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Após boa relação em 2023, impasse sobre desoneração da folha opõe Haddad e Pacheco

Patrocinador de projetos importantes para o governo no Congresso, Pacheco agora mostra insatisfação com a postura de Haddad ao não aceitar a proposta que benefícia empresas e municípios

Sem acordo sobre a desoneração, Pacheco cobra de Haddad um agenda econômica que preveja corte de gastos

A relação entre o Governo Lula e o Congresso Nacional, que já não vinha apresentando bons sinais em 2024, tende a piorar após a decisão do Executivo de recorrer ao tapetão para tentar anular o Projeto de Lei (PL) que estendeu até 2027 a desoneração na folha de pagamento para os 17 setores da economia que mais empregam no país, além de municípios com até com até 156 mil habitantes.

O tema colocou em lados opostos o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que estiveram alinhados durante todo o ano de 2023 para aprovar pautas de interesse do governo. Mas a judicialização do tema expôs a divergência de ambos.

Até o momento em que a disputa ainda ocorria na esfera política, Pacheco dizia estar alinhado com Haddad no compromisso da pauta econômica do país. Após a decisão de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar anular o projeto aprovado no Congresso, o que se viu foram críticas do senador com a atuação da equipe econômica do governo.

“Petição que parece muito catastrófica da AGU como se a desoneração da folha fosse o grande mal do país e os municípios brasileiros o grande problema. É preciso então ter uma ampla discussão agora sobre gasto público e corte de gastos por parte do governo federal. Qual a proposta do governo? Além de arrecadar, qual a proposta do governo para equilibrar as contas?”, questionou o senado na última sexta-feira (26), ao anunciar que iria recorrer da decisão de suspender a desoneração no STF.

A preocupação do governo é que o ‘flerte’ de Pacheco com a oposição, que conseguiu apoio em temas como o fim das saídas temporárias de presos e a PEC das Drogas, possa sair da pauta de costumes e invada a agenda econômica, vista até então como uma prioridade dentro do governo.

A principal delas é a regulamentação da reforma tributária, que deve chegar ao Senado no próximo semestre, após aprovação na Câmara dos Deputados. Mesmo já contando com alterações que podem ser feitas no texto, o Ministério da Fazenda pode ver a proposta se desidratar ainda mais nas mãos dos senadores.

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Antes das rusgas públicas entre Pacheco e Haddad, o Congresso e a Fazenda embalaram em 2023 projetos que turbinaram a arrecadação do governo Lula, e que foram aprovados sem qualquer dificuldade.

A parceria começou antes mesmo da posse, com a aprovação da PEC de transição, quando o Congresso viabilizou mais de R$ 145 bilhões, além do então teto de gastos, para custear o novo bolsa família, aumento do salário mínimo e outros investimentos sociais.

Em contrapartida, a PEC previu que o governo enviasse, até agosto de 2023, um projeto para um novo regime fiscal, que substituiria o teto de gastos aprovado pelo governo Temer. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, enviou ainda em abril. O texto tramitou rápido e foi aprovado em agosto.

Além da reforma tributária, que volta a ser discutida em 2024, outras propostas que aumentaram a arrecadação do governo também foram aprovadas, como a taxação de fundos privados dos super-ricos, e das offshores, que são rendimentos vindos de investimentos no exterior.

Haddad também viu o avanço de outras pautas como a volta do voto de qualidade do representante do governo no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), a tributação federal para incentivos fiscais dados pelos estados e municípios; e a regulamentação de sites de apostas online. Agora, o senado cobra o preço que o ministro parece não estar disposto a pagar.


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Supervisor da Rádio Itatiaia em Brasília, atua na cobertura política dos Três Poderes. Mineiro formado pela PUC Minas, já teve passagens como repórter e apresentador por Rádio BandNews FM, Jornal Metro e O Tempo. Vencedor dos prêmios CDL de Jornalismo em 2021 e Amagis 2022 na categoria rádio