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Com críticas aos Brics, Zema usa política externa para politizar e se projetar para 2026

O chefe do Palácio Tiradentes tem mantido críticas contra o Brics, agremiação econômica formada por Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), tem usado sua oposição à política externa brasileira como forma de politizar o tema e se projetar como candidato à Presidência da República em 2026, segundo especialistas ouvidos pela Itatiaia.

O chefe do Palácio Tiradentes tem mantido críticas contra o Brics, agremiação econômica formada por Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul. Zema defendeu nesta segunda-feira (4), mais uma vez, que o Brasil deveria sair do bloco. Nas redes sociais, criticou a ideia do governo brasileiro de incentivar a negociação de uma moeda alternativa ao dólar, chamando de “ideia de jerico”.

Na última quinta-feira, ele já havia escrito um artigo na Folha de São Paulo, dizendo que o Brasil deveria sair do Brics, e classificou o bloco como “ideológico”, “recheado de ditaduras” e sem nenhuma relação cultural com o Brasil. De acordo com o cientista político Lucas Gelape, a posição de Romeu Zema é uma estratégia para tentar se contrapor ao governo federal, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao Partido dos Trabalhadores com vistas ao projeto nacional de ser candidato a presidente no ano que vem.

“O governador Romeu Zema, entre as alternativas à direita, é um dos que vem pontuando mais abaixo, considerando as alternativas dos familiares desse presidente Bolsonaro, ao governador Tarcísio de Freitas, ao governador Ratinho Júnior e ao governador Ronaldo Caiado. O Romeu Zema é dos que estão mais atrás. Então, ele tem tentado cada vez mais investir nessa estratégia de se colocar contra o governo numa posição bem fortemente antipetista e pró-posições do ex-presidente Bolsonaro. Então essa é uma estratégia que para mim tem essa visão bem específica”, destaca o pesquisador.

“Ele pode tentar justificá-la de outras formas, apresentar algumas justificativas econômicas ou políticas, mas o que tá por trás, o grande objetivo é esse. O governador tem pouca voz porque é uma política mais nacional, mas o que está por trás é uma disputa interna”, completa. “A gente viu isso nas eleições mais recentes com críticas a uma eventual venezuelização do Brasil e agora com esse alinhamento bem claro desse grupo mais à direita, da extrema-direita, ao governo atual governo americano, isso vem politizando ainda mais as disputas internas relacionadas a temas de política externa”, acrescenta.

China é um dos maiores mercados de Minas

Criticada pelo governador Romeu Zema, a relação comercial de países brasileiros com os Brics, especialmente a China, maior economia do bloco econômico e segunda maior do mundo, é fundamental para o estado de Minas Gerais. De acordo com dados da Fundação João Pinheiro, 33% das exportações mineiras no último semestre foram direcionadas à China. O país ainda é o principal destino de exportações do café mineiro, superando inclusive os Estados Unidos, com 11% do material sendo destinado à China.

A pesquisadora, professora e Coordenadora de Análise Insumo Produto da Fundação João Pinheiro, Carla Aguilar, detalha os números das relações comerciais entre Brasil e China. “Neste primeiro semestre de 2025, US$ 7,2 bilhões foram de produtos exportados para a China. Isso representou aproximadamente 33% das exportações mineiras. Os principais produtos exportados para a China são minério de ferro, soja, ferro-liga e carnes de animais”, explica.

Com o anúncio das sobretaxas americanas sobre o Brasil, que afeta a exportação de café, a China passou a ser um mercado promissor. Minas Gerais é o maior produtor de café do Brasil.

“A China vem ampliando o seu consumo interno de café e consequentemente as suas compras do Brasil e de Minas Gerais. Esse crescimento em 2024 foi de 500% em relação a 2019, mas o mercado americano é o principal mercado, 19% das exportações de café de Minas Gerais em 2024 foram destinadas para os Estados Unidos, enquanto para a China foi 2,5%. Então tem uma possibilidade do mercado chinês crescer, mas o deixar para os Estados Unidos, ele é significativo. Então, a absorção completa, ela teria uma certa dificuldade, porque o mercado americano também já é um mercado mais consolidado”, destaca.

As exportações mineiras são inclusive maiores para a China, do que para os Estados Unidos. “Minas Gerais exporta mais para a China, e depois o segundo parceiro comercial é os Estados Unidos. Para a China, vão 33,7% das exportações de Minas Gerais, enquanto para os Estados Unidos são 11,5% olhando para este primeiro semestre de 2025, ou seja, as exportações para a China são três vezes maiores do que as exportações para os Estados Unidos.Em termos de valores, nós temos que as exportações para a China foram em torno de US$ 7,2 bilhões, enquanto para os Estados Unidos foi US$ 2,4 bilhões.

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Jornalista graduado pela PUC Minas; atua como apresentador, repórter e produtor na Rádio Itatiaia em Belo Horizonte desde 2019; repórter setorista da Câmara Municipal de Belo Horizonte.