Ouvindo...

O impacto da estética digital nos padrões de beleza fora das telas

Vivemos um tempo em que o espelho deixou de ser o único lugar onde vemos a nossa imagem.

O impacto da estética digital nos padrões de beleza fora das telas

Hoje, antes de qualquer reflexo, somos atravessados por filtros, algoritmos e edições que moldam a forma como nos vemos e também de como acreditamos que deveríamos ser. A estética digital, construída pixel por pixel, não fica contida no mundo online: ela transborda, redefine padrões e reescreve o que consideramos belo fora das telas.

Estudo publicado no Jornal Brasileiro de Psiquiatria, mostra que a exposição contínua a imagens idealizadas nas redes sociais está diretamente ligada à insatisfação com a própria imagem corporal. O que era perfil de referência se torna espelho: as curvas, o tom de pele, o contorno facial que vimos no Instagram passam a servir como padrão. Esse fenômeno foi chamado de “dismorfia do Snapchat”. Nesse processo, a lógica se inverte, o rosto natural passa a parecer “errado”, e o artificial se torna parâmetro. A estética digital deixa de ser brincadeira e se transforma em expectativa. Como consequência, pessoas procuram procedimentos estéticos para se aproximar das versões filtradas de si mesmas que veem nas telas.

Influenciadores, likes e a construção do ideal

No ambiente das redes, aparência não é detalhe: é capital simbólico. “ Beleza” e “bom gosto” se convertem em curtidas, visibilidade e validação. Pesquisas apontam que influenciadores moldam padrões de beleza sobretudo entre jovens da Geração Z, que consomem esse conteúdo em ritmo frenético e quase ininterrupto.

Expressões como “pele perfeita” ou “corpo ideal” invadem nosso imaginário, e a repetição constante naturaliza padrões que são inatingíveis. Com isso, o desejo deixa de ser espontâneo e passa a ser guiado, mais pelo que vemos do que pelo que realmente queremos.

Da tela ao corpo: a pressão que adoece

O impacto da estética digital nos padrões de beleza fora das telas

Esse deslocamento estético não é inofensivo. Ele se manifesta no corpo e também na mente. Há evidências de que a pressão estética digital está associada a quadros de ansiedade, depressão e baixa autoestima.

Muitos recorrem a procedimentos invasivos não por desejo, mas por necessidade de pertencimento. E o problema se agrava ao percebermos que essa estética frequentemente reproduz padrões eurocêntricos e excludentes, apagando pluralidades de raça, classe e gênero.

O desafio não está em rejeitar o digital, mas em não permitir que ele dite o que somos. É possível reconfigurar essa relação ao filtrar o conteúdo que consumimos, mostrar imperfeições e experiências reais, enxergar likes como número e não como espelhos, além de falar sobre educação estética desde cedo.

No fim, o impacto da estética digital só se interrompe quando lembramos que o corpo é mais do que imagem, é também presença, experiência, biografia viva. E nenhuma lente consegue traduzir isso por completo.

Leia também:
O marketing da escassez: por que desejamos o que é limitado e exclusivo
Como a geração Z redefine o consumo de moda e cultura
Escute bem: você não é substituível

Leia também

Profissional de Comunicação. Head de Marketing da Metalvest. Editor do Jornal Lagoa News. Líder da Agência de Notícias da Abrasel. Ex-atleta profissional de skate. Escreve sobre estilo de vida todos os dias na Itatiaia e na CNN Brasil.