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Na ONU, Lula cobra reforma global, critica guerras e alerta sobre agravamento da crise climática

Seguindo tradição iniciada em 1947, o presidente brasileiro abriu os discursos de chefes de Estado na 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas

O presidente Lula durante discurso na abertura da 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas

Nova York * — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou nesta terça-feira (24) durante a abertura da 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Seguindo tradição iniciada em 1947, o chefe de Estado brasileiro é sempre quem abre a sessão de debates do órgão.

Em seu discurso, Lula defendeu uma reforma da própria ONU, principalmente de seu Conselho de Segurança, criticou as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio e alertou sobre o agravamento da crise climática.

Leia os destaques do discurso:

Palestina

Na abertura do discurso, Lula fez um aceno à Palestina e saudou a presença de uma delegação do Estado.

“Dirijo-me em particular à delegação palestina que integra pela primeira vez essa sessão de abertura, mesmo que ainda na condição de membro observador”, afirmou o chefe de Estado brasileiro, que logo em seguida fez uma saudação nominal ao presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.

Guerras

Na sequência, Lula criticou o crescente número de guerras ao redor do mundo e afirmou que os recursos destinados a estes conflitos poderiam ser melhor utilizados para combater outros problemas, como a fome no mundo e a crise climática.

“Testemunhamos a alarmante escalada de disputas geopolíticas e de rivalidades estratégicas. 2023 ostenta o triste recorde do maior número de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial. Os gastos militares globais cresceram pelo nono ano consecutivo e atingiram 2 trilhões e 400 bilhões de dólares. Mais de 90 bilhões de dólares foram mobilizados com arsenais nucleares. Estes recursos poderiam ter sido utilizados para combater a fome e enfrentar a mudança do clima. O que se vê é o aumento das capacidades bélicas.”, destacou.

O presidente também afirmou que as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio têm o potencial de “se tornarem um confronto generalizado”.

Em relação ao conflito na Europa, Lula afirmou que “está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar” e defendeu a criação de condições para um diálogo direto entre a Rússia e a Ucrânia.

Já sobre a guerra em Gaza, o chefe de Estado brasileiro disse que apesar de o conflito ter começado a partir de um ato terrorista contra civis israelenses, se tornou “uma punição coletiva de todo o povo palestino”.

“São mais de 40 mil vítimas fatais, em sua maioria mulheres e crianças. O direito de defesa transformou-se no direito de vingança que impede um acordo para a liberação de reféns e adia o cessar-fogo”, declarou.

Lula classificou as guerras no Sudão e no Iêmen como “conflitos esquecidos” que causam “sofrimento atroz a quase 30 milhões de pessoas”.

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Mudanças climáticas

Segundo o presidente, apesar da tentativa de “desglobalização” com o acirramento da polarização política, "é impossível ‘desplanetizar’ nossa vida em comum”. Lula destacou que uma resolução para a crise climática é cada vez mais urgente e criticou o não cumprimento de acordos internacionais para enfrentar o problema.

“O planeta já não espera para cobrar da próxima geração e está farto de acordos climáticos que não são cumpridos. Está cansado de metas de redução de emissão de carbono negligenciadas do auxílio financeiro aos países pobres que nunca chegam”, disse.

De acordo com o chefe do Executivo, “o negacionismo sucumbe ante às evidências do aquecimento”. Como exemplo, ele mencionou as enchentes no Rio Grande do Sul, a seca na Amazônia e os incêndios florestais pelo Brasil.

Lula disse que seu governo “não terceiriza a responsabilidade e nem abdica da sua soberania” nesta área e reafirmou o compromisso de zerar o desmantamento na Amazônia até 2030.

"É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis”, declarou.

América Latina, Cuba e Haiti

Lula mencionou que a região vive uma “segunda década perdida”, com crescimento médio de 0,9% desde 2014.

“Esta combinação de baixo crescimento e altos níveis de desigualdade resulta em efeitos nefastos sobre a paisagem política. Tragada por disputas muitas vezes alheias à região, nossa vocação de cooperação e entendimento se fragiliza”, disse.

O presidente também classificou como “injustificado” o embargo econômico a Cuba e defendeu a necessidade de “conjugar ações para restaurar a ordem pública e promover o desenvolvimento” do Haiti.

D

Lula afirmou que a atual versão da Carta da ONU “não trata de alguns dos desafios mais prementes da humanidade”. O presidente destacou que após a fundação da instituição, novos países surgiram e não tiveram seus interesses considerados.

Na sequência, Lula foi aplaudido ao mencionar que, em 78 anos, nenhuma mulher ocupou o cargo de secretário-geral da ONU.

“Estamos chegando ao final do primeiro quarto do século XXI com as Nações Unidas cada vez mais esvaziada e paralisada. É hora de reagir, com vigor, a essa situação, restituindo à Organização as prerrogativas que decorrem da sua condição de fórum universal”, declarou.

Pauta histórica da diplomacia brasileira, o presidente defendeu também a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Ela classificou a ausência de países da América Latina e da África entre os integrantes permanentes do órgão como um “eco inaceitável de práticas de dominação do passado colonial”.

O chefe de Estado brasileiro afirmou que essa pauta precisa ser discutida em fóruns internacionais, como o G20 e os BRICS, mas disse não ter “ilusões” sobre a complexidade da reforma. Segundo ele, a medida “enfrentará interesses cristalizados de manutençõa do status quo” e exigirá “enorme esforço de negociação”.

“Não podemos esperar por outra tragédia mundial, como a Segunda Grande Guerra, para só então construir sobre seus escombros uma nova governança global”, pontuou.

*enviada especial


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Edilene Lopes é jornalista, repórter e colunista de política da Itatiaia e podcaster no “Abrindo o Jogo”. Mestre em ciência política pela UFMG e diplomada em jornalismo digital pelo Centro Tecnológico de Monterrey (México). Na Itatiaia desde 2006, já foi apresentadora e registra no currículo grandes coberturas nacionais, internacionais e exclusivas com autoridades, incluindo vários presidentes da República. Premiada, em 2016 foi eleita, pelo Troféu Mulher Imprensa, a melhor repórter de rádio do Brasil.
Repórter de política em Brasília. Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), chegou na capital federal em 2021. Antes, foi editor-assistente no Poder360 e jornalista freelancer com passagem pela Agência Pública, portal UOL e o site Congresso em Foco.