Ouvindo...

O marketing da escassez: por que desejamos o que é limitado e exclusivo

Há um fascínio antigo pelo que está prestes a acabar. O ingresso “último lote”, a coleção “limitada”, o restaurante que “só atende com reserva”.

O marketing da escassez: por que desejamos o que é limitado e exclusivo

O simples anúncio de que algo é raro desperta em nós um instinto quase primitivo, o medo de perder o que talvez nunca tenhamos de fato desejado.

Robert Cialdini, em As Armas da Persuasão, chama isso de princípio da escassez: quanto menor a disponibilidade de algo, maior o valor que atribuímos a ele. O autor explica que esse comportamento se apoia em dois pilares. Primeiro, porque associamos dificuldade de acesso à qualidade. Se é raro, deve ser bom. Segundo, porque toda limitação desperta a sensação de perda de liberdade, e a reação natural é tentar recuperá-la a qualquer custo.

O poder invisível da escassez sobre nossos desejos

O curioso é que o objeto escasso nem sempre é melhor, apenas parece ser. Em um experimento clássico, Cialdini relata que biscoitos idênticos eram avaliados como mais saborosos quando oferecidos em potes quase vazios. A experiência mostra que o prazer não está em saborear, mas em possuir aquilo que poucos podem ter. A escassez, nesse sentido, funciona como um espelho do desejo humano: o valor não está na utilidade, mas na sensação de privilégio.

O marketing moderno aprendeu rápido essa lição. “Últimas unidades”, “vagas limitadas”, “só hoje”, expressões que disparam a reatância psicológica, termo usado por Cialdini para descrever o impulso que sentimos quando uma liberdade nos é retirada. Queremos o produto não apenas pelo que ele é, mas pelo que ele representa: uma vitória contra a ausência, um controle temporário sobre o inevitável fim.

Leia também:
Como a geração Z redefine o consumo de moda e cultura
O que é a mentalidade de abundância
Comunidade orgânica: marcas transformam o WhatsApp em ferramenta estratégica

Na prática, é um jogo entre emoção e escassez. Quanto mais percebemos competição outros desejando o mesmo objeto, mais o desejo cresce. As liquidações lotadas, os lançamentos disputados, as filas na porta de um show: todos funcionam como encenações do mesmo instinto. O medo de perder supera o prazer de conquistar.

Talvez o que nos seduza não seja o objeto, mas o intervalo que antecede a perda, aquele instante em que ainda podemos escolher. O marketing apenas traduziu em campanhas o que a psicologia já sabia: quando algo se torna raro, é o desejo, não o produto, que passa a valer mais.

No fundo, é sobre tempo. Tudo o que é limitado, um amor, um pôr do sol, um bilhete de embarque, nos lembra que o valor das coisas está em sua finitude. E é justamente por isso que, diante do que é escasso, continuamos querendo, não porque precisamos, mas porque tememos não poder mais querer.

Leia também

Profissional de Comunicação. Head de Marketing da Metalvest. Editor do Jornal Lagoa News. Líder da Agência de Notícias da Abrasel. Ex-atleta profissional de skate. Escreve sobre estilo de vida todos os dias na Itatiaia e na CNN Brasil.