Entre o real e o editado: quando o feed se torna espelho da autoestima

Quando foi que o feed começou a ter mais peso do que o espelho?

Entre o real e o editado: quando o feed se torna espelho da autoestima

Primeiramente, nunca tivemos tantas versões de nós mesmos. Uma no espelho do banheiro, outra na câmera frontal e várias nos filtros do Instagram. Algumas com a pele mais lisa, outras mais luminosas, mas quase todas distantes do reflexo cru que encontramos ao acordar.

No meio disso tudo, surge uma pergunta um tanto quanto incômoda: quando foi que o feed começou a ter mais peso do que o espelho?

O feed como nova régua de valor

Fato é que a relação entre redes sociais e autoestima não é nada superficial. Um estudo publicado na Psicologia: Teoria e Pesquisa mostra que a exposição contínua a padrões de beleza idealizados pode alterar a percepção do próprio corpo e intensificar sentimentos de inadequação.

Quando a comparação se torna parte da rotina, o feed deixa de ser entretenimento e vira métrica. Assim, cada curtida se transforma em uma espécie de métrica de valor pessoal e cada selfie em termômetro de aceitação.

As redes sociais criam um ambiente em que a autoimagem e a autoestima se tornam dependentes da validação externa. Quanto mais buscamos aprovação no universo digital, mais frágeis nos tornamos diante do espelho real.

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Quando os filtros se tornam o novo padrão

O uso excessivo de filtros vai muito além da estética e de transformar a aparência, ele altera a nossa percepção de nós mesmos. A exposição prolongada a versões editadas do próprio rosto pode reduzir consideravelmente a autoestima, podendo gerar insatisfações até com características naturais.

Uma pesquisa da UFRJ revelou que mulheres que passam mais tempo no Instagram relatam maior desconforto com a própria imagem e são mais propensas a se comparar com padrões inalcançáveis, alimentando um ciclo de insatisfação e baixa autoestima.

A linha tênue entre expressão e dependência

Isso não significa que as redes sociais sejam vilãs. Elas também funcionam como um espaço de expressão, pertencimento e criação de comunidade. O problema começa quando passamos a preferir a versão editada de nós mesmos e começamos a nos comparar com um reflexo que nunca existiu.

A autoestima , então, deixa de ser uma construção interna e se torna dependente de algoritmos e curtidas.

Para sair desse ciclo, talvez seja preciso resgatar um olhar não mediado: valorizar o corpo que existe fora das telas, cultivar momentos que não precisam ser postados e lembrar que nenhuma métrica digital define o nosso valor.

Entre o real e o editado, a escolha mais importante talvez seja reconectar-se com aquilo que não precisa de filtro: a nossa presença, nossas experiências, nossa identidade fora da performance online.

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Profissional de Comunicação. Head de Marketing da Metalvest. Líder da Agência de Notícias da Abrasel. Ex-atleta profissional de skate. Escreve sobre estilo de vida todos os dias na Itatiaia e na CNN Brasil.

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