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Lei de Cotas 34 anos; pesquisa mostra perfil de pessoas com deficiência no mercado de trabalho

Levantamento aponta que sete em cada dez pessoas já relataram algum tipo de preconceito no mercado de trabalho relacionado à deficiência

Mercado de Trabalho passa por mudanças profundas

A Lei de Cotas (Lei nº 8.213/1991) completa 34 anos nesta quinta-feira (24). A norma determina que empresas com 100 ou mais funcionários devem reservar de 2% a 5% de suas vagas para pessoas com deficiência.

Após mais de três décadas, a lei continua sendo a principal via de ingresso formal desse grupo no mercado de trabalho.

A percepção sobre a importância da legislação foi medida pela pesquisa Radar da Inclusão: mapeando a empregabilidade de Pessoas com Deficiência, feita com 1.230 pessoas com deficiência ou neurodivergência, com 18 anos ou mais. Segundo o levantamento, 95% dos entrevistados consideram que a Lei de Cotas é fundamental e deve continuar existindo.

A pesquisa aponta também que 73% dos respondentes relataram já ter sofrido algum tipo de preconceito no trabalho relacionado à deficiência. Entre os entrevistados, 42% disseram ter sido contratados exclusivamente para o cumprimento da cota legal, sem atribuições compatíveis com suas competências ou perspectivas de desenvolvimento profissional.

Outros dados revelam que 30% dos participantes se sentem invisíveis no ambiente corporativo e 38% disseram que as empresas onde trabalham ou trabalharam não promovem ações de inclusão.

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Mais dados da pesquisa:

Percepção e Impacto no Mercado de Trabalho

  • Prejuízo na Carreira: 8 em cada 10 pessoas com deficiência e/ou neurodivergentes (80%) já se sentiram prejudicadas no mercado de trabalho por essa condição.
  • Impacto na Empregabilidade: Há uma percepção majoritária de que ser pessoa com deficiência e/ou neurodivergente impacta negativamente na empregabilidade.
    • Para 60% dos respondentes, o fato de ser PcD ou neurodivergente impacta negativamente nas chances de ter um bom trabalho.
  • Entre os ocupados, a percepção foi: Muito positivo (11%), Um pouco positivo (13%), Indiferente (11%), Um pouco negativo (11%), Muito negativo (18%).
  • Impacto na Execução do Trabalho: A condição de PcD ou neurodivergente não impacta negativamente na execução do trabalho.
    • Para 76% dos respondentes, o fato de ser PcD ou neurodivergente não impacta ou impacta positivamente na capacidade de executar o trabalho.

▪ Entre os ocupados, a percepção foi: Muito positivo (52%), Um pouco positivo (20%), Indiferente (27%), Um pouco negativo (4%), Muito negativo (33%).

Situações de Capacitismo Vivenciadas no Trabalho

  • Frequência: 9 em cada 10 pessoas (90%) já passaram por uma das situações de capacitismo listadas no trabalho.
  • Situações mais comuns (no ambiente de trabalho):
    • Ouvir comentários capacitistas: 75%.
    • Sofrer preconceito, discriminação ou capacitismo de um(a) superior: 64%.
    • Sofrer preconceito, discriminação ou capacitismo de colegas de equipe: 62%.
    • Sofrer preconceito, discriminação ou capacitismo de um(a) funcionário(a) de outra área: 54%.
    • Deixar de ser promovido(a): 49%.
    • Ser desqualificado(a): 51%.
    • Sofrer preconceito, discriminação ou capacitismo de um(a) cliente, fornecedor e/ou parceiros: 34%.

Relato de Capacitismo às Empresas

  • Ocorrência em Empresas: 84% dos respondentes que vivenciaram uma situação de capacitismo trabalhavam para uma empresa quando isso ocorreu.
  • Relato à Empresa: Desses que vivenciaram capacitismo enquanto trabalhavam para uma empresa, apenas 35% relataram a situação à empresa.
    • 65% não relataram à empresa.
  • Sentimento ao Relatar (entre os que relataram):
    • Se sentiram totalmente respeitados(as)/acolhidos(as): 18%.
    • Se sentiram parcialmente respeitados(as)/acolhidos(as): 42%.
    • Não se sentiram respeitados(as)/acolhidos(as): 40%.
    • Em resumo: 4 em cada 10 que relataram não se sentiram acolhidos(as).
  • Motivos para Não Relatar (entre os que não relataram):
    • Medo de ser demitido(a) ou sofrer retaliação: 38%.
    • Pensar que não ia dar em nada: 29%.
    • Achar que não fosse necessário: 12%.
    • Por vergonha: 10%.
    • Outros motivos: 11%.
    • Principais motivos: medo de demissão/retaliação e de que não tivesse resultados.

Lei de cotas

A Lei de Cotas foi criada em 1991 e regulamentada em 1999. Ela estabelece percentuais obrigatórios de contratação de pessoas com deficiência, variando de acordo com o número total de empregados de cada empresa. A legislação já foi alvo de tentativas de alteração ou flexibilização em diferentes momentos.

Graduado em jornalismo e pós graduado em Ciência Política. Foi produtor e chefe de redação na Alvorada FM, além de repórter, âncora e apresentador na Bandnews FM. Finalista dos prêmios de jornalismo CDL e Sebrae.