De propriedade dos empresários chineses Jianing e Ruotian Chen, a empresa Brasil CRT ganhou holofotes nos últimos dias ao anunciar um investimento de R$ 9 trilhões — praticamente todo o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro —, para construção de um porto de águas profundas e de uma cidade futurística aos moldes de grandes metrópoles como Xangai, na China, e Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Os investimentos foram anunciados, neste mês, para autoridades e empresas do pequeno município de Mataraca, no litoral da Paraíba, que tem menos de 10 mil habitantes.
A Itatiaia apurou que a empresa, que tem um capital social de R$ 800 bilhões, funciona em uma sala do edifício Helbor Offices, que fica na rua Rio Grande do Norte, na Savassi, região Centro-Sul de Belo Horizonte, uma das áreas com o metro quadrado mais caro de Belo Horizonte. Somente o capital social da empresa é quase do tamanho do PIB de Minas Gerais.
A promessa do grupo seria terminar a construção do porto em três anos e, da nova cidade, em cinco anos. Com o mega investimento, os empresários projetam que a população da cidade salte de cerca de 10.000 pessoas para 3 milhões de pessoas.
A reportagem esteve no edifício Helbor Offices, um prédio comercial de 16 andares, na tarde desta terça-feira (26). Com a fachada espelhada, o edifício é compostos por escritórios de empresas de vários segmentos. No hall, uma placa exibe os nomes das empresas que funcionam no prédio, dentre elas escritórios de advocacia e contabilidade, empresas de arquitetura e engenharia, além de clínicas de cirurgia plástica, pediatria, psicologia, psicanálise e odontologia. No letreiro, no entanto, não há nenhuma menção à Brasil CRT Construção de Nova Cidade Ltda.
“A empresa funciona aqui, no 9º andar. Só não está aparecendo aqui no hall”, disse uma funcionária que conversou com a reportagem e pediu para não ser identificada. O número da sala revelado pela trabalhadora condiz com o registro da companhia na Receita Federal.
Preço da sala pode chegar a R$ 1 milhão
O prédio tem salas para venda e aluguel, com tamanhos padronizados de 22 m², 44 m² e 66 m². Consultores imobiliários que atendem a região informaram à Itatiaia que os valores de aluguel dos espaços variam de R$ 2.000 a cerca de R$ 6.000 por mês. Pra comprar uma sala 22 m² no prédio, o interessado terá que desembolsar ao menos R$ 350 mil. O espaço de 44 m² pode custar torno de R$ 650 mil. Já a maior, de 66 m², pode superar R$ 1 milhão.
Os funcionários disseram que os empresários da Brasil CRT são proprietários de uma sala, mas não souberam informar o tamanho do espaço. A empresa funciona no local há quase seis anos e os proprietários já alugaram a sala. No entanto, recentemente, eles voltaram a ocupar a sala e o uso passou a ser mais intenso.
O local é frequentado com mais frequência por três membros da família Chen, os donos: os filhos Ruotian Chen e Yi Chen, além do pai Jianing Chen. No sistema de cadastro de empresas, consta que a Brasil CRT foi registrada em abril de 2011. Jianing e Ruotian comandam a empresa e constam no quadro de sócios-proprietários da companhia.
“Yi e Jen estiveram aqui no prédio na quinta-feira passada. O condomínio mudou o sistema de identificação e eles vieram atualizar a leitura facial”, contou uma funcionária do prédio. No entanto, os funcionários disseram que a família é discreta e normalmente entra pela garagem no prédio e acessa a sala no 9º andar sem passar pela portaria.
“Eles andavam com dois seguranças mais antigamente, mas não sabíamos que eles eram tão ricos”, contou uma funcionária da administração do prédio que ficou impressionada ao saber sobre o investimento da família na região Nordeste.
A funcionária contou que os membros da família Chen costumam entrar em contato com a portaria para liberar a entrada de pessoas para reuniões e para avisar sobre a entrega de mercadorias. As reuniões se tornaram mais frequentes recentemente, segundo disseram os funcionários. Ainda segundo os relatos, eles entendem e falam bem português, sendo que Yi e Ruotian costumam se comunicar mais com os profissionais do prédio.
“Eu nem sabia que essa empresa funcionava aqui no prédio. Nunca vi eles”, disse um advogado que tem escritório no prédio.
“Não conheço eles, mas com esse capital, eu vou procurar saber mais e tentar fechar alguma parceria”, brincou um outro empresário que ficou impressionado com a grandeza da promessa de investimentos do grupo chinês.
Empresa firmou acordo com prefeitura
Para anunciar o mega investimento na Paraíba, o grupo CRT realizou um evento no dia 11 de dezembro. A cerimônia contou com a participação de vereadores e prefeitos de várias cidades, além de representantes do poder Executivo estadual e federal. Na oportunidade, foi assinado um protocolo de intenções.
Após a repercussão do anúncio, o Ministério Público da Paraíba instaurou um procedimento extrajudicial para investigar o projeto e pediu mais detalhes para a Prefeitura Mataraca sobre o acordo assinado. O governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), tinha um encontro agendado com os executivos chineses, mas desmarcou uma reunião no dia seguinte à cerimônia após a repercussão do caso.
Em entrevista concedida à Folha de São Paulo, diretor-executivo, Jianing Chen, negou qualquer tipo de irregularidade e afirmou que, “quando o projeto começar, vocês vão ver quais consórcios de investidores estão envolvidos” e ainda destacou um provérbio: “Grilos de verão não podem falar sobre o gelo, e sapos de poço não podem falar sobre o mar.”