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Diretor da PF reage a ameaça de Eduardo Bolsonaro: ‘Nenhum investigado vai nos intimidar’

Deputado federal citou delegado da PF em tom de ameaça durante transmissão ao vivo

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O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, rebateu uma ameaça feita pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) a integrantes da corporação durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais, no último domingo. Na live, transmitida dos Estados Unidos, o deputado federal licenciado citou diretamente o delegado Fábio Alvarez Shor, responsável por investigações que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), e em tom agressivo, afirmou que ‘vai se mexer’ se souber quem o está investigando.

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“Você é medíocre com a caneta na mão. Aproveita aí, coloca isso no inquérito. Vá lá, coleguinha da Polícia Federal. Cachorrinho da Polícia Federal que tava assistindo. Deixa eu saber não, irmão. Se eu ficar sabendo quem é você... ah, eu vou me mexer aqui. Pergunta ao tal do delegado Fábio Shor se ele conhece a gente”, disse o deputado.

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A reação da cúpula da PF foi imediata. Andrei Rodrigues disse ter recebido com “indignação” as declarações, que classificou como uma “covarde tentativa de intimidação” aos servidores, disse ao G1. A corporação também reforçou que ameaças contra agentes públicos no exercício de suas funções são graves e podem ser alvos de novas investigações criminais.

Essa não é a primeira vez que Eduardo ataca o delegado. Em março deste ano, a Polícia Federal abriu um processo administrativo disciplinar (PAD) contra o deputado - que é escrivão licenciado da própria PF - após críticas semelhantes feitas a Shor.

Pelo que Eduardo é investigado?

Eduardo Bolsonaro é alvo de uma investigação aberta pela Procuradoria-Geral da República (PGR) que apura se o deputado cometeu os crimes de obstrução de Justiça, coação no curso do processo e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. A suspeita é de que ele tenha atuado, mesmo estando fora do país, para interferir em apurações que envolvem seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, e aliados, com declarações públicas que questionam a legitimidade do Supremo Tribunal Federal e alimentam teorias golpistas.

Além das investigações em andamento, Eduardo Bolsonaro também tem sido apontado como um dos nomes por trás do cancelamento dos vistos americanos de ministros do STF e do chamado “tarifaço de Trump”. A medida, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, impõe uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros, com início previsto para 1º de agosto.

Embora ainda haja espaço para negociação diplomática, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, incluindo Eduardo, têm usado o episódio para reforçar o discurso de que o atual governo brasileiro estaria enfraquecendo relações com países estratégicos ao dar seguimento ao julgamento de Bolsonaro por uma suposta tentativa de golpe de estado.

O caso é citado pelo próprio Donald Trump na carta endereçada ao Brasil para a comunicar sobre a tarifas. Trump classificou a investigação como uma ‘caça às bruxas’.

Ainda deputado

Além dos ataques à Polícia Federal, Eduardo também falou, durante a live, sobre sua situação na Câmara. A licença de 120 dias, iniciada em março, chegou ao fim neste domingo. O parlamentar afirmou que não pretende renunciar e que, segundo suas palavras, ainda conseguirá “levar o mandato por mais três meses”.

“Não vou fazer nenhum tipo de renúncia. Se eu quiser, consigo levar meu mandato, pelo menos, pelos próximos três meses”, declarou.

O deputado se licenciou uma semana antes de o STF tornar Jair Bolsonaro réu por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

Durante o período de afastamento, Eduardo também teve duas outras ausências justificadas por “tratamento de saúde”. Com o fim da licença, caso não renuncie, ele volta a receber automaticamente o salário de deputado. No entanto, se não comparecer às sessões e não justificar as faltas, elas começarão a ser contabilizadas.

Supervisor da Rádio Itatiaia em Brasília, atua na cobertura política dos Três Poderes. Mineiro formado pela PUC Minas, já teve passagens como repórter e apresentador por Rádio BandNews FM, Jornal Metro e O Tempo. Vencedor dos prêmios CDL de Jornalismo em 2021 e Amagis 2022 na categoria rádio