Ouvindo...

A estética do corpo real: empoderamento ou novo padrão a seguir?

A ideia de “corpo real”, com curvas naturais, estrias, celulites, pelos e marcas, ganhou força nos últimos anos e passou a ocupar espaço no discurso social e nas redes.

A estética do corpo real: empoderamento ou novo padrão a seguir?

Mostrar o que antes era escondido se transformou em ato de resistência ao padrão estético hegemônico.
Mas será que essa estética representa, de fato, empoderamento? Ou está se tornando apenas mais um padrão a ser seguido?

Visibilidade como ferramenta de resistência

A internet abriu espaço para que grupos historicamente excluídos, mulheres negras, corpos gordos, pessoas com deficiência, criassem suas próprias narrativas visuais.

Segundo Lemos, Favareto e Imbrizi em O discurso de beleza de digital influencers: empoderamento ou opressão?, essa visibilidade tem um potencial subversivo ao desafiar modelos impostos e ampliar a diversidade estética.

No entanto, o estudo alerta para uma armadilha: o que é considerado “autêntico” nas redes muitas vezes é moldado pelo que o algoritmo privilegia, e não necessariamente pelo que o corpo é em sua essência. Assim, o discurso do corpo real também pode se tornar um filtro invisível.

Da crítica ao padrão à criação de um novo

Durante décadas, a mídia veiculou padrões rígidos de beleza: corpos magros, pele lisa, traços eurocêntricos. Esses ideais influenciaram diretamente a forma como as pessoas percebem a própria imagem.

Hoje, parte desse discurso se desloca sob o rótulo de “beleza do corpo real”, mas nem sempre se liberta dele. Ao invés de promover pluralidade, o movimento pode reforçar uma nova estética dominante: seja natural, mas dentro de certos limites. O real também pode ser cuidadosamente editado, iluminado e postado, e ainda assim permanecer dentro de um padrão.

Celebridades como vetores simbólicos da estética do corpo real

No Brasil, figuras públicas desempenham um papel importante nessa mudança. O movimento Corpo Livre ganhou visibilidade quando artistas como Preta Gil e Iza passaram a exibir seus corpos naturais e desafiar abertamente os padrões de beleza tradicionais.

Elas não são “modelos do real”, são presenças reais que desafiam normas visuais institucionais. Mas o risco é que o “corpo real” se torne nova forma de norma: quem não aderir (por insegurança, condição física, escolha estética) se sente fora do movimento.

Leia também:
Sad girl aesthetic: como a vulnerabilidade virou tendência da geração Z
Por que o real tem mais apelo na geração Z
Conteúdo “quase sem edição”: a busca da geração Z por autenticidade

Empoderamento que liberta ou padrão em disfarce?

A estética do corpo real: empoderamento ou novo padrão a seguir?

Então: empoderamento ou novo padrão? Pode ser os dois.

A estética do corpo real é empoderadora quando:

  • valoriza singularidades em vez de impor conformidade visual;
  • respeita a escolha individual de se mostrar ou não;
  • acolhe diferentes corpos e narrativas;
  • evita transformar “autenticidade” em obrigação.

Mas ela se transforma em novo padrão quando:

  • exige exposição constante;
  • silencia quem não se encaixa nesse discurso;
  • cria novas formas de julgamento estético;
  • mantém invisíveis corpos ainda marginalizados.

Rumo a um olhar mais livre e plural

Para que o corpo real continue sendo um território de empoderamento, e não de cobrança, é necessário reposicionar o olhar: o corpo deve ser entendido como experiência viva, não como produto visual.

Se o “real” vira norma, ele deixa de libertar. O corpo é, antes de tudo, presença que sente, habita e se transforma. E é nessa dimensão que a verdadeira liberdade estética pode nascer.

Leia também

Profissional de Comunicação. Head de Marketing da Metalvest. Editor do Jornal Lagoa News. Líder da Agência de Notícias da Abrasel. Ex-atleta profissional de skate. Escreve sobre estilo de vida todos os dias na Itatiaia e na CNN Brasil.