Com certeza você já ouviu falar sobre os riscos que o vício no uso das redes sociais pode causar à saúde. Recentemente, uma ‘nova condição’ começou a se popularizar no meio digital, o ‘Brainrot’. Traduzido como ‘podridão cerebral’, refere ao consumo excessivo de conteúdos fúteis na internet.
Embora tenha viralizado agora pela próprias redes sociais, o termo surgiu em 2007. O brainrot foi usado como uma ‘gíria’ para descrever conteúdo que tem pouco ou nenhum valor artístico, educacional ou substantivo, como tendo um impacto negativo no espectador e, portanto, levando à degradação e ‘podridão’ de seu cérebro.
‘Não é um distúrbio mental, mas pode ser sintoma de algum transtorno mental, como depressão, ansiedade e outras alterações. Há uma maior evidência destas alterações comportamentais porque o uso da internet e mídias sociais tem aumentado e ainda é difícil o acesso à informação de qualidade, as pessoas gastam muitas horas diariamente sem destino neste acesso facilitado que a vida online trouxe nas últimas décadas’, explica Helian Nunes de Oliveira, psiquiatra, professor e pesquisador do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG.
Apesar da condição ser facilmente entendida pela tradução, muitas pessoas que tem ‘brainrot’ não conseguem evitar. ‘Curiosamente, mesmo que as pessoas tenham consciência da deterioração cerebral, não conseguem fugir dela, podem estar buscando uma anestesia para algo que já não está indo bem’, afirma o professor.
‘Podridão mental’
No meio digital há muita informação de qualidade e de fácil acesso, porém também há muita desinformação e conteúdos fúteis, o que segundo o pesquisador é um dos principais ‘males’ da internet.
‘Os conteúdos na internet não geram lucro pela qualidade da produção ofertada, mas pela quantidade dos acessos e propaganda ou venda de produtos ou serviços. O maior problema é o excesso de tempo de exposição, a vida precisa de diversidade e experiências que desafiem e possam trazer oportunidades de crescimento e amadurecimento enquanto indivíduos e coletivamente. Não há passado, presente ou futuro numa monotonia de estímulos de baixa qualidade’, pontua Helian.
O aumento em popularidade está relacionado ao crescente reconhecimento de um transtorno que pesquisadores do Hospital Infantil de Boston chamaram de Uso Problemático de Mídia Interativa. Os estudos são guiados por Michael Rich, um pediatra que fundou o Digital Wellness Lab no hospital.
Para o Dr. Rich e os especialistas de Boston, a ‘podridão cerebral’ não é tanto um vício na internet, mas sim um mecanismo de enfrentamento para pessoas que podem ter outros distúrbios subjacentes que podem levá-las a se anestesiar com rolagem sem sentido ou sessões de jogo muito longas.
Avaliação, prevenção e tratamento
De acordo com o psiquiatra Helian Nunes, boa parte das pessoas conseguem perceber os excessos, mas pode ser necessário fazer uma avaliação com profissional da saúde ou até uma avaliação psiquiátrica, especialmente quando existem outras comorbidades ou sofrimento mental. 'É fundamental não se acomodar ao ímpeto de fuga da realidade, que as mídias sociais facilitam demais. A realidade precisa ser enfrentada, mas pode ser necessário uma ajuda profissional’, explica.
As pessoas que apresentam indícios de ‘brainrot’ devem buscar ajuda, principalmente quando existem sintomas de ansiedade ou depressão, como prejuízo na produtividade, nos estudos, trabalho ou relacionamentos, além de sentimentos de tristeza, alterações do sono, desânimo e pensamentos mais negativos.
Uma boa notícia: é possível prevenir a condição, mantendo a qualidade de vida e promovendo a saúde. Para isso, recomenda-se desde manter relacionamentos afetivos, amizades e boa convivência, até a boa alimentação, uma boa noite de sono, atividade física (especialmente ao ar livre) e a busca de aprender coisas novas, evitando o consumo de substâncias psicoativas (bebidas alcoólicas, cigarros e outras drogas), restringindo o tempo de uso de determinadas mídias de baixa qualidade e contribuindo para ambiente mais colaborativos.
‘A diversidade de experiências positivas é muito importante, a monotonia da internet e mídias sociais não deve ser a principal atividade na vida das pessoas. Vale a pena buscar ajuda com parentes, amigos ou profissionais da saúde, quando não conseguir sozinho mudar os hábitos’, ressalta o professor.