O cenário de terra arrasada na economia brasileira,
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Segundo a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil),
“Ainda há um impacto expressivo sobre setores estratégicos da economia brasileira. Produtos que ficaram de fora da lista continuam sujeitos ao aumento tarifário, o que compromete a competitividade de empresas brasileiras e, potencialmente, cadeias globais de valor”, alertou a Amcham, em nota divulgada após o anúncio do tarifaço.
Indústria e agro pressionam por ação rápida
A confirmação da sobretaxa aos produtos brasileiro foi considerada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) um “ataque direto à competitividade brasileira”. Ainda em uma cenário de instabilidade, a entidade recomendou cautela ao governo. “Seguimos defendendo a negociação como forma de convencer o governo americano que essa medida é uma relação de perde-perde para os dois países”, afirmou o presidente da entidade, Ricardo Alban.
A CNI entregou ao Executivo uma lista com oito propostas emergenciais, como linhas de crédito específicas, desoneração temporária de tributos e ampliação do Reintegra - programa do governo que desonera exportações, permitindo que empresas recuperem parte dos impostos pagos na produção de bens destinados ao mercado externo.
No agronegócio, o impacto é mais pesado sobre as carnes e o café. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) alertou que, com a tarifa sobre a carne bovina ultrapassando 76%, as exportações ao mercado norte-americano correm sério risco de inviabilidade. “Estamos dialogando com importadores e o governo brasileiro para manter esse fluxo, especialmente diante da escassez de carne nos EUA, que enfrentam o menor ciclo pecuário dos últimos 80 anos”, pontuou a entidade.
Já o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) tenta reverter a taxação do grão, lembrando que um terço do café consumido nos Estados Unidos vem do Brasil. “A medida vai pressionar os preços e gerar inflação. Quem vai pagar a conta é o consumidor americano”, disse a associação.
Alerta para os efeitos em cadeia
A Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) também se manifestou. Apesar da exclusão do alumínio da nova tarifa comercial, a entidade alertou para riscos sistêmicos. Segundo a ABAL, a cadeia de suprimentos do alumínio é altamente integrada entre Brasil, EUA e Canadá, e qualquer distorção tarifária pode romper essa engrenagem. O resultado, segundo a entidade, seria a escassez de insumos e ameaça a competitividade da indústria - além do estimulo a uma disputa global por sucata, insumo considerado estratégico para a transição energética.
Reação brasileira
Diante dos anúncios feitos pela Casa Branca na quarta-feira (30), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divulgou uma nota oficial em que critica a tentativa de Donald Trump de interferir nos assuntos internos do Brasil, numa referência direta à aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, e também à imposição das tarifas comerciais.
O presidente brasileiro deixou claro que o governo deve apresentar um pacote de medidas de proteção a empregos nos setores mais afetados pelo tarifaço, mas também alertou que não deve abaixar a cabeça nas negociações ao atender as demandas políticas de Trump - que é crítico das decisões de Moraes contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de estado.
O Planalto aposta agora na retomada de pontes diplomáticas e na atuação de seus ministérios estratégicos para conter danos e garantir previsibilidade às exportações brasileiras. A CNI, por sua vez, organiza uma missão empresarial aos Estados Unidos, com o objetivo de sensibilizar empresas americanas e autoridades sobre os impactos do tarifaço, sem interferir nas negociações governamentais.