerebral e a qualidade de vida no longo prazo.

*Informaçōes da Agência Einstein

* Sob supervisão de Lucas Borges

Izabella Gomes é estagiária na Itatiaia, atuando no setor de Jornalismo Digital, com foco na editoria de Cidades. Atualmente, é graduanda em Jornalismo pela PUC Minas