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Tarifaço: Setor produtivo respira com isenções, mas pede ações para minimizar crise

Entidades avaliam que isenções reduziram o impacto do tarifaço dos EUA, mas cobram medidas do governo para proteger empregos, manter exportações e reforçar o diálogo com a Casa Branca.

Apesar de passar ileso no ‘tarifaço’, setor de alumínio está preocupado com os efeitos na cadeia produtiva

O cenário de terra arrasada na economia brasileira, previsto após o anúncio do ‘tarifaço’ imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, acabou não se concretizando, apesar do cenário ainda incerto. Mas, em meio à tensão comercial que ainda paira, entidades que representam o setor produtivo nacional, como da indústria e do agronegócio, encontraram algum fôlego nas exceções anunciadas - e agora miram na diplomacia para evitar que a crise vire uma tempestade. Oficialmente, as novas tarifas passam a valer no dia 6 de agosto.

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Segundo a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), cerca de 43% das exportações brasileiras aos EUA foram poupadas da sobretaxa de 50% anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, contra o Brasil. Estão na lista de exceções produtos como aeronaves civis, combustíveis, suco de laranja, celulose, fertilizantes e motores industriais. Somente os derivados de petróleo, por exemplo, representaram US$ 8,5 bilhões em exportações no ano passado, conforme a Amcham.

“Ainda há um impacto expressivo sobre setores estratégicos da economia brasileira. Produtos que ficaram de fora da lista continuam sujeitos ao aumento tarifário, o que compromete a competitividade de empresas brasileiras e, potencialmente, cadeias globais de valor”, alertou a Amcham, em nota divulgada após o anúncio do tarifaço.

Indústria e agro pressionam por ação rápida

A confirmação da sobretaxa aos produtos brasileiro foi considerada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) um “ataque direto à competitividade brasileira”. Ainda em uma cenário de instabilidade, a entidade recomendou cautela ao governo. “Seguimos defendendo a negociação como forma de convencer o governo americano que essa medida é uma relação de perde-perde para os dois países”, afirmou o presidente da entidade, Ricardo Alban.

A CNI entregou ao Executivo uma lista com oito propostas emergenciais, como linhas de crédito específicas, desoneração temporária de tributos e ampliação do Reintegra - programa do governo que desonera exportações, permitindo que empresas recuperem parte dos impostos pagos na produção de bens destinados ao mercado externo.

No agronegócio, o impacto é mais pesado sobre as carnes e o café. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) alertou que, com a tarifa sobre a carne bovina ultrapassando 76%, as exportações ao mercado norte-americano correm sério risco de inviabilidade. “Estamos dialogando com importadores e o governo brasileiro para manter esse fluxo, especialmente diante da escassez de carne nos EUA, que enfrentam o menor ciclo pecuário dos últimos 80 anos”, pontuou a entidade.

Já o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) tenta reverter a taxação do grão, lembrando que um terço do café consumido nos Estados Unidos vem do Brasil. “A medida vai pressionar os preços e gerar inflação. Quem vai pagar a conta é o consumidor americano”, disse a associação.

Alerta para os efeitos em cadeia

A Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) também se manifestou. Apesar da exclusão do alumínio da nova tarifa comercial, a entidade alertou para riscos sistêmicos. Segundo a ABAL, a cadeia de suprimentos do alumínio é altamente integrada entre Brasil, EUA e Canadá, e qualquer distorção tarifária pode romper essa engrenagem. O resultado, segundo a entidade, seria a escassez de insumos e ameaça a competitividade da indústria - além do estimulo a uma disputa global por sucata, insumo considerado estratégico para a transição energética.

Reação brasileira

Diante dos anúncios feitos pela Casa Branca na quarta-feira (30), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divulgou uma nota oficial em que critica a tentativa de Donald Trump de interferir nos assuntos internos do Brasil, numa referência direta à aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, e também à imposição das tarifas comerciais.

O presidente brasileiro deixou claro que o governo deve apresentar um pacote de medidas de proteção a empregos nos setores mais afetados pelo tarifaço, mas também alertou que não deve abaixar a cabeça nas negociações ao atender as demandas políticas de Trump - que é crítico das decisões de Moraes contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de estado.

O Planalto aposta agora na retomada de pontes diplomáticas e na atuação de seus ministérios estratégicos para conter danos e garantir previsibilidade às exportações brasileiras. A CNI, por sua vez, organiza uma missão empresarial aos Estados Unidos, com o objetivo de sensibilizar empresas americanas e autoridades sobre os impactos do tarifaço, sem interferir nas negociações governamentais.

Supervisor da Rádio Itatiaia em Brasília, atua na cobertura política dos Três Poderes. Mineiro formado pela PUC Minas, já teve passagens como repórter e apresentador por Rádio BandNews FM, Jornal Metro e O Tempo. Vencedor dos prêmios CDL de Jornalismo em 2021 e Amagis 2022 na categoria rádio